Pindarum quisquis studet aemulari,
Iulle, ceratis ope Daedalea
nititur pinnis, uitreo daturus
nomina ponto.
Monte decurrens uelut amnis, imbres 5
quem super notas aluere ripas,
feruet inmensusque ruit profundo
Pindarus ore,
laurea donandus Apollinari,
seu per audacis noua dithyrambos 10
uerba deuoluit numerisque fertur
lege solutis,
seu deos regesque canit, deorum
sanguinem, per quos cecidere iusta
morte Centauri, cecidit tremendae 15
flamma Chimaerae,
siue quos Elea domum reducit
palma caelestis pugilemue equomue
dicit et centum potiore signis
munere donat, 20
flebili sponsae iuuenemue raptum
plorat et uiris animumque moresque
aureos educit in astra nigroque
inuidet Orco.
Multa Dircaeum leuat aura cycnum, 25
tendit, Antoni, quotiens in altos
nubium tractus; ego apis Matinae
more modoque
grata carpentis thyma per laborem
plurimum circa nemus uuidique 30
Tiburis ripas operosa paruus
carmina fingo.
Concines maiore poeta plectro
Caesarem, quandoque trahet ferocis
per sacrum cliuum merita decorus 35
fronde Sygambros;
quo nihil maius meliusue terris
fata donauere bonique diui
nec dabunt, quamuis redeant in aurum
tempora priscum. 40
Concines laetosque dies et urbis
publicum ludum super impetrato
fortis Augusti reditu forumque
litibus orbum.
Tum meae, si quid loquar audiendum, 45
uocis accedet bona pars, et: 'O sol
pulcher, o laudande!' canam recepto
Caesare felix;
teque, dum procedis, io Triumphe!
non semel dicemus, io Triumphe! 50
ciuitas omnis, dabimusque diuis
tura benignis.
Te decem tauri totidemque uaccae,
me tener soluet uitulus, relicta
matre qui largis iuuenescit herbis 55
in mea uota,
fronte curuatos imitatus ignis
tertius lunae referentis ortum,
qua notam duxit niueus uideri,
cetera fuluus.
Aquele que pretende emular Píndaro,
Em penas com dedálea cera unidas,
Se estriba, ó Julo, que há de dar o nome
Ao vítreo pego.
Solto rio da serra, a quem as chuvas
Sobre as sabidas margens empolaram,
Tal ferve, e com profunda boca rue
Píndaro imenso.
Digno por certo da Apolínea láurea,
Ou por audazes ditirambos novas
Palavras volve, e com seus ritmos corre
De regras soltos:
Ou deuses canta, e reis de deuses sangue,
Pelos quais os centauros com merecida
Morte caíram; caiu da tremenda
Quimera a flama.
Ou conta aqueles que da élea palma a casa
Torna divinos, e o cavalo e o atleta,
E os brinda com uma dádiva mais nobre
Que cem estátuas:
Ou à flébil esposa o jovem chora
Roubado, e o valor e o espr'ito e os áureos
Costumes leva aos astros, e os ressalva
De Orco escuro.
Muita aura eleva, Antônio, ao Dirceu cisne,
Quando ele às altas regiões das nuvens
Desprega o voo: e eu da matina abelha
com gênio e arte,
Que com muita fadiga em torno ao bosque
E às ribas do orvalhado Tibur colhe
Gratos tomilhos, trabalhosos versos
Pequeno formo.
Tu cantarás poeta com mor plectro
A César merecido louro ornado,
Quando pelo sagrado outeiro arraste
Feros sicambros:
Nada maior,nem melhor que ele ao mundo
Os fados e os propícios deuses deram;
Nem hão de dar, inda que os tempos volvam
Ao ouro antigo.
E os ledos dias cantarás, e os jogos
Solenes da cidade, quando a vinda
Do forte Augusto conseguir, e o foro
livre de pleitos.
Então de minha voz grã parte soe
(se mereço que se ouça): Ó sol formoso,
De louvor e digno, eu cantarei, já tendo
Feliz a César.
E enquanto ele passar; viva ó Triunfo,
Diremos muita vez; toda a cidade
Dirá: viva ó Triunfo, e incensaremos
Os pios deuses.
