- Ramsés, meu bem, acorde. Acho que tem alguém batendo.
- Como ousa, minha amada, minha irmã, ó lótus da primeira lua da primavera, acordar o filho do Sol? Espero a hora de Osíris.
- Sério, Ramsés. Ouço barulho de gente tentando arrombar a porta da pirâmide.
- Tá bem, tá bem, Nefertiti. Vou ver o que há.
- Tome cuidado, amor. Sofri tanto quando você morreu a primeira vez.
- Deixe comigo. Esses ladrõezinhos de tumbas vão ver uma coisa.
- Escutou?
- Escutei. Pã, pã, pã. Acho que é só um.
- Quem viria roubar, sozinho, a pirâmide de Ramsés?
- Sozinho?
- Sozinho.
- Nefertiti, me diga uma coisa. Como foi que aquele sacerdote de Bubástis disse que meu pai Osíris iria me ressuscitar?
- Tantos séculos, não lembro mais. Lembro que disse uma coisa.
- Que foi?
- Ele viria sozinho.
- Tem certeza?
- A certeza aos vivos pertence. Me parece, de qualquer forma.
- A merda é que eu não consigo me lembrar de nada daquela maldita frase. Mas acho que tinha alguma coisa que ver com o que você está dizendo. Sozinho, você disse?
- Pã, pã, pã, ouviu? Ele está sozinho.
- Pode ser um ladrão.
- E se for Osíris?
[Paulo Leminski]
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