Kaváfis ("O funeral de Sárpedon")
Grande dor sente Zeus. Pátroclo
matou Sárpedon; e agora se lançam
Menecíades e os aqueus para arrebatar
e aviltar o corpo.
Mas Zeus não concorda absolutamente com isso.
Ao seu filho amado - a quem deixou
morrer: tal era a Lei -
pelo menos o honrará depois de morto.
E eis que envia Febo à planície, lá embaixo,
instruído em como cuidar do corpo.
O cadáver do herói, com respeito e com pesar
Febo levanta-o e leva-o ao rio.
Lava-o da poeira e do sangue;
fecha as horríveis feridas, não deixando
aparecer nenhum vestígi; verte
os aromas de ambrosia sobre ele; com magníficos
trajes olímpicos veste-o.
Branqueia sua pele e com pente
de pérolas penteia seus negríssimos cabelos.
Os belos membros ajeita e estende.
Agora se assemelha a um rei auriga -
em seus vinte e cinco, em seus vinte e seis anos -
que repousa depois que ganhou,
com um carro de ouro e velocíssimos cavalos,
em uma famosa corrida o prêmio.
Assim, quando Febo terminou
sua missão, chamou os dois irmãos
Hipnos e Tânatos, ordenando-lhes
levar o corpo para a Lícia, rica região.
E por aquela rica região, a Lícia,
caminharam esses dois irmãos,
Hipnos e Tânatos, e quando enfim chegaram
à porta da casa real
entregaram o glorioso corpo,
e retornaram aos seus cuidados e trabalhos.
E quando o receberam ali, na casa, começou
com procissões, honras e lamentos,
e com abundantes libações de crateras sagradas,
e com tudo o que é adequado, o triste sepultamento;
e depois, hábeis artesãos da cidade,
e famosos artífices de pedra,
vieram erguer o túmulo e a estela.
Tradução de Ísis B. da Fonseca.
Ilíada, XVI. 666-684
A Apolo disse então o ajunta-nuvens Zeus:
"Do sangue escuro, Febo dileto, depura
Sarpédon, arredando-o das flechas; levando-o
bem longe, lava-o na água de uma corrente; unge-o
de ambrosia e o reveste de imortais roupagens;
depois, a portadores velozes o entrega,
aos gêmeos Sono e Morte, que o conduzirão
ao opulento e vasto país dos Lícios, onde
os parentes e amigos lhe darão sepulcro
e estela, privilégios e pompas da morte."
Falou. E Apolo não deixou de ouvir o Pai.
Baixa dos altos do Ida à batalha feroz.
Das flechadas arreda o divino Sarpédon.
Leva-o bem longe; lava-o na água corente; unge-o
de ambrosia e o reveste de imortais roupagens;
depois, a portadores velozes, o entrega,
aos gêmeos Sono e Morte, que o conduzem presto
ao opulento e vasto país do povo lício.
Tradução de Haroldo de Campos.
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