Ó Deusa, do Peleio Aquiles canta
A fatal ira, que infinitas mágoas
Aos aquivos causou; e muitas almas
Valentes de heróis antes do tempo
Mandou ao Orco; e os corpos insepultos
Aos cães e as aves todas deu por pasto
(Assim de Jove o arbítrio se cumpria!)
Depois que desavindos se apartaram
Atrídes rei do povo e o divo Aquiles.
Tradução de Elpino Duriense in: Ensaios de traducções literaes, 1812.
quinta-feira, maio 29, 2008
quarta-feira, maio 28, 2008
Tomás Antonio Gonzaga - Lira XXVII
Alexandre, Marília, qual o rio
que engrossando no Inverno tudo arrasa,
na frente das coortes
cerca, vence, abrasa
as cidades mais fortes;
foi na glória das armas o primeiro;
morreu na flor dos anos e já tinha
vencido o mundo inteiro.
Mas este bom soldado, cujo nome
não há poder algum que não abata,
foi, Marília, somente
um ditoso pirata,
um salteador valente:
Se não tem uma fama baixa e escura,
foi por se pôr ao lado da injustiça
a insolente ventura.
O grande César, cujo nome voa,
à sua mesma pátria a fé quebranta;
na mão a espada toma.
oprime-lhe a garganta,
Já senhores a Roma.
Consegue ser herói por um delito:
se acaso não vencesse, então seria
um vil traidor proscrito.
O ser herói, Marília, não consiste
em queimar os impérios: move a guerra,
espalha o sangue humano
e despovoa a terra
também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
e tanto pode ser herói o pobre
como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
seguindo da virtude a honrosa estrada:
ganhei, ganhei um trono:
ah! não manchei a espada,
não o roubei ao dono!
Ergui-o no teu peito e nos teus braços,
e valem muito mais que o mundo inteiro
uns tão ditosos laços.
Aos bárbaros, injustos vencedores
atormentam remorsos e cuidados;
nem descansam seguros
nos palácios, cercados
de tropa e de altos muros.
E a quantos nos não mostra a sábia História,
a quem mudou o fado em negro opróbio
a mal ganhada glória!
Eu vivo, minha bela, sim, eu vivo
nos braços do descanso e mais do gosto:
quando estou acordado
contemplo no teu rosto,
de graças adornado;
se durmo, logo sonho e ali te vejo.
Ah! Nem desperto nem dormindo sobe
a mais o meu desejo!
que engrossando no Inverno tudo arrasa,
na frente das coortes
cerca, vence, abrasa
as cidades mais fortes;
foi na glória das armas o primeiro;
morreu na flor dos anos e já tinha
vencido o mundo inteiro.
Mas este bom soldado, cujo nome
não há poder algum que não abata,
foi, Marília, somente
um ditoso pirata,
um salteador valente:
Se não tem uma fama baixa e escura,
foi por se pôr ao lado da injustiça
a insolente ventura.
O grande César, cujo nome voa,
à sua mesma pátria a fé quebranta;
na mão a espada toma.
oprime-lhe a garganta,
Já senhores a Roma.
Consegue ser herói por um delito:
se acaso não vencesse, então seria
um vil traidor proscrito.
O ser herói, Marília, não consiste
em queimar os impérios: move a guerra,
espalha o sangue humano
e despovoa a terra
também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
e tanto pode ser herói o pobre
como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
seguindo da virtude a honrosa estrada:
ganhei, ganhei um trono:
ah! não manchei a espada,
não o roubei ao dono!
Ergui-o no teu peito e nos teus braços,
e valem muito mais que o mundo inteiro
uns tão ditosos laços.
Aos bárbaros, injustos vencedores
atormentam remorsos e cuidados;
nem descansam seguros
nos palácios, cercados
de tropa e de altos muros.
E a quantos nos não mostra a sábia História,
a quem mudou o fado em negro opróbio
a mal ganhada glória!
Eu vivo, minha bela, sim, eu vivo
nos braços do descanso e mais do gosto:
quando estou acordado
contemplo no teu rosto,
de graças adornado;
se durmo, logo sonho e ali te vejo.
