sexta-feira, outubro 30, 2009

Horácio, IV. 2

Pindarum quisquis studet aemulari,
Iulle, ceratis ope Daedalea
nititur pinnis, uitreo daturus
nomina ponto.

Monte decurrens uelut amnis, imbres 5
quem super notas aluere ripas,
feruet inmensusque ruit profundo
Pindarus ore,

laurea donandus Apollinari,
seu per audacis noua dithyrambos 10
uerba deuoluit numerisque fertur
lege solutis,

seu deos regesque canit, deorum
sanguinem, per quos cecidere iusta
morte Centauri, cecidit tremendae 15
flamma Chimaerae,

siue quos Elea domum reducit
palma caelestis pugilemue equomue
dicit et centum potiore signis
munere donat, 20

flebili sponsae iuuenemue raptum
plorat et uiris animumque moresque
aureos educit in astra nigroque
inuidet Orco.

Multa Dircaeum leuat aura cycnum, 25
tendit, Antoni, quotiens in altos
nubium tractus; ego apis Matinae
more modoque

grata carpentis thyma per laborem
plurimum circa nemus uuidique 30
Tiburis ripas operosa paruus
carmina fingo.

Concines maiore poeta plectro
Caesarem, quandoque trahet ferocis
per sacrum cliuum merita decorus 35
fronde Sygambros;

quo nihil maius meliusue terris
fata donauere bonique diui
nec dabunt, quamuis redeant in aurum
tempora priscum. 40

Concines laetosque dies et urbis
publicum ludum super impetrato
fortis Augusti reditu forumque
litibus orbum.

Tum meae, si quid loquar audiendum, 45
uocis accedet bona pars, et: 'O sol
pulcher, o laudande!' canam recepto
Caesare felix;

teque, dum procedis, io Triumphe!
non semel dicemus, io Triumphe! 50
ciuitas omnis, dabimusque diuis
tura benignis.

Te decem tauri totidemque uaccae,
me tener soluet uitulus, relicta
matre qui largis iuuenescit herbis 55
in mea uota,

fronte curuatos imitatus ignis
tertius lunae referentis ortum,
qua notam duxit niueus uideri,
cetera fuluus.



Aquele que pretende emular Píndaro,
Em penas com dedálea cera unidas,
Se estriba, ó Julo, que há de dar o nome
Ao vítreo pego.

Solto rio da serra, a quem as chuvas
Sobre as sabidas margens empolaram,
Tal ferve, e com profunda boca rue
Píndaro imenso.

Digno por certo da Apolínea láurea,
Ou por audazes ditirambos novas
Palavras volve, e com seus ritmos corre
De regras soltos:

Ou deuses canta, e reis de deuses sangue,
Pelos quais os centauros com merecida
Morte caíram; caiu da tremenda
Quimera a flama.

Ou conta aqueles que da élea palma a casa
Torna divinos, e o cavalo e o atleta,
E os brinda com uma dádiva mais nobre
Que cem estátuas:

Ou à flébil esposa o jovem chora
Roubado, e o valor e o espr'ito e os áureos
Costumes leva aos astros, e os ressalva
De Orco escuro.

Muita aura eleva, Antônio, ao Dirceu cisne,
Quando ele às altas regiões das nuvens
Desprega o voo: e eu da matina abelha
com gênio e arte,

Que com muita fadiga em torno ao bosque
E às ribas do orvalhado Tibur colhe
Gratos tomilhos, trabalhosos versos
Pequeno formo.

Tu cantarás poeta com mor plectro
A César merecido louro ornado,
Quando pelo sagrado outeiro arraste
Feros sicambros:

Nada maior,nem melhor que ele ao mundo
Os fados e os propícios deuses deram;
Nem hão de dar, inda que os tempos volvam
Ao ouro antigo.

E os ledos dias cantarás, e os jogos
Solenes da cidade, quando a vinda
Do forte Augusto conseguir, e o foro
livre de pleitos.

Então de minha voz grã parte soe
(se mereço que se ouça): Ó sol formoso,
De louvor e digno, eu cantarei, já tendo
Feliz a César.

E enquanto ele passar; viva ó Triunfo,
Diremos muita vez; toda a cidade
Dirá: viva ó Triunfo, e incensaremos
Os pios deuses.

A ti dez touros, e outras tantas vacas,
Desempenhem; a mim, tenro novilho,
Que a mãe deixando, em largos pastos cresce
Para meus votos;

Na fronte imita os encurvados fogos
Da lua, que ao terceiro dia nasce:
Aonde a mancha tem, níveo parece,
No mais é louro.

Tradução: Elpino Duriense

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