G.Moreau. Hésiode et la Muse. 1891 |
Por Rafael Brunhara
As traduções integrais do poema
de Hesíodo Teogonia começam na década de 80 e vem do meio
universitário. Antes disso, a única tradução que pude rastrear foi a
de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), patriarca da
Independência, em sua obra Poesias avulsas de Américo Elísio, de
1825, onde traduz trechos da Gigantomaquia (versos 629ss) e a descrição do
Estige (vv.775ss) e adverte que, no poema, "apesar da secura enfadonha, há
trechos de grande valentia e sublimidade"(1825,p.101).
A posição de Bonifácio parece
refletir um pouco o que se pensava sobre Hesíodo no século XIX. Diferentemente
do que veremos no século seguinte e similarmente ao que ocorria na Antiguidade,
a obra central de Hesíodo para os eruditos lusófonos do XIX não era a Teogonia mas
os Trabalhos e Dias, sobretudo por sua ascendência com Virgílio,
como é possível depreender do testemunho de Antônio José Viale, que a considera
"a mais perfeita de suas poéticas composições" com "exhortações
e máximas moraes dignas de Sócrates e Platão" e que "mereceu ser
imitada por Virgílio nas Geórgicas, se bem que o poeta latino lhe
levou indisputavelmente a palma" (1868, p.210). João Félix
Pereira (1822-1891), partindo dessa mesma discussão, traduz 182 versos do
poema que versam sobre a agricultura (ver Rolim de Moura,2014).
Este quadro muda a partir
do final do século XX, quando se começa a notar a predominância das traduções
da Teogonia. Hoje há 7 traduções integrais do poema, além
de muitas traduções parciais, sobretudo dos versos 1-115, que constituem o
chamado "Hino às Musas".
A primeira tradução em
língua portuguesa é a das docentes da UFF Ana Lúcia Silveira Cerqueira e Maria Terezinha Arêas Lyra.
Publicada pela primeira vez em 1979, até hoje é reeditada pela
Editora da UFF, estando atualmente em sua terceira edição (2a ed. 1986, 3a ed.
2009). É uma tradução em prosa, acessível, que buscou oferecer uma edição de
"cunho didático" (2009, p.11) aos leitores brasileiros e
"familiarizar o leitor com a cultura e crenças helênicas em sua ordenação
primeira" (2009, p.12). Entretanto, também professa o ideal da transcriação cunhado
por Haroldo de Campos "na tentativa de recriar em nossa língua o que foi
criado em língua grega" (2009, p.11).
A tradução
do professor da USP José Antônio
Alves Torrano já estava pronta desde 1978 e foi apresentada em 1980 como parte de sua dissertação de mestrado. No ano seguinte, a editora Massao Ohno - Roswitha Kempf a publicaria pela primeira vez. A editora Iluminuras segue reeditando-a até hoje, e a obra está atualmente em sua 6a edição (de 2006).
Acompanhada por um ensaio sobre o pensamento mítico grego arcaico, a tradução
observa a potência numinosa da Teogonia e é a primeira
tradução poética do poema, buscando transmitir, em língua portuguesa, o
ritmo, a sequência das imagens e a transparência dos nomes do original.
Tive acesso a uma tradução integral, em versos, feita por Donaldo Schuler, professor emérito de língua e literatura gregas da UFRGS; este trabalho possivelmente circulou apenas em sala de aula e ainda permanece inédito. À margem da cópia a mim gentilmente cedida por um ex-aluno do professor, consta o ano da tradução anotado à mão: 1998. Também inédita é a tradução de Antônio Medina Rodrigues (1940-2013),professor da Universidade de São Paulo, escritor e poeta. Assim como a tradução de Schuler, esta tradução circulou apenas entre seus alunos. Dada a mim por Patrícia Reis Braga, esta tradução data de 2003, quando Medina então ministrou um curso sobre os poemas de Hesíodo.
Em 2005 nasce a primeira
tradução integral portuguesa num volume editado pela Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, reunindo a Teogonia (por Ana Elias Pinheiro, pesquisadora de Coimbra) e os Trabalhos
e dias (por José Ribeiro Ferreira, docente da Universidade de
Coimbra).
Sueli Maria de Regino, escritora e
docente da UFG, publica em 2010 uma tradução em prosa pela Editora Martin
Claret e Christian Werner,
docente da USP, publica em 2013 uma nova tradução em versos pela Editora Hedra.
É também de 2013 a tradução do filósofo e YouTuber Henry Alfred Bugalho, publicada
inicialmente de maneira independente pela Editora Oficina e reeditada em 2021
pela Kotter Editorial. A mais recente tradução integral do poema é do mestrando
em Literatura da UFRGS Bruno
Palavro, que o traduziu em 2018 para sua monografia A Theogonia
de Hesíodo: traduzida & anotada pela mão de Bruno Palavro. Atualmente o
pesquisador se dedica à tradução integral de todos os poemas de Hesíodo num método
similar ao empregado por Carlos Alberto Nunes em suas traduções dos épicos
homéricos, procurando simular o verso original grego em língua
portuguesa.
