Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv´eu en meu cantar;
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes a tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero loar já toda via:
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei; *sandia = doida.
mais ora já um bon cantar farei,
eu que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia*!
(João Guilherme de Guilhade, CV1097, CBN 1486)
Comentários:
-Não se diz o nome de quem recebe as invectivas; é, portanto, uma cantiga de escárnio.
"Ai, dona fea" - Sátira às cantigas de amor. Em vez de louvar à um "senhor fremosa", fala a uma "dona fea".
-A sátira fica evidente, pois o poema põe atributos da cantiga de amor ao contrário: fea (em vez de fremosa) velha (em vez de jovem) e louca[sandia] (em vez de boa).
- loar = louvar.
- sandia = doida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário