quinta-feira, agosto 20, 2009

Persas 384-432: A Batalha de Salamina

A noite avançava, e o exército dos gregos
não tentava nenhuma escapada furtiva.
Quando, porém, o dia de brilhantes potros
cobriu a terra toda, radioso a quem vê,
primeiro a ecoar o clamor dos gregos
inaugurava cantando, e com estrídulo
alarido respondeu o eco do rochedo
da ilha. O pavor veio a todos os bárbaros
frustrados da expectativa, pois não em fuga
os gregos então hineava o solene peã,
mas em marcha de guerra com viva audácia
o clarim a gritar vibrava em todos ao redor.
Logo, batendo junto aos remos rumorosos,
golpearam fundo o mar, cadenciados,
e rápido todos surgiram visíveis.
A ala direita primeiro em seus postos
movia-se em ordem, depois a frota toda
avançava, e simultâneo podia-se ouvir
vasto canto: "Ó filhos de gregos, ide,
libertai vossa pátria, libertai os vossos
filhos, mulheres, templos de Deuses pátrios,
e túmulos dos pais, por todos é o combate."
De nossa parte, o rumor da língua persa
vai de encontro, não era mais hora de hesitar.
Logo navio contra navio bate o aríete
brônzeo, dá início ao combate o navio
grego, e quebra a proa do navio fenício
toda, um contra outro dirige a nave.
Primeiro a torrente do exército persa
resistia, mas como muitos navios atulhavam
o estreito, não se davam recíproco auxílio,
uns com outros colidiam suas brônzeas
proas, quebravam todo o renque de remos;
e os navios gregos, não sem perícia,
em círculo ao redor vulneram e reviram
cascos de navios, não mais se via o mar,
coberto de naufrágios e de morte de mortais,
pontais e recifes estavam cheios de mortos,
remavam em fuga sem ordem todos os navios,
quantos pertenciam ao exército bárbaro.
Como se fossem atuns ou redada de peixes,
com lascas de remos e pedaços de paus
golpeavam, espetavam, e a lamentação
clamorosa cobria a planície do mar,
até que o olho da negra noite removesse.
Tantos males, nem se por dez dias
eu os narrasse, poderia contar todos.
Bem saibas que nunca num único dia
tão numerosa multidão de homens morreu

Tradução de Jaa Torrano in: Letras Clássicas, v. 6, São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002.

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