A ti dez touros, e outras tantas vacas,
Desempenhem; a mim, tenro novilho,
Que a mãe deixando, em largos pastos cresce
Para meus votos;
Na fronte imita os encurvados fogos
Da lua, que ao terceiro dia nasce:
Aonde a mancha tem, níveo parece,
No mais é louro.
Tradução: Elpino Duriense
sexta-feira, outubro 30, 2009
sábado, outubro 24, 2009
Álcman 26 Dav.
Não mais, virgíneas melicantantes amaviófonas,
os pés me podem levar; ei, ei, alcião eu fosse
que sobre a flor da onda com alciones voa
de alma indolor maripurpúrea ave sagrada...
Tradução: José Cavalcante de Souza.
os pés me podem levar; ei, ei, alcião eu fosse
que sobre a flor da onda com alciones voa
de alma indolor maripurpúrea ave sagrada...
Tradução: José Cavalcante de Souza.
Ilíada 1 - 120: Tradução de Elpino Duriense
Ó Deusa, do Peleio Aquiles canta
A fatal ira, que infinitas mágoas
Aos Aquivos causou; e muitas almas
Valentes de herois antes do tempo
Mandou ao Orco; e os corpos insepultos
Aos cães e às aves todas deu por pasto,
(Assim de Jove o arbítrio se cumpria!)
Depois que desavindos se apartaram
Atrídes Rei do povo, e o divo Aquiles.
Qual dentre os Deuses foi, que os fez discordes
Pelejar? De Latona e Jove o Filho:
Este irritado contra o Rei, doença
Pestifera espalhou nas hostes; povos
Morriam, porque Atrídes desonrara
O sacerdote Chryses. Tinha vindo
dos Aquivos às naus ligeiras Chryses
A resgatar a filha; preço grande
Do resgate ofertando: ele trazia
Nas mãos do longe-vibrador Apolo
C'o áureo cetro o laurel, e humilde orava
A todos os Aquivos; e primeiro
Aos dois dos povos Capitães Atridas:
"Ó Atridas e Aqueus de fina greva,
Assim vos deem do Olímpio paço os Deuses
De Príamo a Cidade pôr por terra,
E ditosos voltar aos pátrios Lares:
Dai-me a querida filha; do resgate
Eis o preço; e acatai de Jove o Filho,
o largo-atirador Apolo." Todos
os Aqueus sussurraram, que se desse
Ao sacerdote acatamento e honra,
E se aceitasse o esplêndido resgate;
Mas não aprouve a Atrídes Agamemnon;
Com afronta o despede, e em tais palavras
Minazes rompe: "Nunca mais eu te veja,
Velho, nas cavas naus ora detido,
Ora depois tornado: nem a mitra,
Nem o cetro do Deus quiçá te valha
Esta de mim não largarei primeiro,
Que nos meus paços envelheça em Argos,
Longe da pátria, já urdindo as teias,
Já o meu leito compartindo: vai-te,
Não mais aqui me irrites, se tu queres
ir salvo." Assim falou: tremeu o velho
E ao dito obedeceu; e taciturno
Do largo-ressonante mar às praias
Se foi; e feito ao longe, ao Rei Apolo,
a quem pariu pulcrícoma Latona
Desta sorte implorou: "Ouve-me, ó Nume,
Trazedor-d'arco fúlgido, que amparas
Chrysa, e a divina Cilla, e forte em Tênedos
Imperas, ó Esminteu; se eu algum dia
Com meus dons te c'roei teu pulcro templo;
Se de toiros e cabras pingues coxas
Te queimei, ouve tu estes meus rogos:
Por tuas setas castigados paguem
Os Dânaos estas lágrimas." Orando
Assim falou: Ouviu-o Febo Apolo,
E do cume dos Céus desce sanhudo
Aos ombros sobrepondo o arco, e aljava,
Cerrada de uma e de outra banda, as setas
Sobre os ombros do Nume iracundo
hórridas rangem, quando move os passos.
