domingo, dezembro 21, 2014

Píndaro, Ístmica 2


Para Xenócrates de Agrigento, vencedor na corrida de carros

Os homens do passado, Trasíbulo,
            que das Musas de laços de ouro
subiam a carruagem,
             ínclita lira com eles,
ágeis asseteavam com hinos dulcíssonos 
os meninos. Quem era belo tinha a mais doce flor
estival, a lembrança de Afrodite em trono.

Outrora a Musa não era gananciosa
ainda, por dinheiro não trabalhava:
não estavam à venda as doces 
              blandíloquas canções
de Terpsícore[1] voz-de-mel,
            para cobrir de prata a fronte.
Mas hoje nos ordena a defender Argivo
adágio,  (...) a um só passo da verdade:

“Dinheiro, o dinheiro faz o homem!” –
            Disse o que perdeu posses e amigos também.
Basta! Sois sábios. Não ignorais o que canto:
            Ístmica vitória com corcéis,
que concedeu Posídon a Xenócrates,
e enviou-lhe guirlanda de dórios
aipos para prender aos cabelos,

recompensa ao varão de bom carro,
            a luz para Agrigento!
Em Crisa viu-o estrênuo
Apolo, e infundiu-lhe o brilho
também ali; com ínclitas graças dos Erectidas[2] munido,
            na opima Atenas não recebeu censuras
o braço do ginete que guiou a carruagem,

Nicômaco, que as rédeas todas
            manejou competente:
até mesmo os arautos das estações, os Eléios
            portadores das tréguas[3] do Cronida
Zeus, o reconheceram, por provarem, alhures, de sua acolhida:
            saudaram-lhe com doce alento na voz,
quando ele se curvou a áurea Vitória,

em sua terra,
            que chamam de bosque sacro
de Zeus Olímpio. Lá os filhos de Enesídamo[4]
a honras imortais uniram-se.
De fato a tua casa não ignora,
Trasíbulo, amáveis cortejos,
nem canções de louvor doce mel,

pois não existem montes,
não existem estradas difíceis demais,
se para homens de boa fama
alguém leva os lauréis das Musas[5]
Lançado longe o disco, possa eu atirar meus dardos, tanto quanto
Xenócrates no doce ímpeto superava a todos!
Nas assembleias de cidadãos respeitado,

 acostumado ao trato de corcéis,
            tradição pan-helênica,
 todos os banquetes de Deuses
            abraçou! E jamais lufaram tantos ventos
que o fizeram colher as velas de sua mesa hóspede!
            Não, mas ele cruzava o Fásis no verão,
e no inverno vogava até as costas do Nilo!

Ora porque invejosas esperanças
pairam em torno do coração dos mortais,
que a virtude paterna o filho não emudeça,
nem estes hinos!  Não os lavrei
para serem imóveis.
Tudo isso comunica, Nicásipo,
a Trasíbulo, meu hóspede amigo querido.

[Tradução: Rafael Brunhara]

Αʹ Οἱ μὲν πάλαι, ὦ Θρασύβουλε,
φῶτες, οἳ χρυσαμπύκων
ἐς δίφρον Μοισᾶν ἔβαι-
νον κλυτᾷ φόρμιγγι συναντόμενοι,
ῥίμφα παιδείους ἐτόξευον μελιγάρυας ὕμνους,
ὅστις ἐὼν καλὸς εἶχεν Ἀφˈροδίτας
εὐθρόνου μνάστειραν ἁδίσταν ὀπώραν.(5)

ἁ Μοῖσα γὰρ οὐ φιλοκερδής
πω τότ' ἦν οὐδ' ἐργάτις·
οὐδ' ἐπέρναντο γˈλυκεῖ-
αι μελιφθόγγου ποτὶ Τερψιχόρας
ἀργυρωθεῖσαι πρόσωπα μαλθακόφωνοι ἀοιδαί.
νῦν δ' ἐφίητι <τὸ> τὠργείου φυλάξαι
ῥῆμ' ἀλαθείας <⏑–> ἄγχιστα βαῖνον, (10)


’χρήματα χρήματ' ἀνήρ’
ὃς φᾶ κτεάνων θ' ἅμα λειφθεὶς καὶ φίλων.
ἐσσὶ γὰρ ὦν σοφός· οὐκ ἄγˈνωτ' ἀείδω
Ἰσθμίαν ἵπποισι νίκαν,
τὰν Ξενοκˈράτει Ποσειδάων ὀπάσαις,
Δωρίων αὐτῷ στεφάνωμα κόμᾳ (15)
⸐πέμπεν ἀναδεῖσθαι σελίνων,


