sexta-feira, outubro 08, 2021

O Início do Banquete de Platão - 11 traduções



1. Albertino Pinheiro (1a edição: 1935)

Apolodoro: Não me considero desqualificado para ensinar-vos o que desejais saber. Porque ao voltar, há pouco, de Falero para Atenas, um conhecido, avistando-me por detrás, me chamou de longe e em tom de galhofa exclamou:

- Olá, Apolodoro Faléreo, por que não me esperas?

Detive-me para esperá-lo. E ele me disse:

- Apolodoro, eu andava justamente à tua procura desejoso que estava de me informar do banquete de Agaton, ao qual, entre outros, assistiram Sócrates e Alcibíades, e cujo tema escolhido para as conversações foi o amor. Alguém me narrou o que a esse respeito ouvira de Fênix, filho de FIlipe. Nada porém soube afirmar-me, ao certo, senão que tu sabias o que lá se passara. Faze-me, pois, a narrativa, tu que podes, de ciência própria, referir-me os discursos que ouviu o teu amigo. Mas antes de tudo, responde-me:

- Estiveste ou não presente, em pessoa, a essa reunião? 


2. Jorge Paleikat (1a Edição: 1945)

Creio que me acho preparado para responder acerca do que me perguntas. Com efeito, não faz muito, quando vinha de minha casa em Falera para Atenas, um de meus amigos me avistou e, aproximando-se, chamou-me com muito bom humor "-Olá, Apolodoro, homem calvo, não podes esperar-me?" Sustive a marcha e esperei. E ele continuou: - "Faz dias, caro Apolodoro, que te procuro com a intenção de saber de ti quais foram os discursos que sobre o amor pronunciaram Sócrates, Alcibíades e outros, naquela reunião de Ágaton. Uma pessoa que os ouvira de Fênix, filho de Filipe, já me falou desses discursos, e disse-me que tu também os conhecias. Não me soube ele, porém, relatá-los com clareza; por isso desejo que mos contes, pois és tu que tens a obrigação de dar notícias dos discursos do teu amigo. Porém, dize-me primeiro uma coisa: estiveste presente àquela reunião?"

3. Jaime Bruna (1963)

- Creio-me preparado para satisfazer vossa curiosidade. Com efeito, subia anteontem de minha casa em Falero para a cidade, quando um conhecido me avistou pelas costas e me chamou de longe, em tom de gracejo:

- Ó Falerense! Tu aí, de nome Apolodoro! Espera!

Eu parei e esperei. Ele, então, disse:

- Apolodoro, há pouco eu estava à tua procura; desejava informações da reunião de Agatão, Sócrates, Alcibíades e demais presentes no banquete aquele dia e saber de suas dissertações sobre o Amor. Tenho já o relato de alguém que o ouviu de Fênix, filho de Filipe; disse-me que tu também o sabias. Mas era incapaz de qualquer exatidão; conta-me, pois, tu, capacitado a reproduzir-me as palavras de teu amigo melhor do que ninguém. Antes, porém, -- lembrou ele -- dize-me: assististe àquela reunião pessoalmente ou não? 

4. José Cavalcante de Souza (1a edição: 1966)

Creio que a respeito do que quereis saber não estou sem preparo. Com efeito, subia eu há pouco à cidade, vindo de minha casa em Falero, quando um conhecido atrás de mim avistou-me e de longe me chamou, exclamando em tom de brincadeira: "Falerino! Eh, tu, Apolodoro! Não me esperas?". Parei e esperei. E ele disse-me: "Apolodoro, há pouco mesmo eu te procurava, desejando informar-me do encontro de Agatão, Sócrates, Alcibíades, e dos demais que então assistiram ao banquete, e saber dos seus discursos sobre o amor, como foram eles. Contou-nos uma outra pessoa que os tinha ouvido de Fênix, o filho de Filipe, e que disse que também tu sabias. Ele porém nada de claro tinha a dizer. Conta-me então, pois és o mais apontado a relatar as palavras do teu companheiro. E antes de tudo", continuou, "dize-me se tu mesmo estiveste presente àquele encontro ou  não".

5. Carlos Alberto Nunes (1a edição: 1973)

Considero-me em condições de responder ao que me perguntaste. Recentemente, quando eu subia de casa, em Falero, para a cidade, um conhecido que me tinha visto por detrás, gritou de longe, em tom de brincadeira: "Ó cidadão de Falero, de nome Apolodoro! por que não esperas? - Então, me detive para esperá-lo. E ele: - Apolodoro - me falou, - andava à tua procura, porque desejo obter informações precisas a respeito da conversa de Agatão com Sócrates, Alcibíades e os demais convivas do banquete dado por ele, em que proferiram vários discursos sobre o amor. Alguém já me contou alguma coisa, por ter ouvido de Fênix, filho de Filipe; acrescentou que estavas a par de tudo. Mas não falava com muita segurança. Por isso, de ti é que espero obter dados precisos. A ninguém mais compete relembrar as palavras do amigo. Porém, antes de tudo - continuou - declara se também tomaste parte no banquete. 