Além das traduções integrais,
trechos do poema -- na verdade, os seus 115 primeiros versos, que constituem a
invocação e o hino às Musas -- foram traduzidos em artigos, teses e capítulos
de livro. José Marcos Mariani de
Macedo, docente de língua e literatura grega da USP, realiza uma
tradução operacional em seu livro A palavra ofertada: um estudo
retórico dos hinos gregos e indianos (Editora da Unicamp, 2010).
Em 2012, André Malta, também docente de grego na USP, publica a sua coletânea de ensaios Homero Múltiplo (EDUSP) e lá inclui uma tradução do Hino às Musas, adotando o mesmo método de suas traduções de poesia homérica, a justaposição de dois versos heptassílabos que correspondem a um verso do original grego. Rafael Silva, pesquisador da UFMG, publica duas versões do trecho em periódicos acadêmicos: uma em 2014, pela revista Versalete, da UFPR, e outra em 2020, no volume 9 do periódico da UnB Belas Infiéis. Publicada no volume 2, número 4, do periódico acadêmico Pólemos, também em 2014, está a tradução de Allan David dos Santos Tórma, mestre em Filosofia pela UnB, que para sua tradução consultou "a título de comparação, as traduções da Teogonia de Ana Lúcia Silveira Cerqueira e Maria Terezinha Arêas Lyra (1986), José Antônio Alves Torrano (1995), Hugh Evelyn-White (1910) e José Marcos Mariani de Macedo (2010)" (2014, p.255). O professor de Letras Clássicas da UFPB e escritor Milton Marques Júnior também nos cedeu gentilmente uma tradução inédita do poema, utilizada desde 2015 em seus cursos de Literatura Grega. Em seu livro Poesia Grega - de Hesíodo a Teócrito (Lisboa, Quetzal, 2020) Frederico Lourenço, docente da Universidade de Coimbra, traduziu excertos de Hesíodo, dentre eles os 34 primeiros versos da Teogonia. Por fim, aponho uma tradução de minha responsabilidade, inédita.
Agradeço às Profas. Maria Cecília Miranda Nogueira Coelho (UFMG) e Charlene Miotti (UFJF) que gentilmente me cederam cópias da tradução de Ana Lúcia Silveira & Maria Terezinha Arêas Lyra; à Patrícia Reis Braga por digitalizar e me enviar as traduções ainda inéditas de Antônio Medina Rodrigues; a Bruno Palavro (UFRGS), ao Prof. André Malta (USP) e ao Prof. Milton Marques Júnior (UFPB) por enviarem versões inéditas e atualizadas de suas traduções. Ao Bruno Palavro também por ler uma primeira versão desse texto.
1. Ana Lúcia
Silveira Cerqueira e Maria Terezinha Arêas Lyra (1979/2009)
Comecemos por cantar as Musas
heliconianas, as Musas que habitam a alta e divina montanha do Hélicon e que,
em torno das fontes de águas sombrias e do altar do todo-poderoso filho de
Cronos, dançam com seus pés ligeiros. Elas vêm banhar-se, virgens delicadas,
nas águas do Permesso ou do Hipocrene ou do Olmeu divino e, em seguida, formam,
no cimo do Hélicon, seus coros belos e encantadores, com passos de ritmo vivo;
depois, elas se afastam envoltas em sombras e, caminhando na noite, lançam ao
vento sua maravilhosa voz celebrando os deuses: a Zeus que detém a égide, à
venerável Hera de Argos, calçada com sandálias de ouro, à Atená, a filha de
olhos azuis de Zeus que detém a égide, a Febo Apolo, à arqueira Ártemis, a
Poseidon, senhor da terra que abala o solo, à veneranda Têmis, à Afrodite dos
olhos que faíscam, à Hebe coroada de ouro, à bela Dione, à Leto, a Jápeto, a
Cronos de pensamentos velhacos, à Eos (Aurora) ao grande Hélios (Sol), à
brilhante Selene (Lua) à Gaia (Terra), ao grandioso Oceano, à negra Noite, e à
restante linhagem sagrada dos imortais sempre vivos!
Foram elas que um dia ensinaram
a Hesíodo um belo canto, quando ele apascentava seus cordeiros, ao pé do
Hélicon divino. E eis as primeiras palavras que me dirigiram as Musas do
Olimpo, filhas de Zeus que detém a égide: "Pastores que habitam os campos,
tristes opróbrios da terra, que nada sois senão ventres. Sabemos contar
mentiras muito semelhantes às realidades, mas sabemos também, quando queremos,
proclamar verdades".
Assim falaram as filhas legítimas do grande Zeus, e por cetro me ofereceram o
bastão da Sabedoria, para que eu glorificasse as coisas futuras e as passadas,
enquanto me ordenavam celebrar a estirpe dos deuses eternos e, em primeiro
lugar, a elas mesmas, tanto no começo como no fim dos meus cantos. Mas por que
todas estas palavras ao redor do carvalho e do rochedo?
2. Jaa
Torrano (1981/2006)
Pelas Musas
heliconíades comecemos a cantar.
Elas têm grande e divino o monte Hélicon,
em volta da fonte violácea com pés suaves
dançam e do altar do bem forte filho de Crono.
Banharam a tenra pele no Permesso
ou na fonte do Cavalo ou no Olmio divino
e irrompendo com os pés fizeram coros
belos ardentes no ápice do Hélicon.
