sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Arquíloco - Fr. 17w

Das riquezas de Giges não cogito;
não nutro inveja; espanto não me causam
prodígios de Imortais; poder não quero:
dessas cousas distante a mente guardo.

Tradução: Aluízio Faria de Coimbra.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Safo 31 - Tradução de Elpino Duriense

Igual aos Deuses me parece aquele
Que defronte de ti se assenta, e te ouve
De perto docemente conversando,
Docemente sorrindo.

Isto no peito o coração me assombra,
Que depois que te eu vi, jamais me veio
Voz alguma à garganta, antes quebrada
A língua se entorpece,

Eis já de veia em veia sutil fogo
Lavrando vai: c'os olhos nada vejo;
E sinto de contínuo em meus ouvidos
um túrbido zumbido.

Geladas bagas por meu corpo correm,
Um frígido tremor me toma toda;
O rosto amarelece (*), e quase morta
Nem respirar já posso.

(*) Nota do tradutor: O texto diz: "Estou mais verde que a erva"; mas esta imagem por muito vulgar não sairia bem em nossa língua; como já notou o douto tradutor português de Longino, pelo que lhe substituímos o rosto amarelece, lembrando-nos da Eglóga X, dos Segadores de Ferreira, que nos diz na altepenúltima oitava: "A mão te treme, o rosto amarelece,"

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Anacreonteia 35

Entre rosas, que apanhava,
O malfazejo Cupido
não viu uma abelha
E foi por ela mordido.

Mal que picado se viu,
Na tenra mão, entre dor,
Começou a levantar
Um magoado clamor.

Já correndo, e já voando,
A cândida mãe buscou;
"Ai morri, morri" - dizia -
"Ai mãe, teu filho expirou"

Olha bem; mordeu-me aqui
Pequena, alada serpente,
A que dá de abelha o nome,
Do campo a enganada gente.

Ela vendo, disse: "Ó filho,
Se isto tanta dor te faz,
Que sofrerão os que provam
os golpes, que tu lhes dás?"


[Tradução de Francisco Manuel Gomes da Silva Malhão]

Anacreonteia 19

Bebe a terra quando chove
As plantas bebem da terra
O Mar bebe o ar,e o Sol
Das águas, que o mar encerra.

Ao mesmo Sol, bebe a Lua,
Tudo bebe. E sendo assim,
Por que razão, de beber
Quereis privar a mim?

Tradução de Francisco Manuel Gomes da Silva Malhão

Ovídio - Os Amores I

Ser de Homero rival lembrou-me um dia;
Cantar guerras, heróis; e em nobres voôs
Á grandeza do assunto alçar meus versos.
Já na destra o clarim, na fronte os louros,
Na mente a glória, me ensaiva aos cantos.
Riu-se Cupido...e rindo-se furtou-me
O laurel, o instrumento;
De rosas e de murtas
Croou-me num momento;
Pôs-me nas mãos a lira
Tão cara à mãe de Amor.

Quem te deu esse jus em poesia,
Vão menino, cruel invasor?
Tem as musas em nós sob'rania
Não são vates vassalos de Amor.

Que seria se Vênus tomasse
Suas armas à Deusa guerreira?
Se Minerva co' o sesto se ornasse?
Loura Ceres nos bosques reinasse?
E esquecida da caça ligeira
Fosse às messes Diana imperar?
Deve intonso pacífico Apolo
Adornar-se co' a lança da morte?
Saberia na mão do Mavorte
branda lira seus sons espalhar?

Vasto como o universo é teu domínio,
Sobejo o teu poder. Para que aspiras,
Menino ambicioso, a mais impérios?
Por tudo o mais ser teu, há-de ser tua
A Castália? o Parnaso? e Cirra? e Tempe?
No grêmio ao Deus da lira, a própria lira
não ficará segura?
Apenas tenho escrito uma só linha
em majestoso estilo
Ei-lo acode a afrouxar-me e a destrui-lo!

"Amor, Amor!" - lhe disse - "É vã tua fadiga.
Não tenho que pintar nos curtos versos teus.
Não tenho Adônis lindo, ou linda rapariga,
A quem tribute o canto, e que remonte aos céus."