Ah! Nem desperto nem dormindo sobe
a mais o meu desejo!
domingo, maio 25, 2008
Trabalhos e Dias, 202-211: A fábula do gavião e do rouxinol
Agora uma fábula falo aos reis mesmo que isso saibam.
Assim disse o gavião ao rouxinol de colorido colo
no muito alto das nuvens levando-o cravado nas garras;
ele miserável varado todo por recurvadas garras
gemia enquanto o outro prepotente ia lhe dizendo:
"Desafortunado, o que gritas? Tem a ti um bem mais forte;
tu irás por onde eu te levar, mesmo sendo bom cantor;
alimento, se quiser, de ti farei ou até te soltarei
Insensato quem com mais fortes queira medir-se,
de vitória é privado e sofre, além das penas, vexame".
Assim falou o gavião de vôo veloz, ave de longas asas.
tradução de Mary de Camargo Neves Laferin: Hesíodo. Os trabalhos e os dias. São Paulo: Iluminuras.2006
Assim disse o gavião ao rouxinol de colorido colo
no muito alto das nuvens levando-o cravado nas garras;
ele miserável varado todo por recurvadas garras
gemia enquanto o outro prepotente ia lhe dizendo:
"Desafortunado, o que gritas? Tem a ti um bem mais forte;
tu irás por onde eu te levar, mesmo sendo bom cantor;
alimento, se quiser, de ti farei ou até te soltarei
Insensato quem com mais fortes queira medir-se,
de vitória é privado e sofre, além das penas, vexame".
Assim falou o gavião de vôo veloz, ave de longas asas.
tradução de Mary de Camargo Neves Laferin: Hesíodo. Os trabalhos e os dias. São Paulo: Iluminuras.2006
domingo, maio 18, 2008
Eurípides - Hipólito, 525-564
Eros, Eros, que dos olhos
destilas desejo, a deliciosa volúpia
vertendo nas almas que assaltas,
com teus malefícios a mim nunca te manifestes,
não venhas a mim com desmedida:
nem dos astros nem do fogo mais potente é o raio
que o de Afrodite, arremessado
pelas mãos de Eros, filho de Zeus.
Em vão, em vão, nas margens do Alfeu,
sob os pítios tetos de Febo,
sacrifícios de touros a Hélade acumula,
se Eros, o potente senhor dos humanos,
guarda-chaves do tálamo deleitoso
de Afrodite,não venerarmos,
a ele, que destrói e em toda desgraça lança
os mortais, quando vem.
Também a potrinha
de Ecália, livre do jugo do leito,
donzela e não desposada, levou-a
da casa de Êurito,
como fugitiva náiade ou bacante,
entre sangue, entre fumaças,
em sangrentas núpcias,
a Cípria, para entregá-la ao filho de Alcmena,
ó desventurada união!
Ó de Tebas sagrados
muros! ó boca de Dirce,
poderíeis atestar do advento da Cípria:
aos trovões coruscantes cingidos de fogos,
a mãe de Baco duas vezes nascido
como esposa ela entregou e em sangrento sono
estendeu.
Terrível maravilha, em tudo escorre seu sopro:
tal abelha que ondula nos ares.
Tradução: Joaquim Brasil Fontes in: Eurípides,Sêneca e Racine. Hipólito e Fedra, três tragédias. Iluminuras. 2007.
destilas desejo, a deliciosa volúpia
vertendo nas almas que assaltas,
com teus malefícios a mim nunca te manifestes,
não venhas a mim com desmedida:
nem dos astros nem do fogo mais potente é o raio
que o de Afrodite, arremessado
pelas mãos de Eros, filho de Zeus.
Em vão, em vão, nas margens do Alfeu,
sob os pítios tetos de Febo,
sacrifícios de touros a Hélade acumula,
se Eros, o potente senhor dos humanos,
guarda-chaves do tálamo deleitoso
de Afrodite,não venerarmos,
a ele, que destrói e em toda desgraça lança
os mortais, quando vem.
