quinta-feira, agosto 31, 2017

O Infinito, de Leopardi - Cinco traduções

Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Cosi tra questa
Immensita s'annega il pensier mio:
E il naufragar m'è dolce in questo mare.

Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração. E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído. Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.

(Tradução de Vinícius de Moraes)


A mim sempre foi cara esta colina
deserta e a sebe que de tantos lados
exclui o olhar do último horizonte.
Mas sentado e mirando, intermináveis
espaços longe dela e sôbre-humanos
silêncios, e quietude a mais profunda,
eu no pensar me finjo; onde por pouco
não se apavora o coração. E o vento
ouço nas plantas como rufla, e aquêle
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recordo o eterno,
e as mortas estações, e esta presente
e viva, e o seu rumor. É assim que nesta
imensidade afogo o pensamento:
e o meu naufrágio é doce neste mar.

(Tradução de Haroldo de Campos)


Eu sempre amei este deserto monte,
Como esta sebe, que tamanha parte
Do último horizonte oculta à vista.
Sentando e contemplando intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, profundíssima quietude,
No pensamento afundo-me: e por pouco
Não se apavora o coração. A brisa
Sussurra entre essas plantas e eu aquele
Infinito silêncio à voz do vento
Vou comparando: e lembro-me do eterno,
Das mortas estações, e da presente
Que é viva, e o rumor delas. E buscando
A imensidão se afoga meu pensar
E naufragar é doce nesse mar.

(Tradução de Mário Faustino)


Sempre cara me foi esta colina
Erma e esta sebe, que de extensa parte
Dos confins do horizonte o olhar me oculta.
Mas, se me sento a olhar, intermináveis
Espaços para além, e sobre-humanos
Silêncios e quietudes profundíssimas,
Na mente vou sonhando, de tal forma
Que quase o coração me aflige. E, ouvindo
O vento sussurrar por entre as plantas,
O silêncio infinito à sua voz
Comparo: e quando me visita o eterno
E as estações já mortas e a presente
E viva com seus cantos. Assim, nessa
Imensidão se afoga o pensamento:

E doce é naufragar-me nesses mares.

(Tradução de Ivo Barroso)

Querido sempre me foi o ermo monte
e aquela sebe, que de toda parte
do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentado e mirando, desmedidos
espaços além dela, e sobre-humanos
silêncios, e profundíssima quietude,
no pensamento imagino: tal que por pouco
o coração não treme. E quando o vento
ouço silvar por entre as ramas, eu aquele
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recorda o eterno,
e as mortas estações, e a presente
e viva, e o som que é dela. E em meio
a tal imensidade se afoga o pensamento:
e o naufragar me é doce neste mar.

(Tradução de Fábio Malavoglia)