6. Donaldo Schuler (1a edição: 2009)

Do que que querem saber, não estou mal informado, suponho. Dias atrás, subi de minha casa no porto de Faleron para a cidade. Um conhecido, que me viu de longe, berrou atrás de mim em tom de troça:

"-Ei, Cuca-Polida, falo com você. - Por que tanta pressa?" 

Atendi. Parei.

"- O que você quer?"

- "Estive à tua procura, falerense, senhor Pelame-Falido, para matar uma curiosidade. Aquele encontro...Agaton, Sócrates, Alcibíades e outros, reunidos num banquete, discursaram sobre Eros. Disseram o quê? Alguém me informou que, a crer em Fênix, filho de Filipe, quem podia orientar-me era você, embora de seguro meu informante não soubesse nada. Esclareça-me, por favor, sigo instruções do meu amigo, fonte mais segura do que você não há. Antes de mais nada, quero saber se você esteve presente naquela reunião.

7. Edson Bini (1a edição: 2010)

Apolodoro: Realmente não estou despreparado para o que procuras saber. Anteontem aconteceu de eu estar me dirigindo à cidade vindo de minha casa em Falero, quando um conhecido meu que vinha atrás me avistou e chamou-me de uma alguma distância num tom brincalhão: "Ei, faleriano!" gritou, "Apolodoro, espera!" Detive-me e o aguardei. "Apolodoro", ele disse, "estive procurando por ti, pois desejaria ouvir tudo acerca do jantar que reuniu Agaton, Sócrates, Alcibíades e outros que se reuniram, bem como acerca dos discursos sobre o amor feitos por eles. Na verdade uma outra pessoa transmitiu-me uma versão com base no relato de Fênix, filho de Filipe, e comentou que o conhecias também. Mas a comunicação que ele me faz peca pela falta de clareza. Diante disso, cabe a ti contar-me tudo, uma vez que és o mais correto comunicador dos discursos do teu amigo. Mas começa me informando o seguinte", ele prosseguiu, "estiveste ou não presente nessa reunião?"

8. Maria Aparecida de Oliveira Silva (1a edição: 2015)

APOLODORO. – Eu penso que não estou despreparado a respeito do que me perguntais. E há pouco, quando vinha de minha casa em Falero para a cidade; um conhecido atrás de mim viu-me e de longe me chamou, brincando: “Falereu ! Ei, Apolodoro , não me esperas?” E eu parei e o esperei. E ele continuou: “Apolodoro, há pouco eu te procurava porque queria saber sobre a reunião de Agatão , Sócrates , Alcibíades e b os outros, que então estavam presentes no banquete , e a respeito de quais foram os seus discursos sobre o amor. Pois alguém me contou que os ouviu de Fênix, filho de Filipo, e disse que tu também os conhecias. Mas ele nada podia dizer com clareza. Conta-me tu, pois és o mais apropriado para relatar as palavras do teu companheiro". E ele continuou: "Antes disso, dize-me, estiveste presente a essa reunião ou não?" 

9. Anderson de Paula Borges (1a edição: 2017)

 Acredito que não estou sem preparo para descrever os eventos sobre os quais me interrogas, pois no dia anterior a ontem estava indo de minha casa, em Falero, para Atenas, quando um conhecido me viu por trás e, chamando-me à distância, disse em tom de brincadeira: 

“Falerino! Ei, Apolodoro! Não vais me esperar?” 

Parei e esperei. 

Então ele disse: “Apolodoro, há pouco te procurava. Queria me informar sobre tudo que aconteceu no encontro entre Agatão, Sócrates, Alcibíades e outros – que naquele momento tomaram parte no banquete –, para ouvir quais foram os discursos proferidos em honra do Amor. Ouvi uma versão de alguém que a ouvira de Fênix, o filho de Filipe, e que disse que tu também tinhas conhecimento do assunto. Mas tal pessoa não proferiu nada de muito claro, de modo que tu deves relatar-me, pois é o que mais propriamente podes reportar as palavras do teu amigo. Antes, porém, disse ele, “fala-me: tu mesmo estavas no encontro ou não?”.

10. Irley F. Franco e Jaa Torrano (1a edição: 2021

Creio não estar despreparado sobre o que quereis saber, pois casualmente anteontem, de casa em Falero subindo para a cidade, um conhecido longe lá atrás, ao me avistar, chamou, e em tom de brincadeira, disse: "Ó Falereu, tu aí, Apolodoro, não esperas?" E eu parei e esperei. E ele disse: "Apolodoro, ainda há pouco te procurava querendo saber do encontro de Agatão, Sócrates, Alcibíades, e de outros que então estiveram presentes ao banquete, e dos discursos sobre o amor, quais foram eles. Um outro me contou, tendo ouvido de Fênix, filho de FIlipe, e disse que também tu sabias, mas ele nada pôde dizer com clareza. Conta-me tu, então, pois o mais justo é que tu narres os discursos do teu companheiro. Mas antes me diz", continuou, "tu mesmo estiveste presente a esse encontro ou não?" 