Daí precipitando-se ocultas por muita névoa
vão em renques noturnos lançando belíssima voz ,
hineando Zeus porta-égide, a soberana Hera
de Argos calçada de áureas sandálias,
Atena de olhos glaucos virgem de Zeus porta-égide,
o luminoso Apolo, Ártemis verte-flechas,
Posídon que sustém e treme a terra,
Têmis veneranda, Afrodite de olhos ágeis,
Hebe de áurea coroa, a bela Dione,
Aurora, o grande Sol, a Lua brilhante,
Leto, Jápeto, Crono de curvo pensar,
Terra, o grande Oceano, a Noite negra
e o sagrado ser dos outros imortais sempre vivos.
Elas um dia a Hesíodo ensinaram belo canto
quando pastoreava ovelhas ao pé do Hélicon divino.
Esta palavra primeiro disseram-me as Deusas
Musas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide:
"Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,
sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos
e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações".
Assim falaram as virgens do grande Zeus verídicas,
por cetro deram-me um ramo, a um loureiro viçoso
colhendo-o admirável, e inspiraram-me um canto
divino para que eu glorie o futuro e o passado,
impeliram-me a hinear o ser dos venturosos sempre vivos
e a elas primeiro e por último sempre cantar.
Mas por que me vem isto de carvalho e pedra?
3. Donaldo Schuler (1998, inédita)
As Musas do monte aquoso cantemos primeiro,
Rainhas do Helicon, alto e sagrado.
A purpurina fonte passos leves envolvem
na dança, e o altar do poderoso rebento de Crono.
Eles banham a pele suave nas águas permessinas,
na fonte do Cavalo e no Olmeio sacro.
No elevado Helicon, ritmos brotam
formosos, excitantes dos seus ágeis pés.
Partem revestidas de sombra compacta,
noturnas progridem, preclara lhes soa a voz.
Celebram Zeus Porta-escudo e Hera de Argos,
poderosa, a Áureas sandálias,
bem como a filha de Zeus poderoso,
Atena Olhos-brilhantes, Febo Apolo, o Guarda-solo,
Têmis, a Venerável, e Afrodite Olhos-vivos,
Hebe Diadema-de-ouro, e a bela Dione,
Leto, Japeto e Crono, o Astuto,
Aurora, Hélio, o poderoso, Lua, a luminosa, a Terra,
o grande Oceano, e a negra Noite, bem como a sagrada
linhagem dos outros imortais, os que sempre são.
As Musas ensinaram um dia a Hesíodo formoso canto,
quando apascentava ovelhas ao pé do Helicon sagrado.
Principiaram, dirigindo a mim estas palavras as deusas,
Musas do Olimpo, filhas de Zeus Porta-escudo:
"Rudes pastores, vilões abjetos, só ventres,
Sabemos falsidades dizer, muitas, certas só no aspecto,
mas sabemos também, quando queremos, proclamar revelações.
Assim falaram as filhas do grande Zeus, palavras precisas,
e me deram um cetro, um galho de oliveira, fecundo, colhido
por elas, admirável. Insuflaram-me ode
inspirada para eu louvar o por acontecer e o já acontecido;
convocaram-me para cantar a venturosa raça dos que sempre são,
e celebrar a elas próprias no princípio e no fim, sempre.
Mas o que interessam árvores e pedras?
4. Antônio Medina Rodrigues (2003, inédita)
Das Musas Helicônias demos voz aos hinosPor ser o Hélicon sagrado que elas têm,
E em torno à fonte em sombra dançarinos pés
Banhada a suave pele do Permesso à fonte,
5. Ana Elias
Pinheiro (2005)
Comecemos por cantar
as Musas Helicónias,
as senhoras da grande e divina montanha do Hélicon
e que dançam, com passos suaves, à volta da fonte
de águas violáceas e do altar do todo-poderoso Crónida.
Lavada a pele delicada nas águas de Permesso,
ou de Hipocrene ou do Olmeio divino,
no pico mais alto do Hélicon, formam coros
belos e radiosos, flutuando sobre os seus pés.
De lá descem, escondidas sob a bruma espessa,
e, caminhando na noite, cantam com a sua voz melodiosa,
entoando hinos a Zeus detentor da égide e à augusta Hera
argiva, calçada com sandálias de ouro,
e à filha de Zeus detentor da égide, Atena de olhos garças,
e a Febo Apolo e a Ártemis que lança os dardos
e, ainda, a Poséidon, senhor do solo, que abala a terra,
e a Témis venerável e a Afrodite de olhos vivos,
e a Hebe coroada de ouro e à bela Dione,
e a Latona e a Jápeto e também a Cronos de pensamentos tortuosos,
e à Aurora e ao Sol intenso e à Lua brilhante,
e à Terra e ao grande Oceano e à Noite escura,
e à raça sagrada de todos os outros Imortais que vivem sempre.
Foram elas que, outrora, ensinaram a Hesíodo um belo canto,
enquanto apascentava as suas ovelhas no sopé do Hélicon divino.
E, em primeiro lugar, me dirigiram estas palavras essas deusas,
Musas Olímpicas, filhas de Zeus detentor da égide:
«Pastores do campo, que triste vergonha, só estômagos!