Também a potrinha
de Ecália, livre do jugo do leito,
donzela e não desposada, levou-a
da casa de Êurito,
como fugitiva náiade ou bacante,
entre sangue, entre fumaças,
em sangrentas núpcias,
a Cípria, para entregá-la ao filho de Alcmena,
ó desventurada união!
Ó de Tebas sagrados
muros! ó boca de Dirce,
poderíeis atestar do advento da Cípria:
aos trovões coruscantes cingidos de fogos,
a mãe de Baco duas vezes nascido
como esposa ela entregou e em sangrento sono
estendeu.
Terrível maravilha, em tudo escorre seu sopro:
tal abelha que ondula nos ares.
Tradução: Joaquim Brasil Fontes in: Eurípides,Sêneca e Racine. Hipólito e Fedra, três tragédias. Iluminuras. 2007.
domingo, maio 11, 2008
Basílio da Gama - Soneto
A uma senhora natural do Rio de Janeiro, onde se achava então o autor.
Já, Marfiza cruel, não me maltrata
saber que usas comigo de cautelas,
Qu'inda te espero ver, por causa delas,
arrependida de ter sido ingrata.
Com o tempo, que tudo desbarata,
Teus olhos deixarão de ser estrelas;
Verás murchar no rosto as faces belas,
E as tranças d'oiro converter-se em prata.
Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos
Por que me negas hoje esta ventura?
Guarda para seu tempo os desenganos,
Gozemo-nos agora, enquanto dura,
Já que dura tão pouco a flor dos anos.
Já, Marfiza cruel, não me maltrata
saber que usas comigo de cautelas,
Qu'inda te espero ver, por causa delas,
arrependida de ter sido ingrata.
Com o tempo, que tudo desbarata,
Teus olhos deixarão de ser estrelas;
Verás murchar no rosto as faces belas,
E as tranças d'oiro converter-se em prata.
Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos
Por que me negas hoje esta ventura?
Guarda para seu tempo os desenganos,
Gozemo-nos agora, enquanto dura,
Já que dura tão pouco a flor dos anos.
Arquíloco Fr.126W
Tenho uma grande arte:
eu firo duramente
aqueles que me ferem.
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos
eu firo duramente
aqueles que me ferem.
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos
sábado, maio 10, 2008
Estesícoro - "Primavera"
Tempo de primavera:
trissam as andorinhas.
.....................
Com langue melodia frígia
convém cantar essas canções
das Graças de formosas tranças:
surgiu a doce primavera.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
trissam as andorinhas.
.....................
Com langue melodia frígia
convém cantar essas canções
das Graças de formosas tranças:
surgiu a doce primavera.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
Téognis - "Ninguém, ó Cirno..."
Ninguém, ó Cirno, causa a sua própria ruína,
nem por si mesmo é que prospera:
tudo nos vem dos deuses.
Ninguém sabe se os atos que pratica
terão efeito bom ou mau:
vem deles ora o bem, quando se quer o mal,
vem deles ora o mal, quando se quer o bem.
Ninguém alcança, em tudo, o que deseja:
o desamparo traça raias
que não permitem ir à frente.
Nada sabemos, nós,os homens
e é vão o que pensamos;
os deuses tão-somente cumprem tudo
segundo os seus desígnios.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
nem por si mesmo é que prospera:
tudo nos vem dos deuses.
Ninguém sabe se os atos que pratica
terão efeito bom ou mau:
vem deles ora o bem, quando se quer o mal,
vem deles ora o mal, quando se quer o bem.
Ninguém alcança, em tudo, o que deseja:
o desamparo traça raias
que não permitem ir à frente.
Nada sabemos, nós,os homens
e é vão o que pensamos;
os deuses tão-somente cumprem tudo
segundo os seus desígnios.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
Estesícoro - "Helena"
Muitos marmelos atiraram
ao Príncipe em seu carro,
muitos ramos de mirto
e coroas de rosas,
grinaldas de violetas.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
ao Príncipe em seu carro,
muitos ramos de mirto
e coroas de rosas,
grinaldas de violetas.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos
Tomás Antônio Gonzaga
Marília de Dirceu [1]
Pintam, Marília, os poetas
a um menino vendado,
com uma aljava de setas,
arco empunhado na mão;
ligeiras asas nos ombros,
o tenro corpo despido,
e de Amor ou de Cupido
são os nomes que lhe dão.
