sábado, junho 16, 2012

Calímaco: Epigramas V, XIII, XVII, XIX [ Edição Gow-Page]


V (29)

Bebe-se num simpósio em homenagem a um rapaz de nome Diócles, cuja excessiva beleza merece ser brindada com vinho extremamente forte, sem mistura com água, que aqui é personificada pela figura do Deus-Rio Aquelôo.

Ἔγχει καὶ πάλιν εἰπὲ ‘Διοκλέος’· οὐδ' Ἀχελῷος
κείνου τῶν ἱερῶν αἰσθάνεται κυάθων.
καλὸς ὁ παῖς, Ἀχελῷε, λίην καλός, εἰ δέ τις οὐχί
φησίν – ἐπισταίμην μοῦνος ἐγὼ τὰ καλά.  

Verte [o vinho] e diz outra vez: “Por Diócles!”; Aquelôo
            não conhece as taças consagradas a ele.
O rapaz é belo, Aquelôo, belo demais; Se alguém
            discorda, que apenas eu saiba o que é belo! 


XIII (43)

Narração do comportamento de um homem no simpósio. Os suspiros denunciam que a sua ferida é causada por amor.  O poeta, experiente no assunto (“ladrão que conhece os rastros de outro ladrão”), compadece-se do sofrimento e tece seu comentário nos dois versos finais.

Ἕλκος ἔχων ὁ ξεῖνος ἐλάνθανεν· ὡς ἀνιηρόν
πνεῦμα διὰ στηθέων (εἶδες;) ἀνηγάγετο,
τὸ τρίτον ἡνίκ' ἔπινε, τὰ δὲ ῥόδα φυλλοβολεῦντα
τὠνδρὸς ἀπὸ στεφάνων πάντ' ἐγένοντο χαμαί·
ὤπτηται μέγα δή τι· μὰ δαίμονας οὐκ ἀπὸ ῥυσμοῦ
εἰκάζω, φωρὸς δ' ἴχνια φὼρ ἔμαθον.

O hóspede não percebia a ferida que tinha; Que triste,
            O suspiro de seu peito (viste?)!  Suspirou,
enquanto libava a terceira [taça]. E as rosas, a despetalar
            da coroa do homem,  caíram todas ao chão.
[O hóspede] está, sim, muito queimado; pelos numes, sem rumo
não o vejo: ladrão sou, e conheço rastros de ladrão.

XVII (37)

Oferenda de certo  Menitas, proveniente da cidade cretense de Licto, para o Deus Serápis.  Dedica aljava e arco (chamado κέρας, “chifre”, que poderia ser um  modo de se referir a um arco composto com este material ou servir simplesmente como metonímia para a própria arma). Assume o tom de uma narração, na qual  o ofertante alude à sua atuação durante o combate contra o povo da cidade de Hespérite, situada na Cirenaica.  

Ὁ Λύκτιος Μενίτας
τὰ τόξα ταῦτ' ἐπειπὼν
ἔθηκε· “Τῆ, κέρας τοι
δίδωμι καὶ φαρέτρην,
Σάραπι· τοὺς δ' ὀιστοὺς
ἔχουσιν Ἑσπερῖται.”

O Líctio Menitas
este arco dedicou,
tendo dito:  Aqui,
dou-te o [meu arco de] chifre e a aljava,
Serápis: mas as flechas,
têm-nas os Hespérites.

XIX (39)

Timodemo, da cidade de Náucratis, oferece a décima parte de seus lucros (provavelmente um objeto, como parece indicar o verbo εἵσατο, “estabelecer, assentar”) a Demeter e à sua filha Perséfone, rrainha dos subterrâneos, cultuada em Pilas (ou Termópilas) em um templo fundado por um rei de nome Acrísio, descendente dos Pelasgos (habitantes antigos e lendários da Grécia).  

 Δήμητρι τῇ Πυλαίῃ,
τῇ τοῦτον οὑκ Πελασγῶν
Ἀκρίσιος τὸν νηὸν ἐδείματο, ταῦθ' ὁ Ναυκρατίτης
καὶ τῇ κάτω θυγατρί
τὰ δῶρα Τιμόδημος
εἵσατο τῶν κερδέων δεκατεύματα· καὶ γὰρ εὔξαθ' οὕτως

À Deméter Pileia,
aqui Acrisio dos Pelasgos
fundou este templo, e também
à sua ínfera filha;
e Timodemo Naucrátida estas dádivas
apôs, dízimo de seus lucros; pois assim prometera.




Tradução: Rafael Brunhara


Bibliografia

GOW, A.S.F.; PAGE, D.L. (ed.) Greek Anthology: Hellenistic Epigrams. Cambridge: Cambridge University Press, 1965, vol, 1.