Nós sabemos contar mentiras várias que se assemelham à realidade,
mas sabemos também, se quisermos, dar a conhecer verdades!»
Assim disseram as filhas do grande Zeus, que falam com franqueza,
e deram-me por ceptro um ramo de loureiro em flor
que tinham colhido, soberbo. E concederam-me um canto
de inspiração divina, para que eu pudesse celebrar o futuro e o passado,
e ordenaram-me que entoasse hinos à raça dos bem-aventurados que vivem sempre
e que as cantasse a elas também, sempre, no princípio e no fim.
Mas para quê tanta conversa sobre carvalhos e pedras?
6. José Marcos Macedo (2010)
A partir das Musas do Hélicon
comecemos o nosso canto, as quais frequentam a grande e sagrada montanha do
Hélicon, e dançam com pés macios ao redor da fonte violeta e do altar do
poderoso filho de Cronos. E após banharem sua delicada pele no Permessos, ou na
Fonte do Cavalo, ou no sagrado Olmêios, no cume do Hélicon elas fazem suas
danças, belas e adoráveis, ao ritmo de passos lépidos. De lá elas seguem,
veladas em espessa névoa, e andam à noite, declamando em bela voz, cantando Zeus
que porta a égide e a senhora Hera de Argos, que caminha com sandálias de ouro,
e a filha de Zeus que porta a égide, Atena de olhos cinzentos, e Febo Apolo, e
Ártemis a arqueira, e Posídon cuja carruagem é a terra e que a terra sacode, e
sagrada Têmis, e Afrodite de cílios recurvos, e Hebe do diadema dourado, e a
bela Dione, Leto, Iapeto e Cronos das maquinações tortuosas, a Aurora, o grande
Sol e a Lua brilhante, a Terra, o grande Oceano e a Noite escura e o restante
da sagrada família dos imortais que são para sempre.
E certa vez elas ensinaram a Hesíodo o belo cantar, enquanto ele pastoreava suas ovelhas sob o sagrado Hélicon. Eis o que as deusas me disseram primeiro, as Musas Olímpicas, filhas de Zeus que porta a égide: "Pastores que acampam em solo agreste, vergonha que sois, meras barrigas: sabemos contar muitas mentiras que soam como verdades, mas sabemos cantar a realidade quando queremos. Assim disseram as filhas do poderoso Zeus, cujas palavras são seguras, e deram-me um ramo de loureiro verdejante para arrancar as folhas e usar como cetro, objeto admirável, e insuflaram em mim uma voz maravilhosa, para que celebrasse as coisas do futuro e do passado, e ordenaram-me que cantasse a família dos bem-aventurados que são para sempre, e que cantasse sempre elas próprias em primeiro e último lugar. Mas o que faço eu às voltas com árvore e pedra?
7. Sueli Maria de Regino (2010)
[1-8] Elevemos nosso canto às Musas heliconíades que habitam o alto e sagrado
Monte Helicon e dançam com seus delicados pés ao redor de uma fonte de águas
sombrias e do altar do poderoso Crônida. Depois de banhar sua pele macia nas
águas do Permesso, ou na Fonte do Cavalo, ou no divino Olmeio, elas dançam com
os pés ligeiros e entoam belos e ardorosos cantos no alto do Helicon.
[9-21] Dali elas se afastam,
envoltas por densa névoa. Pelos caminhos da noite, erguem sua adorável voz,
louvando a Zeus, o portador da Égide, e à venerável Hera de Argos, que calça
sandálias douradas; Atena de olhos brilhantes, filha de Zeus, portador da Égide;
Apolo, o luminoso, e Ártemis lançadora de flechas; Posídon, o que sustenta e
faz tremer a terra; a veneranda Têmis; Afrodite de olhares ligeiros; Hebe
coroada de ouro; Dione, a adorável; Eos e o grande Hélio; a brilhante Selene,
Leto, Jápeto e Crono, de tortuoso pensar; Geia e o grande Oceano; a negra Nix e
a sagrada estirpe de todos os outros imortais que viverão para sempre.
[22-28] Um dia, quando Hesíodo
pastoreava suas ovelhas ao pé do divino Helicon, foram elas que lhe ensinaram
um belo canto. E estas foram as primeiras palavras ditas pelas deusas, Musas
olímpicas, filhas de Zeus, portador da Égide: "Pastores que passais a vida
nos campos, pobres criaturas, não sois mais que ventres! Nós sabemos contar
muitas mentiras que se assemelham a verdades, porém, se o desejarmos, podemos
fazer revelações".
[29-35] Assim disseram, com hábeis palavras, as filhas do grande Zeus. Um ramo de loureiro florido elas me deram como cetro, inspirando-me um canto sublime, para glorificar os feitos divinos do futuro e do passado. E também me ordenaram louvar a linhagem dos deuses eternos, mas sempre, em cada ocasião, a elas cantar no princípio e no final. Mas para que falar de carvalho e pedra?
8. André
Malta (2012/2020[inédita])
Pelas
Musas helicônias § principiemos a cantar!
Elas que habitam o monte § Hélicon, grande e
sagrado,
e ao redor da rubra fonte § com seus delicados
pés
dançam – e em torno do altar § do fortíssimo
Cronida.