Ouvindo o meu queixume, abre em silêncio a aljava;
Dentre mil setas de ouro a mais aguda extrai;
No arco a imbebe; e enquanto ao peito ma apontava
"Se assunto queres" - diz - "na frecha assunto vai"

Céus! Que mudança
N'alma liberta!
Que mão tão certa!
Que íntimo golpe!
Que acerba dor!

Deliro em turbidos,
Novos afectos!
Queimo-me, abraso-me!
Adeus projetos;
No peito indômito
Já reina amor.

Pois que é fado, e o quis um nume,
o nume que excede aos mais,
iremos soltar na lira
Verso brando ao som dos ais.

Adeus glória, adeus combates!
Adeus vós e o metro vosso!
Eu, queria; amor opôs-se...
Amor se opôe, já não posso.

Nas tranças Idália murta,
Inglório plectro na mão,
Vem pois, Musa, e em verso humilde
Cantemos a escravidão!

Tradução: Antônio Feliciano de Castilho

Odisséia, XVIII, 104-110

"De quanto cá respira e cá rasteja,
Nada é mais lastimável do que o homem:
No seu vigor e próspera fortuna,
Com desgraça não conta, e se esta o assalta,
Não sabe suportá-la e acusa os deuses.
Pois tem versátil ânimo os terrestres,
Segundo altera Júpiter os dias."

Tradução: Odorico Mendes

domingo, fevereiro 03, 2008

Epílogo

Eu quis um dia, como Schumann, compor
um carnaval todo subjetivo:
Um carnaval que o só motivo
fosse o meu próprio ser interior...

Quando acabei - a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
e de frescura, e mocidade...
E o meu tinha a morta morta-cor
da senilidade e da amargura...
- O meu carnaval sem nenhuma alegria!

sábado, fevereiro 02, 2008

Mascarada

Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)


-Você me conhece?
-Não conheço não.
-Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
que a paixão dos homens
(estranha paixão!)
Fazia maiores...
Fazia infinitos.
Diz: não me conheces?
-Não conheço não.

-Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
à tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia...
Era a minha fala
Canto e persuasão...
Pois não me conheces?
-Não conheço não.
-Choraste em meus braços
-Não me lembro não.

-Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!

Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?

-Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Catulo

Catulo 1: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 1: tradução e notas
Catulo 2: tradução de João Ângelo Oliva Neto/Haroldo de Campos
Catulo 3: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 3: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 5: tradução de Almeida Garrett/João Ângelo Oliva Neto/Haroldo de Campos
Catulo 6: Tradução de Haroldo de Campos
Catulo 7: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 8: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 9: tradução de Francisco Achcar
Catulo 13: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 13: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 14b: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 16: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 27: tradução de Haroldo de Campos/João Ângelo Oliva Neto
catulo 30: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 32: tradução de João Ângelo Oliva Neto/José Paulo Paes/Nelson Ascher
Catulo 32: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 38: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 39: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 41: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 41: tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 43: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 52: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 58: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 70: tradução de João Ângelo Oliva Neto/José Dejalma Dezotti
Catulo 73? tradução e notas de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 82: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 85:tradução de João Ângelo Oliva Neto
Catulo 86: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 89: tradução de José Dejalma Dezotti
Catulo 91: tradução de Haroldo de Campos
Catulo 92: tradução de João Ângelo Oliva Neto/José Dejalma Dezotti
Catulo 93: tradução de Haroldo de Campos/João Ângelo Oliva Neto/José Dejalma Dezotti

Arquíloco 3W

Quando Ares na planície adensa a pugna,
não se distendem crebras fundas, arcos
mil, obram, só, os gládios, fazedores
de gemidos; pois nessa luta excelem
de egrégia lança os princípes eubóicos.

Tradução: Aluízio Faria de Coimbra

Ilíada VI. 145-151: a geração dos homens.

"Ó Tideide, ardoroso de ânimo, por que
perguntas minha origem? Símile à das folhas,
a geração dos homens: o vento faz cair
as folhas sobre a terra. Verdecendo, a selva
enfolha outras mais, vinda a primavera. Assim,
a linhagem dos homens: nascem e perecem"(...)


Tradução: Haroldo de Campos