quarta-feira, dezembro 30, 2015

Hino Órfico 75: Palêmon

Παλαίμονος;, θυμίαμα μάνναν.

Σύντροφε βακχεχόροιο Διωνύσου πολυγηθοῦς,
ὃς ναίεις πόντοιο βυθοὺς ἁλικύμονας, ἁγνούς,
κικλήσκω σε, Παλαῖμον, ἐπ' εὐιέροις τελεταῖσιν
ἐλθεῖν εὐμενέοντα, νέωι γήθοντα προσώπωι,
καὶ σώζειν μύστας κατά τε χθόνα καὶ κατὰ πόντον·
ποντοπλάνοις γὰρ ἀεὶ ναυσὶν χειμῶνος ἐναργὴς
φαινομένου σωτὴρ μοῦνος θνητοῖς ἀναφαίνηι,
ῥυόμενος μῆνιν χαλεπὴν κατὰ πόντιον οἶδμα.

[De Palêmon], Fumigação: Incenso

Criado com Dioniso jubiloso que dança em delírio,
a ti, puro, que habitas abismos do mar circúnfluo,
invoco, Palêmon; vem aos sacratíssimos ritos
benfazejo, com alegria no jovem rosto,
e salva os iniciados, na terra e no mar!
Sempre que surge a tormenta aos vagantes navios,
visível salvador, só tu, aos mortais te revelas,
refreando a dura ira pelas vias do mar.

[Tradução: Rafael Brunhara]

Lícofron: fragmentos da Alexandra

Do Prólogo

Contarei sem torcer tudo o que me perguntas,
tudo, desde o cume do começo.
Perdoa-me, porém, se o discurso delonga.
Não tranqüila como antes, a moça desta vez
deslindava a boca fluida dos oráculos,
lançando da garganta laurívora um confuso
clamor desmesurado;
flameava os vaticínios,
repetindo fiel a voz da Esfinge escura.
Aquilo que eu retenho na alma e na memória
escuta, ó Rei, e repassando-o
no íntimo, sábio,
persegue os lances difíceis de dizer
de seu novelo de enigmas.
Discerne a trilha clara por onde, reta rota,
chegar às coisas trevosas.
Agora eu, rompendo o nastro, linde extremo,
alço-me ao giro das palavras oblíquas,
alado corredor que abala o marco da partida.

Da Fala de Alexandra

Aurora sobre as pontas escarpadas do Fégio
pairava apenas, alas rápidas de Pégaso,
deixando teu irmão, Titono, meio-sangue,
no leito junto a Cerne.
E os marinheiros desprendiam dos calhaus cavados
as plácidas amarras
e soltavam as âncoras da terra.
Escolopendras de cambiante cor cegonha
as filhas de Falacra, bela-vista,
batiam com seus remos de espátula
o mar, assassino de virgens,
mostrando para além das Calidnas
plumas brancas, popas, e as velas -- braços tensos --
sopradas do fogoso vento norte.
Báquica,
abrindo a boca insuflada pelos deuses,
ali, no extremo píncaro do Ates,
repouso da erradia novilha-fundadora,
Alexandra começou pelas palavras do princípio:


Rapto de Helena

Vejo a tocha de plumas acorrendo,
alada, ao rapto da pomba --
columba tímida, punível cadela de Pefnos.
(o cisne singrador, falcão das águas, engendrou-a
na recâmara curva de uma
concha).

Fonte: CAMPOS, H. "Arquitextura do Barroco" in: A Operação do Texto. São Paulo: Perspectiva. 1976.

terça-feira, dezembro 29, 2015

Hino Órfico 74: Leucótea

<Λευκοθέας>, θυμίαμα ἀρώματα.