Vinha marchando semelhante à noite:
Como a tiro das naus chegou, sentou-se:
Dali dispara a seta, e vai soando
Do arco coruscante o estalo horrível;
E aos jumentos primeiro, e cães velozes
Atira: logo os homens fere, a frecha
Mortífera arrojando; de cadáveres
Muitas fogueiras de contínuo ardem.
Por nove dias pelas hostes vibra
Apolo as frechas; mas alfim Aquiles
No décimo chamou à fala os povos:
Porque em seu peito lho inspirara Juno,
De cristalinos braços clara Dea,
Que vendo os Gregos perecer, havia
Deles piedade.Apenas se juntaram
As gentes, levantando-se dentre eles
De pés-veloz Aquiles, assim fala:
Atridas, cuido agora, que devemos
Retroceder segunda vez errantes,
(Se pudermos fugir acaso à morte)
Porquanto a um mesmo tempo a guerra, e a peste
Doma os Aquivos. Eia, consultemos
Ora algum Vate, ou Sacerdote, ou antes
Adivinho, que também de Jove o sonho
Provém, o qual nos diga, porque o Febo
Apolo tão iroso se nos mostra;
Se ele nos culpa de falsar os votos,
Ou faltar á Hecatomba; se ele acaso
Recebendo piedoso o sacrifício
De cordeiros, e cabras escolhidas,
Quer afastar de nós a dura peste".
Tendo falado assim, sentou-se Aquiles:
O testórides Calcas s'ergue entre eles,
O mór dos agoureiros, que sabia
O presente, o por vir, e o já passado,
E fora o que guiara dos Aquivos
As naus a Troia, pelo Febo Apolo
Nas adivinhas artes doutrinado;
O qual com siso lhes pregou, e disse:
"Aquiles, grato a Jove, tu me mandas
Do Rei, que longe-vibra a seta, Apolo
As iras descobrir: eu tudo pronto
te direi; porém tu promete, e jura,
que sempre me serás propício, e sempre
socorro me darás co'a voz, co' as obras;
Porquanto creio, que o Varão, que a todos
Os Argivos impera largamente,
E a quem todos os Aquivos obedecem,
Se há de irar contra mim: e quando se ira
Um Rei potente contra o que é somenos,
Caso que nesse dia a ira enfreie,
Certo depois a guarda no seu peito,
Até que chegue a se vingar: pondera
Tu pois, se me hás de dar defesa, e amparo.
Responde-lhe o veloz-cursor Aquiles:
De mim muito confia, e o vaticínio,
qualquer que sabes, nos revela: eu juro
Por Febo, grato a Jove, a quem tu, Calcas,
Orando, aos Dânaos os presságios soltas,
Nenhum dos Dânaos todos, sendo eu vivo,
E pisando esta terra, as mãos ousadas
Nas cavas naus te lançará; nem mesmo,
Se cuidas, Agamemnon, que se jacta,
Ser ora o mais valente das companhas."
Ânimo cobra o vate d'alto aviso:
"Apolo não se irou, porque vós outros
"Lhe faltásseis c'os votos e Hecatombes,
"(Então lhe diz) mas sim porque Agamemnon
"Desacatou o Sacerdote, e a filha
"Não lhe tornou, nem recebeu resgate;
"Por isso mágoas tantas vos tem dado,
"O longe-frechador, e dará inda:
Nem da peste há d'abater as mãos irosas,
Sem que antes ao querido pai se entregue
A donzela de negros olhos linda,
Não vendida, e por preço; e se dedique
Sacra Hecatombe em Crisa: por ventura
Então a nosso rogo o dobraremos"
Sentou-se, tendo assim falado: entre eles
Eis Atrida Agamemnon se levanta,
Herói, e alto senhor de vasto reino,
Indignado; de trevas afumadas
As entranhas em ira lhe intumescem:
E como ardente brasa os olhos luzem;
E logo torvo, olhando a Calcas, disse:
"Agoureiro de males, coisa grata
Nunca tu me auguraste; apraz-te sempre
Vaticinar os males; até agora
Uma boa palavra não tens dito,
Nem nada obrado; entre os Dânaos ora
Vaticinando pregas, que tais males
Lhes manda o Grande-vibrador em pena,
Porque eu não quis o esplêndido resgate
Receber da Criseida donzela,
Quando eu antes desejo tê-la em casa,
Pois que a prefiro a Clitemnestra esposa
Minha, que virgem desposei; que certo
Nem no corpo e feições do rosto, e siso,
Nem nos lavores é somenos que ela.