E após banharem a sua § tenra pele no
Permesso
ou na fonte do Cavalo § ou mesmo no Olmeo
sagrado,
lá na extremidade do Hélicon § perfizeram os
seus coros,
belos, arrebatadores, § e se aplicaram nos pés.
De lá então saltando en- § cobertas por muita
névoa
noturnas se enfileiravam, § som belíssimo
emitindo,
entoando o porta-égide § Zeus mais a
senhora Hera
(a argiva, que com as áureas § sandálias está
calçada),
a jovem do porta-égide § Zeus, claros-olhos
Atena,
e também o puro Apolo § mais Ártemis verte-setas,
e Posêidon igualmente, § treme-terra
terra-tem,
mais a respeitável Regra § e Afrodite de olhos
vivos,
mais a Juventude de áurea § coroa e a bela
Dione,
e também a Aurora, o grande § Sol e a lampejante
Lua,
e também Leto, mais Jápeto § e Crono de
curva-astúcia,
e também a Terra, o grande § Oceano e a Noite
negra
– e a sacra raça dos outros § imortais que
sempre são.
Elas certa vez a Hesíodo § o belo canto
ensinaram,
ao pastorear ovelhas § no sopé do sagrado
Hélicon.
Primeiramente esta fala § me dirigiram as
deusas,
as Musas olímpias, jovens § do porta-égide
Zeus:
“Pastores do campo, vis § vergonhas, não mais
que estômagos:
sabemos muita mentira § dizer semelhante aos
fatos,
e sabemos, se queremos, § verdades enunciar”.
Assim disseram as jovens § do grande Zeus,
concertantes.
E a mim me deram um cetro § (de um loureiro em
flor o ramo
que apanharam, espantoso) § e em mim inspiraram
voz
sublime, para que eu glori- § fique o que será e
foi,
mandando entoar a ditosa § raça dos que sempre
são,
mas em primeiro e por último § cantar sempre a
elas próprias.
Mas por que a mim isso – à roda, § sim, do carvalho ou da rocha?
9. Christian
Werner (2013)
elas que o Hélicon ocupam, monte grande, numinoso,
em volta da fonte violácea com pés macios
dançam, e do altar do mui possante filho de Crono;
tendo a pele delicada no Permesso banhado
na fonte do Cavalo ou no Olmeio numinoso,
no cimo do Hélicon compõem danças corais
belas, desejáveis, e fluem com os pés.
De lá se lançando, ocultas por densa neblina,
de noite avançavam, belíssima voz emitindo,
cantando Zeus porta-égide, Atena olhos-de-coruja,
Febo Apolo e Ártemis verte-flechas,
Posêidon sacode-a-terra, o Agita-a-terra,
veneranda Norma e Afrodite pálpebra-vibrante,
Juventude coroa-dourada e a bela Dione,
Leto, Jápeto e Crono curva-astúcia,
Aurora, o grande Sol e a reluzente Lua,
Terra, o grande Oceano e a negra Noite,
e a sacra raça dos outros imortais sempre vivos.
Sim, então essas a Hesíodo o belo canto ensinaram,
quando apascentava cordeiros sob o Hélicon numinoso.
Este discurso, primeiríssimo ato, disseram-me as deusas,
as Musas do Olimpo, filhas de Zeus porta-égide:
"Pastores rústicos, infâmias vis, ventres somente,
sabemos muita coisa enganosa falar semelhante a genuínas,
e sabemos, quando queremos, verdades proclamar".
Assim falaram as filhas palavra-ajustada do grande Zeus,
e me deram o cetro, galho vicejante de louro,
após o colher, admirável; e sopraram-me voz
inspirada para eu glorificar o que será e foi,
pedindo que cantasse a raça dos ditosos sempre vivos
e a elas mesmas primeiro e por último sempre cantasse
Mas por que disso falo em torno de carvalho e pedra?
10. Henry
Alfred Bugalho (2013/2021)
Musas
Heliconíadas
Comecemos
a cantar pelas Musas Heliconíadas,
Que habitam no divino e grande monte Helicón,
Ao redor de uma fonte violácea e de um altar do
mui poderoso Crônida,
Com seus pés delicados dançam.
Lavam suas frágeis peles no Permesso,
Na Fonte do Cavalo ou no divino Olmio,
E no cume do Hélicon elas entoam
Belos amáveis coros, estremecendo-o sob seus
pés.
De lá, precipitam-se, envoltas em densa nuvem,
Marchando sob o abrigo da noite, lançando suas
maravilhosas vozes,
Louvando a Zeus portador do escudo, à augusta
Hera
Argiva calçada com douradas sandálias,
À filha de Zeus portador do escudo, Atena de
olhos glaucos,
A Febo Apolo e a Ártemis flecheira,
A Poseidon que abraça e sacode a terra,
À venerável Têmis, a Afrodite de olhos vivazes,
A Hebe de áurea coroa, à bela Dione,
A Eos, ao altivo Hélios e à reluzente Selene,
A Leto, a Japeto, a Cronos de curvo pensar,
A Gaia, ao imenso Oceano, à negra Noite,
E aos outros da estirpe sagrada de Imortais
sempiternos.
Elas, um dia, ensinaram a Hesíodo um belo
canto,
Quando ele apascentava ovelhas aos pés do divino
Helicón.
