Coitado! Que em um tempo choro e rio;
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
De uma cousa confio e desconfio.
Avôo sem asas; estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio.
Qu’ria se ser pudesse, o impossível;
Qu’ria poder mudar-me, e estar quedo;
Usar de liberdade, e ser cativo;
Qu’ria que visto fosse, e invisível;
Qu’ria desenredar-me e mais me enredo:
Tais os extremos em que triste vivo!
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