Mas eu a quero dar, se isto assim cumpre;
Antes quero, que seja salvo o povo,
Do que pereça; porém vós o prêmio
logo me aparelhai; porque eu não fique
Sem prêmio só,entre os Argivos todos;
Qu'isto desar me fôra; todos vedes
Que o prêmio meu a estranho dono volta."
Tradução: Elpino Duriense
Fonte: SANTOS, Antonio Ribeiro. Poesias de Elpino Duriense. 1812
A fatal ira, que infinitas mágoas
Aos Aquivos causou; e muitas almas
Valentes de herois antes do tempo
Mandou ao Orco; e os corpos insepultos
Aos cães e às aves todas deu por pasto,
(Assim de Jove o arbítrio se cumpria!)
Depois que desavindos se apartaram
Atrídes Rei do povo, e o divo Aquiles.
Qual dentre os Deuses foi, que os fez discordes
Pelejar? De Latona e Jove o Filho:
Este irritado contra o Rei, doença
Pestifera espalhou nas hostes; povos
Morriam, porque Atrídes desonrara
O sacerdote Chryses. Tinha vindo
dos Aquivos às naus ligeiras Chryses
A resgatar a filha; preço grande
Do resgate ofertando: ele trazia
Nas mãos do longe-vibrador Apolo
C'o áureo cetro o laurel, e humilde orava
A todos os Aquivos; e primeiro
Aos dois dos povos Capitães Atridas:
"Ó Atridas e Aqueus de fina greva,
Assim vos deem do Olímpio paço os Deuses
De Príamo a Cidade pôr por terra,
E ditosos voltar aos pátrios Lares:
Dai-me a querida filha; do resgate
Eis o preço; e acatai de Jove o Filho,
o largo-atirador Apolo." Todos
os Aqueus sussurraram, que se desse
Ao sacerdote acatamento e honra,
E se aceitasse o esplêndido resgate;
Mas não aprouve a Atrídes Agamemnon;
Com afronta o despede, e em tais palavras
Minazes rompe: "Nunca mais eu te veja,
Velho, nas cavas naus ora detido,
Ora depois tornado: nem a mitra,
Nem o cetro do Deus quiçá te valha
Esta de mim não largarei primeiro,
Que nos meus paços envelheça em Argos,
Longe da pátria, já urdindo as teias,
Já o meu leito compartindo: vai-te,
Não mais aqui me irrites, se tu queres
ir salvo." Assim falou: tremeu o velho
E ao dito obedeceu; e taciturno
Do largo-ressonante mar às praias
Se foi; e feito ao longe, ao Rei Apolo,
a quem pariu pulcrícoma Latona
Desta sorte implorou: "Ouve-me, ó Nume,
Trazedor-d'arco fúlgido, que amparas
Chrysa, e a divina Cilla, e forte em Tênedos
Imperas, ó Esminteu; se eu algum dia
Com meus dons te c'roei teu pulcro templo;
Se de toiros e cabras pingues coxas
Te queimei, ouve tu estes meus rogos:
Por tuas setas castigados paguem
Os Dânaos estas lágrimas." Orando
Assim falou: Ouviu-o Febo Apolo,
E do cume dos Céus desce sanhudo
Aos ombros sobrepondo o arco, e aljava,
Cerrada de uma e de outra banda, as setas
Sobre os ombros do Nume iracundo
hórridas rangem, quando move os passos.
Vinha marchando semelhante à noite:
Como a tiro das naus chegou, sentou-se:
Dali dispara a seta, e vai soando
Do arco coruscante o estalo horrível;
E aos jumentos primeiro, e cães velozes
Atira: logo os homens fere, a frecha
Mortífera arrojando; de cadáveres
Muitas fogueiras de contínuo ardem.