Esta mensagem as deusas, Musas Olímpicas,
Filhas de Zeus portador do escudo, disseram,
primeiramente a mim:
"Pastores do campo, triste opróbrio,
ventres solitários,
Sabemos dizer muitas mentiras semelhantes a
verdades,
E sabemos, quando queremos, proclamar a
verdade."
Assim disseram as eloquentes filhas do grande
Zeus.
E me deram um cetro, admirável galho
De um florido loureiro cortado. Infundiram-me
voz
Divina, para celebrar o que será e o que foi,
E me exortaram a laurear a estirpe dos
bem-aventurados sempiternos,
E, no princípio e no final, a elas sempre
cantar.
Mas por que tudo isto a mim ao redor do carvalho ou da rocha?
11. Rafael
Silva (2014/2020)
Musas
heliconíades...Por elas comecemos a cantar,
elas, que moram no Hélicon, o grande e numinoso monte,
e que ao redor da fonte púrpura com pés singelos
dançam - e em derredor do altar do altíssimo filho de Cronos.
E, tendo a tenra pele no Permesso banhada,
na Fonte do Cavalo ou no alumiado Olmeio,
no cume heliconíade compõem corais de danças,
graciosas, atraentes,e se espalham em seus passos.
De lá alçando-se, escondidas sob espesso nevoeiro,
noturnas, vão em linha, voz belíssima lançando,
cantando em hinos Zeus, o porta-escudo, e a soberana Hera
Argiva, a que em sandálias áureas vem calçada,
e a virgem, filha em Zeus, o porta-escudo, Atena de olhos glaucos,
e o esplendoroso Apolo, e Ártemis, a arqueira,
bem como Poseidon - terra-tenente, treme-terra -
e Têmis respeitável, e Afrodite -- de olhos de ressaca --,
e Hebe, auricoroada, e a deslumbrante Dione,
e Aurora, e o grande Sol, e a Lua cintilante,
e Leto, e Jápeto, bem como o curviastucioso Cronos,
e a Terra, e o grande Oceano, e ainda a negra Noite,
e a raça sacra de outros imortais que sempre são.
Certa vez ensinaram
a Hesíodo a arte bela de cantar,
enquanto sob o Hélicon divino ovelhas pastorava.
E esta história primeirissimamente as deusas me contaram,
estas filhas de Zeus, o porta-escudo, Musas olímpicas:
"Pastores
broncos, vis vergonhas, ventres só,
sabemos relatar muitas mentiras verossímeis;
sabemos, se queremos, as Verdades entoar.
Assim
falaram, filhas do alto Zeus, jurídicas,
e deram-me por cetro um ramo de frondoso louro,
colhendo-o admirável, e inspiraram-me uma voz
maravilhosa, a fim de que eu louvasse o que será e que antes foi
e me exortaram a hinear, a bem-aventurada raça dos que sempre são
e elas mesmas do começo até o fim sempre cantar.
Mas por que me vem tal sobre carvalho ou calhau?
12. Alan David dos Santos Tórma (2014)
Têm elas ao Hélicon, grande e sagrado monte,
Ao redor da violácea fonte e do altar do Cronida fortíssimo
Quão delicadas dançam!
Banham- se também, tenras peles, nas águas do Permesso
Ou da Fonte do Cavalo ou do divino Olmeu.
No cimo do Hélicon os coros entreteceram belos e atraentes
E vivamente os pés agitaram.
Donde, partindo, em muito ar ocultadas,
Noturnas marchavam, lançando a voz muito bela.
Hineando a Zeus porta-égide e à rainha argiva Hera,
Em áureas sandálias investida,
E à jovem de Zeus porta-égide, Atena de glaucos olhos,
A Febo Apolo e Ártemis flecheira,
Bem como a Poseídon abraça-terra, treme-terra,
À cantável Têmis e à Afrodite, cílios de hélice,
E à Hebe da coroa de ouro e à bela Dione,
À Leto e Jápeto, também a Crono de ancil-medida,
Eos, Hélio e à grande e luminosa Selene
À Gaia, a grande Oceano e à negra Noite,
E ao sagrado nascimento dos outros imortais sempre viventes!
Agora, certa vez, elas ensinaram Hesíodo a bela canção,
Cabras apascentando debaixo do divino Hélicon.
E tais as primeiras palavras que a mim disseram
As musas olimpianas, jovens de Zeus porta-égide:
“Pastores campônios, terríveis infortúnios, apenas ventres,
Sabemos muitas coisas falsas discursar, símeis a étimos
Mas, também sabemos, quando queremos, ressoar verdadeiras.”
Assim falaram as jovens do grande Zeus, ágeis de língua,
E deram a mim o cetro, admirável rebento de loureiro vicejante
Que cortaram. E me sopraram a inspirada canção
Para que eu clamasse as coisas futuras ante as presentes,
E me exortaram a hinear ao nascimento dos bem-aventurados sempre viventes,
E a elas mesmas sempre cantar, tanto primeiro como por último.
as que habitam a grande e muito divina montanha do Hélicon
e dançam com pés delicados em torno da fonte violeta
e do altar sagrado do muito poderoso filho de Cronos.
