domingo, fevereiro 13, 2022

Mário de Andrade - 1922 (Tarsila do Amaral)

 

Quando eu morrer quero ficar,

Não contem aos meus inimigos,

Sepultado em minha cidade,

            Saudade.


Meus pés enterrem na rua Aurora,

No Paiçandu deixem meu sexo,

Na Lopes Chaves a cabeça

               Esqueçam.


No Pátio do Colégio afundem

  O meu coração paulistano:

Um coração vivo e um defunto

            bem juntos.


Escondam no Correio o ouvido

Direito, o esquerdo nos Telégrafos,

  Quero saber da vida alheia,

              Sereia. 


O nariz guardem nos rosais,

A língua no alto do Ipiranga


Para cantar a liberdade.

               Saudade...


Os olhos lá no Jaraguá

Assistirão ao que há-de vir,

O joelho na Universidade,

            Saudade...


As mãos atirem por aí,

Que desvivam como viveram,

As tripas atirem pro Diabo,

Que o espírito será de Deus.

             Adeus.