Λευκοθέαν καλέω Καδμηίδα, δαίμονα σεμνήν,
εὐδύνατον, θρέπτειραν ἐυστεφάνου Διονύσου.
κλῦθι, θεά, πόντοιο βαθυστέρνου μεδέουσα,
κύμασι τερπομένη, θνητῶν σώτειρα μεγίστη·
ἐν σοὶ γὰρ νηῶν πελαγοδρόμος ἄστατος ὁρμή,
μούνη δὲ θνητῶν οἰκτρὸν μόρον εἰν ἁλὶ λύεις,
οἷς ἂν ἐφορμαίνουσα φίλη σωτήριος ἔλθοις.
ἀλλά, θεὰ δέσποινα, μόλοις ἐπαρωγὸς ἐοῦσα
νηυσὶν ἐπ' εὐσέλμοις σωτήριος εὔφρονι βουλῆι,
μύσταις ἐν πόντωι ναυσίδρομον οὖρον ἄγουσα.

[De Leucótea] Fumigação: Ervas Aromáticas


Leucótea Cadmeia eu chamo, nume insigne,
poderosa nutriz do bem coroado Dioniso.
Ouve-me, Deusa, guardiã do mar de âmago profundo,
nas ondas alegre, de mortais maior salvadora:
em ti o ímpeto instável das naus cruzando o pélago,
só tu livras da lamentável morte no mar
os mortais a quem acorres como amiga salvação.
Peço, senhora Deusa, vem, sendo tu auxiliadora,
com benévolos desígnios salva as naus de boas quilhas,
aos iniciados no mar leva os velívolos ventos.

[Tradução: Rafael Brunhara]

segunda-feira, dezembro 28, 2015

Hino Órfico 73: Nume [Daímon]

<Δαίμονος>, θυμίαμα λίβανον.

Δαίμονα κικλήσκω † μεγάλαν ἡγήτορα φρικτόν,
μειλίχιον Δία, παγγενέτην, βιοδώτορα θνητῶν,
Ζῆνα μέγαν, πολύπλαγκτον, ἀλάστορα, παμβασιλῆα,
πλουτοδότην, ὁπόταν γε βρυάζων οἶκον ἐσέλθηι,
ἔμπαλι δὲ τρύχοντα βίον θνητῶν πολυμόχθων·
ἐν σοὶ γὰρ λύπης τε χαρᾶς † κληῖδες ὀχοῦνται.
τοιγάρ τοι, μάκαρ, ἁγνέ, πολύστονα κήδε' ἐλάσσας,
ὅσσα βιοφθορίην πέμπει κατὰ γαῖαν ἅπασαν,
ἔνδοξον βιοτῆς γλυκερὸν τέλος ἐσθλὸν ὀπάζοις.

[Do Nume], fumigação: olíbano

Ao Nume invoco, majestoso líder apavorante;
propício Zeus, pai de todos, doador da vida dos mortais,
Zeus magno, multívago vingador, rei de tudo,
Doador de riqueza quando a florescer entra no lar,
mas que exaure aliás a vida dos sofredores mortais:
em ti guardam-se as chaves da tristeza e da alegria.
Por isso, eis, puro venturoso, as magoadas preocupações
que corrompem a vida despacha por toda a terra;
notável nobre doce termo tu outorgues!

Tradução: Rafael Brunhara

Hino Órfico 72: Sorte [Týkhe]

<Τύχης>, θυμίαμα λίβανον.

Δεῦρο, Τύχη· καλέω σ', ἀγαθῶν κράντειραν, ἐπευχαῖς,
μειλιχίαν, ἐνοδῖτιν, ἐπ' εὐόλβοις κτεάτεσσιν,
Ἄρτεμιν ἡγεμόνην, μεγαλώνυμον, Εὐβουλῆος
αἵματος ἐκγεγαῶσαν, ἀπρό<ς>μαχον εὖχος ἔχουσαν,
τυμβιδίαν, πολύπλαγκτον, ἀοίδιμον ἀνθρώποισιν. 5
ἐν σοὶ γὰρ βίοτος θνητῶν παμποίκιλός ἐστιν·
οἷς μὲν γὰρ τεύχεις κτεάνων πλῆθος πολύολβον,
οἷς δὲ κακὴν πενίην θυμῶι χόλον ὁρμαίνουσα.
ἀλλά, θεά, λίτομαί σε μολεῖν βίωι εὐμενέουσαν,
ὄλβοισι πλήθουσαν ἐπ' εὐόλβοις κτεάτεσσιν.