Porém eu, Marília, nego,
que assim seja Amor,pois ele
nem é moço nem é cego,
nem setas nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
um retrato mais perfeito,
que ele já feriu meu peito:
por isso o conheço bem.
Os seus compridos cabelos,
que sobre as costas ondeiam,
são que os de Apolo mais belos,
mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
e com o branco do rosto
fazem, Marília, um composto
da mais formosa união.
Tem redonda e lisa testa,
arqueadas sobrancelhas,
e seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu:
que no dia luminoso
o Céu tem um sol formoso,
e o travesso Amor tem dois.
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
púrpureas folhas de rosa,
brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
os seus beiços são formados;
os seus dentes delicados
são pedaços de marfim.
Mal vi seu rosto perfeito,
dei logo um suspiro, e ele
conheceu haver-me feito
estrago no coração.
Punha em mim os olhos, quando
entendia eu não olhava;
vendo que o via, baixava
a modesta vista ao chão.
Chamei-lhe um dia formoso;
ele, ouvindo seus louvores,
com um modo desdenhoso
se sorriu e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
em que estava esta alma posta;
não me deu também resposta,
constrangeu-se e suspirou.
Conheço os sinais; e logo,
animado de esperança,
busco dar um desafogo
ao cansado coração.
Pego em seus dedos nevados,
e querendo dar-lhe um beijo,
cobriu-se todo de pejo
e fugiu-me com a mão.
Tu, Marília, agora vendo
de Amor o lindo retrato,
contigo estarás dizendo
que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
que Cupido é deus suposto:
se há Cupido, é só teu rosto,
que foi ele quem me venceu.
Pintam, Marília, os poetas
a um menino vendado,
com uma aljava de setas,
arco empunhado na mão;
ligeiras asas nos ombros,
o tenro corpo despido,
e de Amor ou de Cupido
são os nomes que lhe dão.
Porém eu, Marília, nego,
que assim seja Amor,pois ele
nem é moço nem é cego,
nem setas nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
um retrato mais perfeito,
que ele já feriu meu peito:
por isso o conheço bem.
Os seus compridos cabelos,
que sobre as costas ondeiam,
são que os de Apolo mais belos,
mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
e com o branco do rosto
fazem, Marília, um composto
da mais formosa união.
Tem redonda e lisa testa,
arqueadas sobrancelhas,
e seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu:
que no dia luminoso
o Céu tem um sol formoso,
e o travesso Amor tem dois.
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
púrpureas folhas de rosa,
brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
os seus beiços são formados;
os seus dentes delicados
são pedaços de marfim.
Mal vi seu rosto perfeito,
dei logo um suspiro, e ele
conheceu haver-me feito
estrago no coração.
Punha em mim os olhos, quando
entendia eu não olhava;
vendo que o via, baixava
a modesta vista ao chão.
Chamei-lhe um dia formoso;
ele, ouvindo seus louvores,
com um modo desdenhoso
se sorriu e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
em que estava esta alma posta;
não me deu também resposta,
constrangeu-se e suspirou.
Conheço os sinais; e logo,
animado de esperança,
busco dar um desafogo
ao cansado coração.
Pego em seus dedos nevados,
e querendo dar-lhe um beijo,
cobriu-se todo de pejo
e fugiu-me com a mão.
Tu, Marília, agora vendo
de Amor o lindo retrato,
contigo estarás dizendo
que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
que Cupido é deus suposto:
se há Cupido, é só teu rosto,
que foi ele quem me venceu.
sexta-feira, maio 09, 2008
Horácio, I, 1.