E lavaram o tenro corpo no Permesso
ou na fonte do cavalo ou no muito divino Olmeio,
e na extremidade Helicônia executaram coros
belos e desejáveis, e deslizaram com os pés.
Daí, afastando-se, envoltas por muita névoa,
noturnas, avançavam lançando belíssima voz,
celebrando Zeus porta-égide e a augusta Hera
argiva, que se movimenta em sandálias áureas*,
a virgem de Zeus porta-égide, Atena dos olhos brilhantes,
Apolo luminoso e Ártemis que lança setas,
também Posídon que sustenta e abala a terra,
Têmis venerável e Afrodite dos olhos vivos
[Hebe da coroa de ouro, a bela Dione,
e Aurora, e o grande Hélios e Celene brilhante]
Leto e Jápeto e Cronos do pensamento curvo,
Terra e o grande Oceano, e a negra Noite
e a sagrada raça dos outros imortais sempre existentes**
As que, justamente, um dia, ensinaram a Hesíodo um belo canto
quando pastoreava ovelhas ao pé do divino Hélicon.
Esta palavra primeiro disseram, em direção a mim, as deusas,
Musas Olimpíades, filhas de Zeus porta-égide:
“Pastores moradores do campo, seres vergonhosos, só estômago,
sabemos dizer muitas mentiras semelhantes a verdades,
e sabemos, quando queremos, celebrar o não-escondido.”
Assim disseram as filhas verídicas do grande Zeus
e me deram o cetro, um ramo de loureiro florescente,
colhido admirável, e inspiraram-me um canto
divino para que eu celebre as coisas futuras e passadas,
também me exortaram a glorificar a raça dos bem-aventurados sempre existentes
e a delas próprias por primeiro e por último sempre cantar.
14. Bruno
Palavro (2018/2021[inédita])
Elas possuem o Hélikon, monte grandioso e divino,
e pelas voltas da fonte violácea com seus pés macios
dançam, e em torno do altar que é do altipossante Kroníon.
Tendo banhado seus corpos da pele mais tenra ao Permesso,
ou lá na fonte Hippokrene ou lá pelo Olmeio divino,
fazem na alta cimeira do Hélikon danças em coro,
belas, incitam desejo, fluentes com pés irrompendo!
Logo dali se lançando, ocultas em muita neblina,
vão noite adentro alinhadas, belíssimo som exalando:
louvam o egífero Zeus com seus hinos, e Hera senhora
de Argos, ela que avança com suas sandálias douradas;
moça do egífero Zeus, a olho-de-glauca, Athena,
lúcido Phebo Apollo com Ártemis flechivertente;
tanto Posêidon, o próprio terrífero deus treme-terra,
Norma louvável, de pálpebra lépida então Aphrodite;
e Juventude coroa-dourada e a linda Dione,
Leto e Jápeto ainda, e Krono astúcia-recurva;
tanto a Aurora e o Sol grandioso e a Lua lampeante,
Terra e Oceano grandioso, assim como a Noite obscura
e outros da raça sagrada de tais imortais sempre entes.
Elas um dia a Hesíodo ensinaram belíssimo canto,
que pastoreava cordeiros ao Hélikon, monte divino.
Estas palavras primeiro de tudo disseram-me as deusas,
Musas Olýmpicas, moças provindas do egífero Zeus:
“Rústicos pastoreadores, vergonhas tão vis, só barrigas!
Muitas mentiras sabemos falar igualadas aos fatos;
quando queremos, sabemos também entoar as verdades”.
Isso disseram as moças de Zeus grandioso, eloquentes,
dando-me um cetro, um galho de altiviçoso loureiro
tendo-o colhido admirável, e assim me inspiraram divina
fala, pra glorificar o que ainda será e o que era;
clamam que eu louve a raça dos tão venturosos sempre entes
e que elas próprias primeiro e por último eu sempre cante.
15. Frederico Lourenço (2020)
Pelas Musas
Helicónias comecemos a cantar,
elas que detêm a montanha do Hélicon, grande e sacrossanta,
e à volta da fonte de águas violáceas, com pés delicados,
dançam e <à volta> do altar do Crónida de grande força.
E tendo banhado os corpos macios <nas águas> do Permesso,
ou de Hipocrene, ou do sacrossanto Olmeio,
nos píncaros do Hélicon fazem <suas> danças,
belas e amoráveis; e elas são ágeis com os pés.
De lá se levantando, veladas com muito nevoeiro,
caminham, noturnas, lançando uma bela canção,
louvando com hinos Zeus detentor da égide e a excelsa Hera
Argiva, que caminha com sandálias douradas,
e a filha de Zeus detentor da égide, Atena de olhos garços,
e Febo Apolo e Ártemis que com flechas se regozija
e Posídon, detentor e sacudidor da Terra,
e Témis veneranda e Afrodite de rápidas pálpebras
e Hebe de coroa dourada e bela Dione
e Leto e Iápeto e Crono de retorcidos conselhos
e a Aurora e o Sol e a grande e brilhante Lua
e a Terra e o Oceano e a grande Noite negra
e a sagrada raça dos outros imortais que são para sempre.
Estas, pois, ensinaram um dia a Hesíodo um belo canto,
pastoreando ele ovelhas sob o Hélicon sacrossanto.