[Da Sorte]; fumigação: Olíbano

Aqui, Sorte! Invoco-te, Senhora do bem, em súplicas:
propícia no caminho para afortunadas riquezas,
Ártemis hegêmone de magno nome, do sangue
de Eubuleu nascida, incombatível anelo,
tumular multívaga cantada pela humanidade.
em ti a vida dos mortais faz-se toda variegada:
a uns, dás multiafortunada plenitude de bens;
a outros, atacando colérica, vil pobreza.
Vamos,Deusa, suplico-te que venhas benfazeja à vida,
plena de fortuna, para nos dar afortunadas riquezas.

[Tradução: Rafael Brunhara]


domingo, dezembro 27, 2015

Hino Órfico 71: Melínoe

[Μηλινόης], θυμίαμα ἀρώματα.

Μηλινόην καλέω, νύμφην χθονίαν, κροκόπεπλον,
ἣν παρὰ Κωκυτοῦ προχοαῖς ἐλοχεύσατο σεμνὴ
Φερσεφόνη λέκτροις ἱεροῖς Ζηνὸς Κρονίοιο,
ἧι ψευσθεὶς Πλούτων' ἐμίγη δολίαις ἀπάταισι,
θυμῶι Φερσεφόνης δὲ δισώματον ἔσπασε χροιήν, (5)
ἣ θνητοὺς μαίνει φαντάσμασιν ἠερίοισιν,
ἀλλοκότοις ἰδέαις μορφῆς τύπον † ἐκπροφαίνουσα,
ἄλλοτε μὲν προφανής, ποτὲ δὲ σκοτόεσσα, νυχαυγής,
ἀνταίαις ἐφόδοισι κατὰ ζοφοειδέα νύκτα.
ἀλλά, θεά, λίτομαί σε, καταχθονίων βασίλεια, (10)
ψυχῆς ἐκπέμπειν οἶστρον ἐπὶ τέρματα γαίης,
εὐμενὲς εὐίερον μύσταις φαίνουσα πρόσωπον.

[de Melínoe], fumigação: ervas aromáticas

A Melínoe eu chamo, ninfa ctônia em cróceo véu,
que junto à foz do Cocito deu à luz insigne
Perséfone, no sacro leito de Zeus Crônio;
uniu-se a ela ludibriado Plutão com ardis astutos,
ardoroso arrancou a dúplice pele de Perséfone*. (5)
Ela enlouquece os mortais com nevoentos fantasmas,
em estranhas imagens desvelando suas formas,
ora  às claras ora em sombras,  noturno cintilar
em encontros hostis nas trevas da noite.
Vamos, Deusa, suplico-te, subtérrea rainha, (10)
envia o furor da alma para os confins da terra,
benévola sacratíssima face revela aos iniciados.

Tradução: Rafael Brunhara

* O verso de mais difícil interpretação do mais difícil Hino Órfico: o que significa a "dúplice pele" de Perséfone? A tradução adotada segue a interpretação de Gessner e Athanassakis, que sugerem ser a dúplice pele (no original  δισώματον, disómaton, "dois corpos") referência à dupla natureza da Deusa, ao mesmo tempo relacionada a Hades e ao pai Zeus. O ardor sexual do pai pela própria filha faz sua pele romper-se no enlace. 

