sábado, setembro 15, 2007

Horácio I, 3

Sic te diua potens Cypri,
sic fratres Helenae, lucida sidera,
uentorumque regat pater
obstrictis aliis praeter Iapyga,
nauis, quae tibi creditum
debes Vergilium; finibus Atticis
reddas incolumem precor
et serues animae dimidium meae.
Illi robur et aes triplex
circa pectus erat, qui fragilem truci
commisit pelago ratem
primus, nec timuit praecipitem Africum
decertantem Aquilonibus
nec tristis Hyadas nec rabiem Noti,
quo non arbiter Hadriae
maior, tollere seu ponere uolt freta.
Quem mortis timuit gradum
qui siccis oculis monstra natantia,
qui uidit mare turbidum et
infamis scopulos Acroceraunia?
Nequicquam deus abscidit
prudens Oceano dissociabili
terras, si tamen impiae
non tangenda rates transiliunt uada.
Audax omnia perpeti
gens humana ruit per uetitum nefas;
audax Iapeti genus
ignem fraude mala gentibus intulit;
post ignem aetheria domo
subductum macies et noua febrium
terris incubuit cohors
semotique prius tarda necessitas
leti corripuit gradum.
Expertus uacuum Daedalus aera
pennis non homini datis;
perrupit Acheronta Herculeus labor.
Nil mortalibus ardui est;
caelum ipsum petimus stultitia neque
per nostrum patimur scelus
iracunda Iouem ponere fulmina.


Assim a deusa poderosa em Chipre,
Assim os irmãos de Helena, brilhantes
Astros, e o rei dos ventos, só com jápis,
Prendendo os mais, te reja,

Ó nau, que és de Vergílio devedora,
Que a ti se confiou, rogo-te, o ponhas
Salvo nas terras áticas e guardes
Metade de minha alma.

Enzinho e tresdobrado bronze havia
Em torno ao peito, quem ao pego iroso
O baixel frágil cometeu primeiro;
Nem já temeu o ábrego.

Com os aquilões brigando impetuoso,
Híadas tristes, nem de Noto a raiva;
Que é de Adria o mor senhor, ou erguer queira,
Ou amainar as ondas.

Que gênero temeu de morte aquele,
Que a olhos secos viu nadantes monstros,
Que viu túrgido mar, e Acroceraunos
Infamados cachopos?

Em vão, próvido Deus com o oceano
As terras retalhou insociáveis,
Se contudo os baixéis ímpios trespassam
Os não tocandos mares.

Audaz a sofrer tudo, a gente humana
Por defesas maldades se despenha;
Audaz a prole de Jápeto às gentes
Com fraude iníqua o fogo

Trouxe: depois que o fogo à casa etérea
Se furtou, a magreza e nova tropa
De febre sobreveio à terra e o fado
Vagaroso da morte,

Dantes remota, apressurou o passo
Tentou com penas ao mortal não dadas,
Dédalo o ar vazio: o Aqueronte
Rompeu trabalho hercúleo.

Nada aos mortais é árduo: cometemos
Loucos o mesmo céu; e não deixamos
Com os nossos crimes, que deponha Jove
Os iracundos raios.

(Tradução: Elpino Duriense)

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