11. José Carlos Baracat jr. (em elaboração) 

Acho que não estou destreinado no que vocês querem saber. Outro dia mesmo, por coincidência, eu subia de minha casa em Falero para a cidade, quando um conhecido meu, ao me avistar pelas costas, de longe me chamou e disse, numa intimação zombeteira: “ei, falério, senhor Apolodoro, não vai esperar?” Parei e esperei. “Apolodoro”, ele disse, “bem que eu procurava você há pouco, pois queria saber tudo sobre o encontro entre Agatão, Sócrates, Alcibíades e os outros presentes ao jantar, e quais foram seus discursos eróticos: outra pessoa, que os ouviu de Fênix, filho de Filipo, contava-os para mim e disse que você também os conhecia. Mas ele não conseguia dizer nada com clareza. Você, portanto, me conte: pois ninguém tem mais direito do que você de relatar os discursos do seu amigo. Primeiro, me diga (disse ele): você mesmo esteve nesse encontro ou não?”.

Referências

PLATÃO. Diálogos de Platão: O Banquete. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Ed. UFPA, 2018.

PLATÃO. Diálogos V. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2017. 

PLATÃO. Mênon - Banquete - Fedro. Tradução de Jorge Paleikat e João Cruz Costa. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

PLATÃO. O Banquete. Tradução de Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009. 

PLATÃO. O Banquete. Tradução de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora 34, 2015.

PLATÃO. O Banquete. Tradução de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo:  Martin Claret, 2015.

PLATÃO. O Banquete. Tradução de Anderson de Paula Borges. Petrópolis: Vozes, 2017. 

PLATÃO. O Banquete. Tradução de Irley F. Franco e Jaa Torrano. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2021. 

O Amor de Bilítis, por Guilherme de Almeida

Sem título. Ilustração George Barbier, para edição de 1922 de Les Chansons de Bilitis. 


Nota liminar 

Les Chansons de Bilitis (1895) é uma coleção de poemas homoeróticos femininos de autoria do francês Pierre Loüys, que o atribuiu a Bilítis, uma cortesã grega, discípula de Safo. Loüys afirmou ter encontrado os poemas numa tumba em Chipre, no entanto são poemas originais de Loüys, muitos deles reelaborações inventivas da mélica de Safo e de versos da Antologia Palatina. A obra teve grande repercussão (ver as adaptações de Claude Debussy para três dos poemas da obra: La flûte de Pan, La chevelure e Le tombeau des Naïades). A obra teve repercussão por sublinhar o homoerotismo da figura de Safo, desafiando algumas visões acerca da poeta de Lesbos que circulavam no século XIX. 

 Guilherme de Almeida traduziu algumas das canções em 1943, para a coleção Rubaiyat da José Olympio. 

A ÁRVORE

Despi-me para subir a uma árvore; minhas coxas nuas enlaçavam a cortiça lisa e úmida; minhas sandálias caminhavam sobre os galhos.

Bem no alto, mas ainda sob a folhagem e ao abrigo do calor, cavalguei um gancho aberto, balançando os pés no ar.

Havia chovido. Gotas de águas caíam e escorriam pela minha pele. Eu tinha as mãos manchadas de musgos, e os artelhos rubros por haver esmigalhado flores.

Eu sentia a bela árvore viver varada pelo vento; e cerrava então com mais força as minhas pernas, e colava meus lábios abertos contra a nuca felpuda de um ramo. 

[Tradução: Guilherme de Almeida, 1943]

Je me suis dévêtue pour monter à un arbre; mes cuisses nues embrassaient l'écorce lisse et humide; mes sandales marchaient sur les branches.

Tout en haut, mais encore sous les feuilles et à l'ombre de la chaleur, je me suis mise à cheval sur une fourche écartée en balançant mes pieds dans le vide.

Il avait plu. Des gouttes d'eau tombaient et coulaient sur ma peau. Mes mains étaient tachées de mousse, et mes orteils étaient rouges, à cause des fleurs écrasées.

Je sentais le bel arbre vivre quand le vent passait au travers; alors je serrais mes jambes davantage et j'appliquais mes lèvres ouvertes sur la nuque chevelue d'un rameau


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Guilherme de. O Amor de Bilítis. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1943.
LOÜYS, Pierre. Les Chansons de Bilitis. em https://www.gutenberg.org/cache/epub/4708/pg4708-images.html. Acessado em 06.10.2021.