Maecenas atauis edite regibus,
o et praesidium et dulce decus meum,
sunt quos curriculo puluerem Olympicum
collegisse iuuat metaque feruidis
euitata rotis palmaque nobilis
terrarum dominos euehit ad deos;
hunc, si mobilium turba Quiritium
certat tergeminis tollere honoribus;
illum, si proprio condidit horreo
quicquid de Libycis uerritur areis.
Gaudentem patrios findere sarculo
agros Attalicis condicionibus
numquam demoueas, ut trabe Cypria
Myrtoum pauidus nauta secet mare.
Luctantem Icariis fluctibus Africum
mercator metuens otium et oppidi
laudat rura sui; mox reficit rates
quassas, indocilis pauperiem pati.
Est qui nec ueteris pocula Massici
nec partem solido demere de die
spernit, nunc uiridi membra sub arbuto
stratus, nunc ad aquae lene caput sacrae.
Multos castra iuuant et lituo tubae
permixtus sonitus bellaque matribus
detestata. Manet sub Ioue frigido
uenator tenerae coniugis inmemor,
seu uisa est catulis cerua fidelibus,
seu rupit teretis Marsus aper plagas.
Me doctarum hederae praemia frontium
dis miscent superis, me gelidum nemus
Nympharumque leues cum Satyris chori
secernunt populo, si neque tibias
Euterpe cohibet nec Polyhymnia
Lesboum refugit tendere barbiton.
Quod si me lyricis uatibus inseres,
sublimi feriam sidera uertice.
De reis avós Mecenas descendente,
Ó meu amparo, ó doce glória minha:
A uns apraz alevantar no circo
Olímpica poeira, e das ferventes
Rodas a meta salva, e a palma nobre,
Que os alça aos Deuses árbitros da terra:
A este, se dos móbiles Quirites
Porfia a turba erguê-lo às mores honras:
Àquele, se guardou em seu celeiro,
Quanto das eiras líbicas se varre.
A quem folga com a enxada os pátrios campos
Fender nunca moveras com as atálicas
Fortunas, a que em cíprio lenho corte
o mar Mirtôo pavoroso nauta.
Temendo o mercador ábrego em luta
Com o mar icário, louva o ócio e os campos
Do ninho seu: mas logo os rotos vasos
Concerta indócil a sofrer pobreza.
Um do Massico anejo os copos ama,
E tirar parte ao dia inteiro, uma hora
Jazendo sob o verde medronheiro,
Ora à branda matriz da sacra linfa.
A muitos o arraial, e o som da tuba
Com os clarins misturado apraz, e as guerras
ódios das mães. Atura ao frio Jove
O caçador, e a tenra esposa esquece;
Ou vissem fiéis cães a corça, ou Marso
Javardo entrasse nas torcidas malhas.
A ti, das doutas frentes prêmio, as eras
Com os Deuses supernos me misturam;
A mim gélido bosque, e leves coros
Das ninfas, e dos sátiros, me extremam
Do povo: se nem tolhe Euterpe as frautas,
Nem foge de afinal Polínia a lira
Lésbia. Se aos vates líricos me ajuntas,
Ferirei com a sublime frente os astros.
Tradução: Elpino Duriense.
o et praesidium et dulce decus meum,
sunt quos curriculo puluerem Olympicum
collegisse iuuat metaque feruidis
euitata rotis palmaque nobilis
terrarum dominos euehit ad deos;
hunc, si mobilium turba Quiritium
certat tergeminis tollere honoribus;
illum, si proprio condidit horreo
quicquid de Libycis uerritur areis.
Gaudentem patrios findere sarculo
agros Attalicis condicionibus
numquam demoueas, ut trabe Cypria
Myrtoum pauidus nauta secet mare.
Luctantem Icariis fluctibus Africum
mercator metuens otium et oppidi
laudat rura sui; mox reficit rates
quassas, indocilis pauperiem pati.
Est qui nec ueteris pocula Massici
nec partem solido demere de die
spernit, nunc uiridi membra sub arbuto
stratus, nunc ad aquae lene caput sacrae.
Multos castra iuuant et lituo tubae
permixtus sonitus bellaque matribus
detestata. Manet sub Ioue frigido
uenator tenerae coniugis inmemor,
seu uisa est catulis cerua fidelibus,
seu rupit teretis Marsus aper plagas.