Entendo assim que é "Zeus Crônio" o sujeito do verbo ἐμίγη (emíge, "misturou-se", "uniu-se"), embora admita a ambiguidade suscitada por ψευσθεὶς Πλούτων, que possibilita duas traduções: (Ele, s.c. Zeus) depois de Plutão ser ludibriado, une-se a Perséfone;  ou "Falaz Plutão uniu-se à Perséfone"

 A passagem é aberta às mais diversas conjecturas, devido às poucas informações a respeito da divindade e ao texto grego pleno em ambiguidades. Contudo, a tradução tenta, na medida do possível, conservar as ambiguidades do texto grego,  vistas estas como significativas para o  efeito geral causado pelo hino e próprias da epifania da divindade -- justamente nevoento fantasma que desvela suas formas em imagens estranhas (v. 7). 


quarta-feira, dezembro 23, 2015

Eneias se reconhece: Eneida, vv. 466-497/ Eneida Brasileira, vv. 484-522

A lagrimar parou: "Que sítio ou clima
Cheio, Acates, não é dos nossos males?
Eis Príamo! o louvor tem cá seus prêmios,
Dói mágoa alheia e sobrevive o pranto.
Coragem! que em teu bem conspira a fama.
Disse, e em vãos quadros se apascenta e as faces
Gemebundo umedece em largo arroio.
Vê de Pérgamo em cerco a hoste Graia
Do Frígio ardor fugir, fugir a Teucra
Do instante carro do emplumado Aquiles.
Ai! perto a Reso por traição a Tidides,
No primo sono, arrasa as níveas tendas,
Da carnagem cruento, e os acres brutos
Volve ao seu campo, sem gostado haverem
De Tróia os pastos nem bebido o Xanto.
Além, nu de armas, o infeliz Troílo,
Que arremeteu menino ao próprio Aquiles,
É dos corcéis tirado, e ressupino,
Mas tendo os loros, do vazio carro
Pende, e a cerviz no pó, de rojo a coma,
Virada a lança hostil na areia escreve.
Em cabelo, as Ilíades aflitas
Ao templo iam também da iníqua Palas,
O peplo humildes ofertando e os peitos
A punhadas ferindo: aversa a déia
Olhos no chão pregava. A Heitor Pelide
Arastara em três voltas ante os muros,
De ouro a peso vendia-lhe o cadáver.
Do imo um forte gemido arranca Enéias,
No olhar o espólio, o coche, o amigo exânime,
E a Príamo estendendo as mãos inermes.
A arrostar no conflito os Gregos chefes
A si se reconhece, e Eoas turmas
E as do negro Memnon coiraça e cota.
À testa de milhares de Amazonas
Com lunados broquéis, Pentesiléia
Arde furente, belicosa atando
Sob a despida mama um cinto de ouro,
E virgem com varões brigar se atreve.

Tradução de Odorico Mendes

Namque videbat, uti bellantes Pergama circum
hac fugerent Graii, premeret Troiana iuventus,
hac Phryges, instaret curru cristatus Achilles.
Nec procul hinc Rhesi niveis tentoria velis
adgnoscit lacrimans, primo quae prodita somno
Tydides multa vastabat caede cruentus,
ardentisque avertit equos in castra, prius quam
pabula gustassent Troiae Xanthumque bibissent.
Parte alia fugiens amissis Troilus armis,
infelix puer atque impar congressus Achilli,
fertur equis, curruque haeret resupinus inani,
lora tenens tamen; huic cervixque comaeque trahuntur
per terram, et versa pulvis inscribitur hasta.
Interea ad templum non aequae Palladis ibant
crinibus Iliades passis peplumque ferebant,
suppliciter tristes et tunsae pectora palmis;
diva solo fixos oculos aversa tenebat.
Ter circum Iliacos raptaverat Hectora muros,
exanimumque auro corpus vendebat Achilles.
Tum vero ingentem gemitum dat pectore ab imo,
ut spolia, ut currus, utque ipsum corpus amici,
tendentemque manus Priamum conspexit inermis.
Se quoque principibus permixtum adgnovit Achivis,
Eoasque acies et nigri Memnonis arma.
Ducit Amazonidum lunatis agmina peltis
Penthesilea furens, mediisque in milibus ardet,
aurea subnectens exsertae cingula mammae,
bellatrix, audetque viris concurrere virgo.

