domingo, dezembro 16, 2007

Píndaro - 1º Ode olímpica

Água é o melhor de tudo: o ouro incandescente
À noite brilha no exceder-se da riqueza.
Se os prélios, ó minh'alma, anseias celebrar,
Brilhante, mais que o sol, tu nada encontrarás,
Quando no céu se queima, encastelado, o dia.
Melhores prélios que os olímpios tu não cantas!
De lá desatam-se mil vozes,
A incitar o gênio dos artistas,
Para gáudio de Zeus, filho de Crono,alçando-se
Dos ricos tetos do herói Hierão,
Que na Sicília, prenhe de manadas, tem

Um cetro e colhe da virtude a fina essência,
E a si cultiva com deslumbres musicais,
Com que em sua mesa nós também somos honrados!
A dória lira enceta, se de Ferenico,
Em Pisa, o trote belo te empolgou,
Quando às margens do Alfeu,
Num solavanco, sem espora e sem chicote,
A seu senhor nessa carreira deu a taça.

Do cavaleiro rei de Siracusa, a glória
Rebrilha na colônia dos heróis, fundada
Por Pélops, a quem o Abala-terra amou,
Posídon, desde que viu Cloto retirá-lo
À mágica bacia, co'as espaldas lúcidas,
Ornato de marfim. Espanto há neste mundo,
Onde a saga dos homens se deturpa sempre,
E as narrativas mentirosas,
mesmo buriladas, sempre desanimam.

Ilude sempre o mel da graça o pensamento
Aos que estão vivos, o que é falso vira ser,
Veraz e costumeiro: só em vindouros dias
Os testemunhos confiáveis nos teremos.
Só coisas belas é veraz falar dos deuses,
Que assim menor vai ser a nossa culpa! Ó filho
De Tântalo, de ti, contra os antigos, vou
Falar: quando teu pai os deuses convidou
Para um banquete no alto da montanha, em Sípilo,
O lúcido senhor do garfo de três pontas
Te enlevou alucinado de desejo em seus
Corcéis de ouro para Zeus de amados paços,
Como depois também viria Ganimedes
Para honrar Zeus, e foi por isso que sumiste!
Contudo, à tua mãe, de mãos vazias voltam
Os que a buscar-te ela mandara, e então falaz
Vizinho por inveja diz que em flama ardente
E n'água borbulhante os membros co'uma faca
Te cortaram para seres pasto no banquete.

É impossível chamar-se um deus de canibal!
Eu me recuso! A impunidade não compensa
Esta calúnia.Ora, se alguém no Olimpo honrado
um dia foi, ninguém o foi melhor que Tântalo.
Mas conviver ele não soube com a glória.
A ganância foi levá-lo para a suma desventura,
Pois uma pedra Zeus lhe pôs sobre a cabeça,
Que ele tem sempre que afastar, pra sua inglória.

E a vida sob tal desgraça lhe foi dura,
Após o néctar ter roubado aos imortais,
E mais a ambrósia que confere a eterna vida,
E tê-los aos convivas dado num banquete.
Erra quem pensa se ocultar de um deus,
Ao praticar um mal. Por isso os deuses
O filho dele despediram para o mundo
Dos mortais, e quando em flor ao queixo
Lhe cobriu penugem negra, ele cuidou

Em Pisa se casar com Hipodâmia bela,
No escuro, vindo só, e o mar acinzentado,
E a Posídon-dos-Ruídos-Retumbantes invocou,
E o deus de pé lhe apareceu, e o herói
Lhe disse: "Se os dons de Vênus terna têm
Encanto, ó Posídon, a espada de Oinomao
Tu paralisa, e a mim me leva a Élis
No mais rápido corcel que tu tiveres,
Porque tal pai matou os treze que sua filha
Desejaram desposar, e assim vai retardando
Um casamento, mas um risco não arrasta
A um homem sem valor. Por que me iria consumir
Em vil velhice, à sombra recostado, em vão,
E sem provar da formosura? O prêmio eu tenho
À minha frente, a tua ajuda não me negues".
E as palavras que ele usou não foram vãs.
O deus lhe deu para ajudá-lo um áureo carro
Com corcéis que, alados, não se cansam nunca.

Com tal donzela ele casou, pois superou
Ao bravo pai, e dela teve filhos ínclitos,
Ao todo seis, a conduzir nações, e ao túmulo
Deitado junto ao rio Alfeu, exposto jaz
Pras santas libações, perto do altar que mais
Recebe visitantes, e alta brilha assim a glória
De Pelops nas disputas Olimpiais,
Seja no curso ou força bruta, e goza
O vencedor sua glória toda a vida, doce
Como a colmeia, cumulado de regalos,
Pois os dons que não se perdem são para sempre.
A mim compete coroar então ao grão patrono,
Ou quer na lira eólia ou síncope dos trotes,
Pois nunca irão louvar os hinos meus alguém
Que mais adoração demonstre ao grandioso
E ao belo como tu, Hierão, que um deus sempre te siga!
Mais doce a mim será te celebrar em teu triunfo,
Quando um carro vais de Cronos à colina,
Buscar razões mais dignas de encômios,
E as setas mais potentes guarda para mim
A musa, maiores umas do que as outras,
Porque são dos reis! Ao longe não me olhes,
Olhar ao céu é o que te cabe,
E a mim juntar-me aos vencedores,
E espalhar por Grécia toda a flama dos meus versos.


[Tradução: Antônio Medina Rodrigues]

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