quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Ode a Cassandre - Ronsard (Três traduções)

Mignonne, allons voir si la rose
Qui ce matin avait déclose
Sa robe de pourpre au soleil,
A point perdu, cette vêprée,
Lés plis de sa robe pourprée,
Et son teint au vôtre pareil.

Las,voyez comme en peu d’espace
Mignonne, elle a dessus la place
Las, las, ses beautés laissé choir!
O vraiment marâtre Nature.
Puisqu’une telle fleur ne dure
Que du matin jusques au soir.

Donc, si vous me croyez,Mignonne,
‘ Tandis que votre âge fleuronne
En sa plus verte nouveauté,
Cueillez, cueillez votre jeunesse:
Comme à cette fleur, la vieillesse
Fera ternir votre beauté.


Trad. Andrei Cunha (2019)

Menina, vem ver se a rosa
Que abriu de manhã vaidosa
Ao sol seu vermelho vestido
Guardou numa tarde assim
As dobras da flor tão carmim
Como teu rosto – ou parecido.
Ai, Menina! olha que não!
Em pouco tempo, já está no chão.
Que madrasta essa Natureza,
Que da manhã até o sol se pôr
Não dure uma tão bela flor
E no chão acabe sua beleza.
Então, se me crês, ô Menina,
Enquanto tua tez não declina,
E inda verdes tens amores,
Colhe, e aproveita a meninice:
Pois como a rosa, a velhice
Fará murchar tuas flores.


A Cassandra - Trad. de Mário Laranjeira (2004)

Querida, vamos ver se a rosa,
Que esta manhã abriu garbosa
Ao sol seu purpúreo vestido,
Não perdeu, da tarde ao calor,
De sua roupa a rubra cor,
E o aspecto ao vosso parecido.

Ah! Vede como em curto espaço,
Querida, caiu em pedaços,
Ah! ah! A beleza que tinha!
Ó mesmo madrasta Natura,
Pois que uma flor assim não dura
Senão da manhã à tardinha!

Então, se me dais fé, querida,
Enquanto a idade está florida
Em seu mais viçoso verdor,
Colhei, colhei a mocidade:
A velhice, como a esta flor,
Fará murchar vossa beldade.

ODE A CASSANDRA - Trad. de R. Magalhães Jr. (1972)

Vem, amor, vem ver se a rosa
Que ontem, fresca e perfumosa
Se abriu ao sol estival,
Não perdeu o viço ainda
E conserva, rubra e linda,
Cor à de teu rosto igual.

Oh, amor! Vê quão depressa
Fenecendo, a rosa cessa
De ser bela e ser louçã!
Como é madrasta a Natura,
Pois que tal flor jamais dura
Do entardecer à manhã!

Meu conselho é, pois,amor,
Que, enquanto na vida em flor,
Encantos possam sobrar-te
Colhe, colhe a mocidade,
Pois como à rosa a idade
Da beleza há de privar-te.

Fontes:

LARANJEIRA, M. Poetas Franceses de Renascença. Seleção, apresentação e tradução de Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MAGALHÃES JR, R. (org.) O livro de ouro da poesia da França. Tradução de R. Magalhães Jr. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Alceu, fragmento 130b (ed. Voigt)

ἀγνοι̣σ̣..σ̣βιότοις..ις ὀ τάλαις ἔγω
ζώω μοῖραν ἔχων ἀγροϊωτίκαν
ἰμέρρων ἀγόρας ἄκουσαι
⸏καρ̣υ̣[ζο]μένας ὦγεσιλαΐδα

αὶ β̣[ό]λ̣λ̣ας· τὰ πάτηρ καὶ πάτερος πάτηρ
κα..[.].ηρας ἔχοντες πεδὰ τωνδέων
τὼν [ἀ]λλαλοκάκων πολίτ̣αν
⸏ἔ.[..ἀ]πὺ τούτων ἀπελήλαμαι

φεύγων ἐσχατίαισ', ὠς δ' Ὀνυμακλέης
ἔ̣ν̣θα[δ'] ο̣ἶος ἐοίκησα λυκαιμίαις
.[ ]ον [π]ό̣λεμον· στάσιν γὰρ
⸏πρὸς κρ.[....].οὐκ ἄμεινον ὀννέλην·

.].[...].[..]. μακάρων ἐς τέμ[ε]νος θέων
ἐοι̣[.....].ε̣[.]αίνας ἐπίβαις χθόνος
χλι.[.].[.].[.]ν̣ συνόδοισί μ' αὔταις
⸏οἴκημ<μ>ι κ[ά]κων ἔκτος ἔχων πόδας,

ὄππαι Λ[εσβί]αδες κριννόμεναι φύαν
πώλεντ' ἐλκεσίπεπλοι, περὶ δὲ βρέμει
ἄχω θεσπεσία γυναίκων
⸏ἴρα[ς ὀ]λολύγας ἐνιαυσίας


[ ].[´̣].[.].ἀπ̣ὺ πόλλ̣ω̣ν .ότα δὴ θέοι
[ ].[ ´]σ̣κ̣...ν Ὀλ̣ύ̣μ̣πιοι

Puras...vidas...ó, pobre de mim,
vivo a sorte de um rústico,
desejando ouvir a convocação
da assembleia, ó Agesilaída

e do conselho. Coisas que meu pai e o pai do pai
tiveram até a velhice com esses
cidadãos que se entre-destroem,
delas eu fui banido

fugindo para os confins; como Onômacles,
aqui, sozinho, morei na toca dos lobos
(foragido?) da guerra. Pois sedição
contra...não é melhor (repelir?)

No santuário dos venturosos deuses
(vivi?), palmilhei a terra negra,
....em seus encontros...
Vivo bem longe dos problemas

onde as lésbias no julgamento da beleza
desfilam arrastando os vestidos, e em volta freme
o eco divino das mulheres,
o sagrado alarido das mulheres, ano a ano...

...longe de muitos um dia os deuses...
... Os olímpios...

[Tradução: Rafael Brunhara]