segunda-feira, dezembro 07, 2009

Deslealdade

Assim, elogiando muitas coisas de Homero, esta, porém, não elogiaremos...nem o excerto de Ésquilo, quando Tétis diz que Apolo, cantando em suas núpcias,
"exaltava sua feliz descendência,
de vida isenta de doenças, e de longa duração.
Após ter dito que meu destino era absolutamente caro aos deuses,
entoou o peã, enchendo-me de ânimo.
E eu esperava que não fosse falsa
a boca divina de Febo, de onde jorrava a arte divinatória.
Mas ele, que cantava..............
................foi ele mesmo que matou
meu filho" PLATÃO, POLÍTICA B


Quando casavam Tétis com Peleu,
levantou-se Apolo no magnífico festim
do casamento, e felicitou os recém-casados
pelo rebento que sairia de sua união.
Disse: "Não o tocará, jamais, nenhuma moléstia
e terá uma longa vida." Quando disse isso,
Tétis muito se alegrou, porque as palavras
de Apolo, que era versado em profecias,
lhe pareceram garantia para seu filho.
Enquanto Aquiles crescia e era
sua beleza a glória da Tessália,
Tétis rememorava as palavras do deus.
Mas, um dia, vieram anciãos com notícias,
e contaram a morte de Aquiles em Tróia.
E Tétis rasgava suas vestes de púrpura,
e arrancava de cima de si e lançava
ao chão as pulseiras e os anéis.
E em meio à sua lamentação, lembrou-se do passado;
e perguntou: "Que fazia o sábio Apolo?
Onde andava o poeta que nos festins
magnificamente falava? Onde andava o profeta
quando matavam o filho dela em tenra juventude?"
E os anciãos responderam-lhe que Apolo
em pessoa tinha descido a Tróia
e com os troianos matara Aquiles.

Konstantinos Kaváfis


Tradução: Ísis B. da Fonseca

Fonte: KAVÁFIS,K; FONSECA, I.B.(trad.) Poemas de K.Kaváfis. São Paulo: Odysseus. 2006.

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