sábado, dezembro 19, 2015

José Paulo Paes - "Do Evangelho de São Jerônimo"

A tradução -- dizem com desprezo -- não é a mesma coisa que o original.
Talvez porque tradutor e autor não sejam a mesma pessoa.
Se fossem, teriam a mesma língua, o mesmo nome, a mesma mulher, o mesmo cachorro.
O que, convenhamos, havia de ser supinamente monótono.
Para evitar tal monotonia, o bom Deus dispôs, já no dia da Criação, que tradução e original nunca fossem exatamente a mesma coisa.
Glória, pois, a Ele nas alturas, e paz, sob a terra, aos leitores de má vontade.

JOSÉ PAULO PAES. Poesia Completa. São Paulo: Companhia das Letras. 2008

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Keats - "Bright Star" - Tradução de Mário Faustino

BRIGHT STAR

Bright star, would I were stedfast as thou art—
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors—
No—yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever—or else swoon to death.

BRILHANTE ESTRELA

Brilhante estrela, fosse eu estável como tu,
Não em solitário esplendor presa e solta na noite
E observando, com eternos cílios afastados,
Como Eremita insone, paciente da natureza
As águas movediças, em seu trabalho sacerdotal,
Da pura ablução em torno das praias humanas da terra
Ou contemplando a nova máscara, suavemente caída
Da neve sobre os montes, sobre os brejos --
Não, e ainda assim estável, ainda assim imutável
Repousando sobre o peito de meu belo amor (que amadurece)
Sempre acordado, em doce inquietude
Quieta, quietamente ouvindo seu tenro respirar
E assim viver para sempre -- ou então render-se à morte.

FONTE:

Faustino, Mário. Poesia Completa e Traduzida. São Paulo: Editora Max Limonad. 1985

sábado, dezembro 12, 2015

Brasileidas, vv. 1- 50 - Poema Épico de Carlos Alberto Nunes

Musa, canta-me a régia poranduba
das bandeiras, os feitos sublimados
dos heróis que o Brasil plasmar souberam
través do Pindorama, demarcando
nos sertões a conquista e as esperanças.
Dá que em versos eu fixe os fundamentos
históricos e míticos da pátria
brasileira, deixando-os perpetuados
na memória de todos os teus filhos:
a luta dos Titãs, os novos deuses,
as Amazonas varonis e a raça
que o Gigante de pedra fêz do solo
surgir, robusta e bela, idéias novas
de grandeza forçando à eternidade.
Sobe, imaginação! Abre os arcanos
das lendas ameríndias, e dos Andes
me facilita os penetrais augustos.
Deixa ficar meu verso como o rio
das famosas guerreiras, quando as águas
aos tálamos da luz solene guia:
caudal e majestoso. Não menores
imagens me concede, altos remígios
aos feitos adequados, porque eu canto
do Brasil a excelência, na aristia
do férreo bandeirante celebrada.
Muito peregrinou Rapôso invicto,
por todo o Tapuirama, correntezas
em seu curso transpondo inumeráveis.
Longe os fortes paulistas arrebata,
léguas grandes à pátria incorporando.
Na direção do ocaso os lindes pátrios
afastou, sempre à frente de seus homens,
desde a Serra do Mar, desde a corrente
sagrada do Anhembi, por tôda a costa
que o grande abalador bramando açoita.
Já dos Andes retorna; já, nas águas
do grande mar de dentro, as Amazonas
belicosas procura, que tão grande
terror sabiam despertar em tôdas
as tribos aguerridas do mar doce.
Loucas! Pois intentaram revoltar-se
contra o poder dos Andes, como os nobres
Titãs, vindo por isso a ser entregues
aos deuses catactônios. Mas a glória
das Amazonas não baixou nas águas
que lhes tragou o império; em fascinantes
visões revive agora, inseparável
da do maior dos sertanistas pátrios,
e eternizada neste canto que há de
ser ouvido por todo o Pindorama.

Carlos Alberto Nunes. Os Brasileidas. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1962.