Por nove dias pelas hostes vibra
Apolo as frechas; mas alfim Aquiles
No décimo chamou à fala os povos:
Porque em seu peito lho inspirara Juno,
De cristalinos braços clara Dea,
Que vendo os Gregos perecer, havia
Deles piedade.Apenas se juntaram
As gentes, levantando-se dentre eles
De pés-veloz Aquiles, assim fala:
Atridas, cuido agora, que devemos
Retroceder segunda vez errantes,
(Se pudermos fugir acaso à morte)
Porquanto a um mesmo tempo a guerra, e a peste
Doma os Aquivos. Eia, consultemos
Ora algum Vate, ou Sacerdote, ou antes
Adivinho, que também de Jove o sonho
Provém, o qual nos diga, porque o Febo
Apolo tão iroso se nos mostra;
Se ele nos culpa de falsar os votos,
Ou faltar á Hecatomba; se ele acaso
Recebendo piedoso o sacrifício
De cordeiros, e cabras escolhidas,
Quer afastar de nós a dura peste".
Tendo falado assim, sentou-se Aquiles:
O testórides Calcas s'ergue entre eles,
O mór dos agoureiros, que sabia
O presente, o por vir, e o já passado,
E fora o que guiara dos Aquivos
As naus a Troia, pelo Febo Apolo
Nas adivinhas artes doutrinado;
O qual com siso lhes pregou, e disse:
"Aquiles, grato a Jove, tu me mandas
Do Rei, que longe-vibra a seta, Apolo
As iras descobrir: eu tudo pronto
te direi; porém tu promete, e jura,
que sempre me serás propício, e sempre
socorro me darás co'a voz, co' as obras;
Porquanto creio, que o Varão, que a todos
Os Argivos impera largamente,
E a quem todos os Aquivos obedecem,
Se há de irar contra mim: e quando se ira
Um Rei potente contra o que é somenos,
Caso que nesse dia a ira enfreie,
Certo depois a guarda no seu peito,
Até que chegue a se vingar: pondera
Tu pois, se me hás de dar defesa, e amparo.
Responde-lhe o veloz-cursor Aquiles:
De mim muito confia, e o vaticínio,
qualquer que sabes, nos revela: eu juro
Por Febo, grato a Jove, a quem tu, Calcas,
Orando, aos Dânaos os presságios soltas,
Nenhum dos Dânaos todos, sendo eu vivo,
E pisando esta terra, as mãos ousadas
Nas cavas naus te lançará; nem mesmo,
Se cuidas, Agamemnon, que se jacta,
Ser ora o mais valente das companhas."
Ânimo cobra o vate d'alto aviso:
"Apolo não se irou, porque vós outros
"Lhe faltásseis c'os votos e Hecatombes,
"(Então lhe diz) mas sim porque Agamemnon
"Desacatou o Sacerdote, e a filha
"Não lhe tornou, nem recebeu resgate;
"Por isso mágoas tantas vos tem dado,
"O longe-frechador, e dará inda:
Nem da peste há d'abater as mãos irosas,
Sem que antes ao querido pai se entregue
A donzela de negros olhos linda,
Não vendida, e por preço; e se dedique
Sacra Hecatombe em Crisa: por ventura
Então a nosso rogo o dobraremos"
Sentou-se, tendo assim falado: entre eles
Eis Atrida Agamemnon se levanta,
Herói, e alto senhor de vasto reino,
Indignado; de trevas afumadas
As entranhas em ira lhe intumescem:
E como ardente brasa os olhos luzem;
E logo torvo, olhando a Calcas, disse:
"Agoureiro de males, coisa grata
Nunca tu me auguraste; apraz-te sempre
Vaticinar os males; até agora
Uma boa palavra não tens dito,
Nem nada obrado; entre os Dânaos ora
Vaticinando pregas, que tais males
Lhes manda o Grande-vibrador em pena,
Porque eu não quis o esplêndido resgate
Receber da Criseida donzela,
Quando eu antes desejo tê-la em casa,
Pois que a prefiro a Clitemnestra esposa
Minha, que virgem desposei; que certo
Nem no corpo e feições do rosto, e siso,
Nem nos lavores é somenos que ela.
