sexta-feira, outubro 08, 2021

O Amor de Bilítis, por Guilherme de Almeida

Sem título. Ilustração George Barbier, para edição de 1922 de Les Chansons de Bilitis. 


Nota liminar 

Les Chansons de Bilitis (1895) é uma coleção de poemas homoeróticos femininos de autoria do francês Pierre Loüys, que o atribuiu a Bilítis, uma cortesã grega, discípula de Safo. Loüys afirmou ter encontrado os poemas numa tumba em Chipre, no entanto são poemas originais de Loüys, muitos deles reelaborações inventivas da mélica de Safo e de versos da Antologia Palatina. A obra teve grande repercussão (ver as adaptações de Claude Debussy para três dos poemas da obra: La flûte de Pan, La chevelure e Le tombeau des Naïades). A obra teve repercussão por sublinhar o homoerotismo da figura de Safo, desafiando algumas visões acerca da poeta de Lesbos que circulavam no século XIX. 

 Guilherme de Almeida traduziu algumas das canções em 1943, para a coleção Rubaiyat da José Olympio. 

A ÁRVORE

Despi-me para subir a uma árvore; minhas coxas nuas enlaçavam a cortiça lisa e úmida; minhas sandálias caminhavam sobre os galhos.

Bem no alto, mas ainda sob a folhagem e ao abrigo do calor, cavalguei um gancho aberto, balançando os pés no ar.

Havia chovido. Gotas de águas caíam e escorriam pela minha pele. Eu tinha as mãos manchadas de musgos, e os artelhos rubros por haver esmigalhado flores.

Eu sentia a bela árvore viver varada pelo vento; e cerrava então com mais força as minhas pernas, e colava meus lábios abertos contra a nuca felpuda de um ramo. 

[Tradução: Guilherme de Almeida, 1943]

Je me suis dévêtue pour monter à un arbre; mes cuisses nues embrassaient l'écorce lisse et humide; mes sandales marchaient sur les branches.

Tout en haut, mais encore sous les feuilles et à l'ombre de la chaleur, je me suis mise à cheval sur une fourche écartée en balançant mes pieds dans le vide.

Il avait plu. Des gouttes d'eau tombaient et coulaient sur ma peau. Mes mains étaient tachées de mousse, et mes orteils étaient rouges, à cause des fleurs écrasées.

Je sentais le bel arbre vivre quand le vent passait au travers; alors je serrais mes jambes davantage et j'appliquais mes lèvres ouvertes sur la nuque chevelue d'un rameau


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Guilherme de. O Amor de Bilítis. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1943.
LOÜYS, Pierre. Les Chansons de Bilitis. em https://www.gutenberg.org/cache/epub/4708/pg4708-images.html. Acessado em 06.10.2021. 

Um comentário:

denise bottmann disse...

interessante que a JO inaugura sua coleção rubáyát com esse volume, arrolando-o na sequência de uma coleção anterior, "série de poemas orientais". acho interessante essa história :-) https://naogostodeplagio.blogspot.com/search/label/cole%C3%A7%C3%A3o%20rubaiy%C3%A1t