E esta palavra me disseram primeiro as deusas,
Musas Olímpias, filhas de Zeus detentor da égide:
"Pastores campestres, tristes vergonhas, só estômagos!
Sabemos dizer muitas mentiras semelhantes a verdades;
mas sabemos, quando queremos, proclamar coisas verdadeiras."
Assim falaram as filhas de fala clara do grande Zeus;
e elas, arrancando-o, deram-me um cetro, rebento de loureiro robusto,
maravilhoso; e insuflaram em mim uma voz
inspirada, para que eu celebre as coisas que serão e as que são;
e ordenaram-me que cante a raça dos bem-aventurados que são para sempre,
e que cante a elas sempre em primeiro e último lugar.
16. Rafael
Brunhara (2021, inédita)
Pelas
Musas do Hélicon comecemos a cantar;
Elas moram no Hélicon, alto e sagrado monte,
e com tenros pés, volteando uma fonte violeta
e o altar do fortíssimo Crônio, elas dançam.
Depois de lavar a delicada pele no Permesso
na Fonte do Cavalo ou no sagrado Olmeio
no ápice do Hélicon compõem danças
belas e sedutoras, com cadência nos pés,
e de lá precipitam-se; veladas em vasta névoa,
notívagas, um superbelo canto emitem:
cantam Zeus Egífero e a Senhora Hera
de Argos, em áureas sandálias calçada;
Atena de olhos glaucos, menina de Zeus Egífero;
cantam Febo Apolo e Ártemis Sagitária;
Poseidon, que sustém e treme a terra;
Têmis veneranda, Afrodite de olhos vívidos,
Auricoroada Juventude [Hebe], Dione bela,
Leto, Jápeto e Crono de esquemas oblíquos;
Aurora [Éos], Grande Sol [Hélio], Lúcida Lua [Selene];
Terra [Gaia], Grande Oceano, Negra Noite [Nyx]
e o resto da sacra família dos eternos imortais.
Certa vez, elas ensinaram a Hesíodo um belo canto,
enquanto ele pastoreava ovelhas sob o monte Hélicon.
Este discurso primeiramente disseram-me as Deusas,
as Musas do Olimpo, as meninas de Zeus Egífero:
Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,
sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos
e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações.
Assim falaram as meninas de Zeus grande, com acribia,
e um cetro me deram, ramo de loureiro bem viçoso
e admirável que arrancaram. E sopraram-me uma canção
portentosa, para que eu celebre o porvir e o passado,
ordenaram-me celebrar a família dos eternos venturosos
e a elas próprias, no começo e no fim, sempre cantar.
Mas por que estou às voltas com carvalho e pedra?
Referências
ANDRADA E SILVA,
José Bonifácio de. Poesias Avulsas de Américo Elísio. Bordeaux, 1825.
BUGALHO, Henry Alfred. Teogonia. Hesíodo. Oficina Editora, 2013.
CERQUEIRA, Ana Lúcia
Silveira; LYRA, Maria Therezinha Áreas. Hesíodo, Teogonia. Niterói:
EdUFF, 2009.
FERREIRA, José
Ribeiro; PINHEIRO, Ana Elias. Hesíodo. Teogonia, Trabalhos e
Dias. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 2005.
LOURENÇO, Frederico
. Poesia Grega: de Hesíodo a Teócrito. Lisboa: Quetzal, 2020.
MACEDO, José
Marcos. A Palavra ofertada: um estudo retórico dos hinos gregos e
indianos. São Paulo: Editora da Unicamp, 2010.
MALTA, André. Homero
Múltiplo. São Paulo: Edusp, 2012.
MOURA, Alessandro
Rolim de. As Obras e os Dias, de Hesíodo, por João Félix Pereira. Nuntius
Antiquus, Belo Horizonte, v.10, n.2 pp.5-32, 2014.
PALAVRO, Bruno. A Theogonia de Hesíodo, traduzida e anotada pela mão de Bruno Palavro. Trabalho de Conclusão de Curso. Porto Alegre: IL/UFRGS, 2018.
SILVA, Rafael Guimarães Tavares. Teogonia: a gênese de uma nova tradução.
Revista Versalete, Curitiba, v.2, n.2, pp.133-144, 2014.
_____________. Hino
às Musas na Teogonia de Hesíodo (vv.1-115). Belas Infiéis,
Brasília, v.9, pp.313-323, 2020.
REGINO, Sueli Maria de. Teogonia, Trabalhos e Dias. São
Paulo:Martin Claret, 2010.
TÓRMA, Alan David
dos Santos. Teogonia - O Nascimento dos Deuses. Pólemos – Revista dos
estudantes de Filosofia da Universidade de Brasília, Brasília, v.3, n.5,
pp.255-274, 2014.
TORRANO, Jaa. Teogonia
– A Origem dos Deuses. São Paulo: Iluminuras, 2006.
VIALE, Antônio José. Miscellanea hellenico-litteraria offerecida aos estudantes da 2.a cadeira do Curso Superior de Letras. Lisboa: Imprensa Nacional, 1868.
WERNER, Christian. Hesíodo, Teogonia. São Paulo: Hedra, 2013.
2 comentários:
Excelente compilação, Rafael! Belo trabalho!
Muito bom! Amei!!
Postar um comentário