Mas eu a quero dar, se isto assim cumpre;
Antes quero, que seja salvo o povo,
Do que pereça; porém vós o prêmio
logo me aparelhai; porque eu não fique
Sem prêmio só,entre os Argivos todos;
Qu'isto desar me fôra; todos vedes
Que o prêmio meu a estranho dono volta."
Tradução: Elpino Duriense
Fonte: SANTOS, Antonio Ribeiro. Poesias de Elpino Duriense. 1812
sexta-feira, outubro 23, 2009
Híbrias - Fr. 2 Diehl
Grande riqueza tenho: a lança, a espada
e o belo escudo que me cobre o corpo;
com eles lavro, ceifo; e o doce vinho
com eles eu vindimo na parreira
e patrão sou chamado de criados.
Os que não ousam ter espada e lança
e um belo escudo que lhes cubra o corpo,
cheios de susto, abraçam-me os joelhos
e de patrão, de grande rei me chamam.
Tradução de Aluízio Faria de Coimbra.
Fonte: Os elegíacos Gregos, de Calino a Crates. São Paulo, 1941.
e o belo escudo que me cobre o corpo;
com eles lavro, ceifo; e o doce vinho
com eles eu vindimo na parreira
e patrão sou chamado de criados.
Os que não ousam ter espada e lança
e um belo escudo que lhes cubra o corpo,
cheios de susto, abraçam-me os joelhos
e de patrão, de grande rei me chamam.
Tradução de Aluízio Faria de Coimbra.
Fonte: Os elegíacos Gregos, de Calino a Crates. São Paulo, 1941.
sexta-feira, outubro 16, 2009
Epicarmo Fr.1
Sou um cadáver; um cadáver é adubo, e adubo é a terra;
mas se a terra é um Deus, não sou cadáver, e sim um Deus.
mas se a terra é um Deus, não sou cadáver, e sim um Deus.
Focílides
Fr. 2 [Adrados]
Também isto é de Focílide: as classes de mulheres nasceram
destes quatro animais: da cadela, da abelha;
da terrível javalina, da égua de longa crina.
Esta é vigorosa, rápida, corredora, bela;
a que nasceu da terrível javalina, nem má, nem boa;
a da cadela, de gênio difícil e brava; a da abelha,
boa dona de casa e sabe trabalhar;
reza, caro amigo, para conseguir o desejável casamento com essa.
Fr. 3 [Adrados]
Também isto é de Focílide: que importa ser de origem nobre,
para aquele que a graça não acompanha nem nas palavras nem nas decisões?
Fr.4 [Adrados]
Também isto é de Focílide: uma pequena cidade, no cimo de um monte,
que vive bem governada, é mais forte que uma Nínive insensata.
Fr. 5 [Adrados]
Também isto é de Focílide: é preciso que o amigo com o amigo
medite em tudo o que os concidadãos murmurem.
Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
Também isto é de Focílide: as classes de mulheres nasceram
destes quatro animais: da cadela, da abelha;
da terrível javalina, da égua de longa crina.
Esta é vigorosa, rápida, corredora, bela;
a que nasceu da terrível javalina, nem má, nem boa;
a da cadela, de gênio difícil e brava; a da abelha,
boa dona de casa e sabe trabalhar;
reza, caro amigo, para conseguir o desejável casamento com essa.
Fr. 3 [Adrados]
Também isto é de Focílide: que importa ser de origem nobre,
para aquele que a graça não acompanha nem nas palavras nem nas decisões?
Fr.4 [Adrados]
Também isto é de Focílide: uma pequena cidade, no cimo de um monte,
que vive bem governada, é mais forte que uma Nínive insensata.
Fr. 5 [Adrados]
Também isto é de Focílide: é preciso que o amigo com o amigo
medite em tudo o que os concidadãos murmurem.
Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
sexta-feira, outubro 09, 2009
Aspiração
Já não queria a maternal adoração
que afinal nos exaure, e resplandece em pânico,
tampouco o sentimento de um achado precioso
como o de Catarina Kippenberg aos pés de Rilke.