Βʹ εὐάρματον ἄνδρα γεραίρων,
Ἀκˈραγαντίνων φάος.
ἐν Κρίσᾳ δ' εὐρυσθενὴς
εἶδ' Ἀπόλλων νιν πόρε τ' ἀγˈλαΐαν
καὶ τόθι κˈλειναῖς <τ'> Ἐρεχθειδᾶν χαρίτεσσιν ἀραρώς
ταῖς λιπαραῖς ἐν Ἀθάναις, οὐκ ἐμέμφθη (20)
ῥυσίδιφˈρον χεῖρα πλαξίπποιο φωτός,

τὰν Νικόμαχος κατὰ καιρὸν
νεῖμ' ἁπάσαις ἁνίαις·
ὅν τε καὶ κάρυκες ὡ-
ρᾶν ἀνέγˈνον, σπονδοφόροι Κρονίδα
Ζηνὸς Ἀλεῖοι, παθόντες πού τι φιλόξενον ἔργον·
ἁδυπνόῳ τέ νιν ἀσπάζοντο φωνᾷ (25)
χρυσέας ἐν γούνασιν πίτˈνοντα Νίκας
γαῖαν ἀνὰ σφετέραν,


τὰν δὴ καλέοισιν Ὀλυμπίου Διός
ἄλσος· ἵν' ἀθανάτοις Αἰνησιδάμου
παῖδες ἐν τιμαῖς ἔμιχθεν.
καὶ γὰρ οὐκ ἀγνῶτες ὑμῖν ἐντὶ δόμοι (30)
⸐οὔτε κώμων, ὦ Θρασύβουλ', ἐρατῶν,
οὔτε μελικόμπων ἀοιδᾶν.

Γʹ οὐ γὰρ πάγος οὐδὲ προσάντης
ἁ κέλευθος γίνεται,
εἴ τις εὐδόξων ἐς ἀν-
δρῶν ἄγοι τιμὰς Ἑλικωνιάδων.
μακˈρὰ δισκήσαις ἀκοντίσσαιμι τοσοῦθ', ὅσον ὀργάν (35)
Ξεινοκράτης ὑπὲρ ἀνθρώπων γλυκεῖαν
⸏ἔσχεν. αἰδοῖος μὲν ἦν ἀστοῖς ὁμιλεῖν,
ἱπποτˈροφίας τε νομίζων
ἐν Πανελλάνων νόμῳ·
καὶ θεῶν δαῖτας προσέ-
πτυκτο πάσας· οὐδέ ποτε ξενίαν
οὖρος ἐμπνεύσαις ὑπέστειλ' ἱστίον ἀμφὶ τράπεζαν· (40)
ἀλλ' ἐπέρα ποτὶ μὲν Φᾶσιν θερείαις,
ἐν δὲ χειμῶνι πˈλέων Νείλου πρὸς ἀκτάν.
μή νυν, ὅτι φθονεραὶ


θνατῶν φρένας ἀμφικρέμανται ἐλπίδες,
μήτ' ἀρετάν ποτε σιγάτω πατρῴαν,
μηδὲ τούσδ' ὕμνους· ἐπεί τοι (45)
οὐκ ἐλινύσοντας αὐτοὺς ἐργασάμαν.
ταῦτα, Νικάσιππ', ἀπόνειμον, ὅταν
ξεῖνον ἐμὸν ἠθαῖον ἔλθῃς.


[1] Terpsícore é uma das nove Musas, associada à dança.
[2] Os descendentes de Erecteu, rei mítico de Atenas. Designa, portanto, os Atenienses.
[3] Os arautos de Élis, região que hospedava os jogos Olímpicos. Estes arautos proclamavam a trégua entre os gregos durante as competições, enviada por Zeus. Eram eles os responsáveis por anunciar os vencedores.
[4]Enesídamo: pai de Xenócrates. Ao mencionar que “os filhos de Enesídamo a honras imortais uniram-se” Píndaro certamente alude também a Terão, irmão de Xenócrates, vencedor na corrida de carros em Olímpia (ver Ol.2)
[5] No original, Heliconíades. As Musas habitavam o monte Hélicon. 



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