O homem forma o prodígio maior;
Ele doma o oceano profundo,
Que, espumante, lhe muge em redor,
Ao sopro dos nimbosos
Nótos impetuosos.
Volve, do arado ao gume,
Em annual semeio
Da Terra, antigo Nume,
O inexhaurível seio.
Tem, para auxilial-o,
A força do cavallo.
Para as aves, que giram na esphera,
Dispõe visco, gaiola e boiz;
Arma laços nos bosques á féra
E nas agoas aos peixes subtis.
Com rêde, facho e engodo
Cardumes colhe, a rôdo.
Da opaca selva tira
Cavallo de amplas crinas
E o touro, que respira
Ar flammeo das narinas;
A'quelle um freio ageita,
Ao jugo este sujeita.
Fala; e tem altas cousas expresso;
Dá leis sábias e povos dirige;
Contra os riscos ha feito recesso
Nas seguras moradas, que erige.
Dalli um desafio
Arroja ao vento, ao frio.
E firme na insistencia
De tudo prevenir
Estende a providencia
Aos males ]do porvir.
E, sem que a morte vença,
Dá golpes na doença
Engenhoso da industria no invento,
Habil, destro, qual não se imagina,
Ora, ao bem elle applica o talento,
Ora, a força do mal o domina;
E abusa do poder
Para as leis corromper.
Si é chefe e as leis arrostra,
De crimes polluido
Seja eloquente amostra
De um rei destituido.
Mas nunca o mesmo abrigo
Comparta elle comsigo.*
[*Nota do Tradutor. Literalmente: "Grande ao Estado, ajuntando a esta industria as leis de sua patria e o direito sagrado dos Deoses, mas indigno do nome de cidadão é aquelle a quem o que não é bello se prende por causa de sua audacia. Jamais o que pratica estas cousas, se assentará ao mesmo lar, nem pensará como eu.
FONTE:
SOPHOCLES. Antigone, tragédia em 4 actos. Versão poética portugueza de Barão de Parapiacaba.Rio de Janeiro: Oficinas da Renascença. 1909.
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