E não queria o amor, sob disfarces tontos
da mesma ninfa desolada no seu ermo
e a constante procura de sede e não de linfa,
e não queria também a simples flor do sexo,
abscôndita, sem nexo, nas hospedarias do vento,
como ainda não quero a amizade geométrica
de almas que se elegeram numa seara orgulhosa,
imbricamento, talvez? de carências melancólicas.
Aspiro antes à fiel indiferença
mas pausada bastante para sustentar a vida
e, na sua indiscriminação de crueldade e diamante,
capaz de sugerir o fim sem a injustiça dos prêmios.
que afinal nos exaure, e resplandece em pânico,
tampouco o sentimento de um achado precioso
como o de Catarina Kippenberg aos pés de Rilke.
E não queria o amor, sob disfarces tontos
da mesma ninfa desolada no seu ermo
e a constante procura de sede e não de linfa,
e não queria também a simples flor do sexo,
abscôndita, sem nexo, nas hospedarias do vento,
como ainda não quero a amizade geométrica
de almas que se elegeram numa seara orgulhosa,
imbricamento, talvez? de carências melancólicas.
Aspiro antes à fiel indiferença
mas pausada bastante para sustentar a vida
e, na sua indiscriminação de crueldade e diamante,
capaz de sugerir o fim sem a injustiça dos prêmios.
quarta-feira, outubro 07, 2009
Teognideia, vv. 01-04
Ó senhor, filho de Leto, nascido de Zeus, jamais te
esquecerei nem ao começar a compor nem ao terminar
mas, sempre, no início, no fim e no decorrer do poema
te cantarei; assim, ouve-me e concede-me teu favor.
Tradução: Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
Fonte: MALHADAS, D. & NEVES, M.H.M. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
esquecerei nem ao começar a compor nem ao terminar
mas, sempre, no início, no fim e no decorrer do poema
te cantarei; assim, ouve-me e concede-me teu favor.
Tradução: Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
Fonte: MALHADAS, D. & NEVES, M.H.M. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
Sólon Fr. 4 W (Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves)
Nossa cidade jamais pelo desígnio de Zeus
perecerá nem pela vontade dos bem-aventurados deuses imortais
pois a tão magnânima e protetora Palas Atena,
filha do poderoso pai, tem suas mãos sobre nós.
Os próprios cidadãos, porém, querem destruir, com suas loucuras [5]
nossa grande cidade, persuadidos pelas riquezas,
e há também o injusto propósito dos chefes do povo,para os quais está reservado,
por seu grande descomedimento, muitas dores sofrer:
pois nem sabem controlar a fartura nem organizar
com tranqulidade as alegrias do festim de hoje [10]
..............................................
enriquecem, por ações injustas deixando-se persuadir
.............................................
nem os bens sagrados nem os do estado
poupam, mas furtam-nos em pilhagem cada qual por seu lado,
nem guardam os veneráveis fundamentos da Justiça,
a qual, silenciosa, ciente do que acontece e do que aconteceu,[15]
com o tempo vem para executar cabal vingança.
Esta ferida inevitável já atinge a cidade toda,
leva-a rapidamente à nociva escravidão,
que desperta a sedição civil e a guerra adormecida,
esta que foi a ruína da juventude encantadora de muitos homens;[20]
pois pelos inimigos rapidamente uma cidade formosa
é arruinada nas associações em que se comprazem os injustos.
Esses os males que envolvem o povo; muitos
pobres chegam a uma terra estranha
vendidos e, com desonrosas correntes, amarrados,[25]
.................................................
Assim o infortúnio público atinge cada um em sua casa;
as portas do pórtico não podem detê-lo,
por cima do elevado muro salta, e encontra por certo o morador
mesmo que fuja para a parte mais recuada de seu quarto.
Ensinar isto aos atenienses é o que o meu coração ordena: [30]
de que modo os mais numerosos males a uma cidade Disnomia causa,
e de que modo Eunomia garante ordem e justiça plena e sempre aos injustos acorrenta;
ela aplaina as asperezas, faz cessar a fartura, aniquila o descomedimento,
seca as flores da desgraça, quando brotam,
corrige os julgamentos errados e modera as ações
orgulhosas; faz cessar as obras da discórdia,
faz cessar o ódio da terrível sedição, e graças a ela
todas as ações humanas são justas e sábias.
Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
Fonte: MALHADAS, D. & NEVES, M.H.M. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
perecerá nem pela vontade dos bem-aventurados deuses imortais
pois a tão magnânima e protetora Palas Atena,
filha do poderoso pai, tem suas mãos sobre nós.
Os próprios cidadãos, porém, querem destruir, com suas loucuras [5]
nossa grande cidade, persuadidos pelas riquezas,
e há também o injusto propósito dos chefes do povo,para os quais está reservado,
por seu grande descomedimento, muitas dores sofrer:
pois nem sabem controlar a fartura nem organizar
com tranqulidade as alegrias do festim de hoje [10]
..............................................
enriquecem, por ações injustas deixando-se persuadir
.............................................
nem os bens sagrados nem os do estado
poupam, mas furtam-nos em pilhagem cada qual por seu lado,
nem guardam os veneráveis fundamentos da Justiça,
a qual, silenciosa, ciente do que acontece e do que aconteceu,[15]
com o tempo vem para executar cabal vingança.
Esta ferida inevitável já atinge a cidade toda,
leva-a rapidamente à nociva escravidão,
que desperta a sedição civil e a guerra adormecida,
esta que foi a ruína da juventude encantadora de muitos homens;[20]
pois pelos inimigos rapidamente uma cidade formosa
é arruinada nas associações em que se comprazem os injustos.
Esses os males que envolvem o povo; muitos
pobres chegam a uma terra estranha
vendidos e, com desonrosas correntes, amarrados,[25]
.................................................
Assim o infortúnio público atinge cada um em sua casa;
as portas do pórtico não podem detê-lo,
por cima do elevado muro salta, e encontra por certo o morador
mesmo que fuja para a parte mais recuada de seu quarto.
Ensinar isto aos atenienses é o que o meu coração ordena: [30]
de que modo os mais numerosos males a uma cidade Disnomia causa,
e de que modo Eunomia garante ordem e justiça plena e sempre aos injustos acorrenta;
ela aplaina as asperezas, faz cessar a fartura, aniquila o descomedimento,
seca as flores da desgraça, quando brotam,
corrige os julgamentos errados e modera as ações
orgulhosas; faz cessar as obras da discórdia,
faz cessar o ódio da terrível sedição, e graças a ela
todas as ações humanas são justas e sábias.
Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves
Fonte: MALHADAS, D. & NEVES, M.H.M. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
sexta-feira, outubro 02, 2009
Álcman 3 Dav.
Musas do Olimpo, o meu espírito
com o desejo de um canto novo
enchei! Quero ouvir
a voz virginal
a entoar até o céu a bela melodia!
...
sobre as minhas pálpebras espalhará o doce sono
...
depressa agitarei os louros cabelos.
...
Com desejo que deslassa os membros, ela lança-me
um olhar mais derretedor que o sono ou a morte.
A doçura dela não é em vão.
Astimelusa não me responde,
mas de grinalda na mão,
como uma estrela cintilante
no céu fulgente,
ou ramo de ouro ou macia penugem...
...
Quem me dera que ela me pegasse pela mão!
Depressa eu me tornaria suplicante dela.
Tradução: Frederico Lourenço.
Fonte: LOURENÇO, F. (org.) Poesia Grega de Álcman a Teócrito. Livraria Cotovia. 2006.
com o desejo de um canto novo
enchei! Quero ouvir
a voz virginal
a entoar até o céu a bela melodia!
...
sobre as minhas pálpebras espalhará o doce sono
...
depressa agitarei os louros cabelos.
...
Com desejo que deslassa os membros, ela lança-me
um olhar mais derretedor que o sono ou a morte.
A doçura dela não é em vão.
Astimelusa não me responde,
mas de grinalda na mão,
como uma estrela cintilante
no céu fulgente,
ou ramo de ouro ou macia penugem...
...
Quem me dera que ela me pegasse pela mão!
Depressa eu me tornaria suplicante dela.
Tradução: Frederico Lourenço.
Fonte: LOURENÇO, F. (org.) Poesia Grega de Álcman a Teócrito. Livraria Cotovia. 2006.
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