Me doctarum hederae praemia frontium
dis miscent superis, me gelidum nemus
Nympharumque leues cum Satyris chori
secernunt populo, si neque tibias
Euterpe cohibet nec Polyhymnia
Lesboum refugit tendere barbiton.
Quod si me lyricis uatibus inseres,
sublimi feriam sidera uertice.
De reis avós Mecenas descendente,
Ó meu amparo, ó doce glória minha:
A uns apraz alevantar no circo
Olímpica poeira, e das ferventes
Rodas a meta salva, e a palma nobre,
Que os alça aos Deuses árbitros da terra:
A este, se dos móbiles Quirites
Porfia a turba erguê-lo às mores honras:
Àquele, se guardou em seu celeiro,
Quanto das eiras líbicas se varre.
A quem folga com a enxada os pátrios campos
Fender nunca moveras com as atálicas
Fortunas, a que em cíprio lenho corte
o mar Mirtôo pavoroso nauta.
Temendo o mercador ábrego em luta
Com o mar icário, louva o ócio e os campos
Do ninho seu: mas logo os rotos vasos
Concerta indócil a sofrer pobreza.
Um do Massico anejo os copos ama,
E tirar parte ao dia inteiro, uma hora
Jazendo sob o verde medronheiro,
Ora à branda matriz da sacra linfa.
A muitos o arraial, e o som da tuba
Com os clarins misturado apraz, e as guerras
ódios das mães. Atura ao frio Jove
O caçador, e a tenra esposa esquece;
Ou vissem fiéis cães a corça, ou Marso
Javardo entrasse nas torcidas malhas.
A ti, das doutas frentes prêmio, as eras
Com os Deuses supernos me misturam;
A mim gélido bosque, e leves coros
Das ninfas, e dos sátiros, me extremam
Do povo: se nem tolhe Euterpe as frautas,
Nem foge de afinal Polínia a lira
Lésbia. Se aos vates líricos me ajuntas,
Ferirei com a sublime frente os astros.
Tradução: Elpino Duriense.
Sofro, Lídia, do medo do destino.
Qualquer pequena coisa de onde pode
Brotar uma nova ordem em minha vida,
Lídia, me aterra.
Qualquer coisa,qual seja,que transforme
Meu plano curso de existência,embora
Para melhores coisas o transforme,
Por transformar
Odeio, e não o quero. Os Deuses dessem
Que ininterrupta minha vida fosse
Uma planície sem relevos, indo
até o fim.
A glória embora eu nunca haurisse, ou nunca
Amor ou justa stima dessem-me outros,
Basta que a vida seja só a vida
E eu viva.
26-5-1917
Ricardo Reis
Qualquer pequena coisa de onde pode
Brotar uma nova ordem em minha vida,
Lídia, me aterra.
Qualquer coisa,qual seja,que transforme
Meu plano curso de existência,embora
Para melhores coisas o transforme,
Por transformar
Odeio, e não o quero. Os Deuses dessem
Que ininterrupta minha vida fosse
Uma planície sem relevos, indo
até o fim.
A glória embora eu nunca haurisse, ou nunca
Amor ou justa stima dessem-me outros,
Basta que a vida seja só a vida
E eu viva.
26-5-1917
Ricardo Reis
A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos secos.
O frio leve treme.
Desterrado da pátria antiquíssima da minha
Crença, consolado só por pensar nos deuses,
aqueço-me trémulo
A outro sol do que este -
O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole
O que alumiava os passos lentos e graves
De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor
Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida
À distância a que está.
19-6-1914
Ricardo Reis
O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos secos.
O frio leve treme.
Desterrado da pátria antiquíssima da minha
Crença, consolado só por pensar nos deuses,
aqueço-me trémulo
A outro sol do que este -
O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole
O que alumiava os passos lentos e graves
De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor
Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida
À distância a que está.
19-6-1914
Ricardo Reis
Assinar:
Postagens (Atom)