Primeiros Escritos
blog de poesia e tradução.
domingo, setembro 01, 2024
Quando vier a primavera (Alberto Caeiro)
quinta-feira, junho 27, 2024
Animula vagula blandula -- tradução de Nelson Ascher
domingo, abril 14, 2024
Ésquilo - Fragmento 70
sábado, abril 06, 2024
Ezra Pound, Cantares, XLV - Com Usura - Tradução de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari
Com usura nenhum homem tem casa de boa pedra
blocos lisos e certos
que o desenho possa cobrir,
com usura
nenhum homem tem um paraíso pintado na parede de sua igreja
harpes et luz
ou onde a virgem receba a mensagem
e um halo se irradie do entalhe,
com usura
ninguém vê Gonzaga seus herdeiros e concubinas
nenhum quadro é feito para durar e viver conosco,
mas para vender, vender depressa,
com usura, pecado contra a natureza,
teu pão é mais e mais feito de panos podres
teu pão é um papel seco,
sem trigo do monte, sem farinha pura
com usura o traço se torna espesso
com usura não há clara demarcação
e ninguém acha lugar para sua casa.
Quem lavra a pedra é afastado da pedra
o tecelão é afastado do tear
COM USURA
a lã não chega ao mercado
a ovelha não dá lucro com a usura
A usura é uma praga,
a usura embota a agulha dos dedos da donzela
tolhe a perícia da fiandeira. Pietro Lombardo
não veio da usura
Duccio não veio da usura
nem Pier della Francesca, nem Zuan Bellini veio
nem Usura pintou "La Callunia"
Angélico não veio da usura, Ambrogio Praedis não veio,
Nenhuma igreja de pedra lavrada, com a inscrição: Adamo me fecit.
Nenhuma St. Trophime
Nenhuma St. Hilaire
Usura enferruja o cinzel
Enferruja a arte e o artesão
Rói o fio no tear
Mulher alguma aprende a urdir o ouro em sua trama;
A Usura é um câncer no azul; o carmesim não e bordado,
O esmeralda não encontra um Memling.
Usura mata a criança no ventre
Detém o galanteio do moço
Ela trouxe paralisia ao leito, jaz
entre noivo e noiva
CONTRA NATURAM
Putas para Elêusis
Cadáveres no banquete
a comando da Usura
Nota. Uma taxa pelo uso do poder de compra, cobrada sem levar em conta a produção, muitas vezes sem levar em conta as possibilidades de produção (daí o fracasso do banco Medici)
Fonte. AUGUSTO DE CAMPOS (Intr., org., notas) Ezra Pound: Cantares. São Paulo: Cobalto, 2024.
terça-feira, março 05, 2024
Catulo, Poema 69 - Tradução de Rafael Frate
Não se impressione pelo fato de mulher nenhuma,
Rufo, querer trancá-lo em suas macias coxas,
nem mesmo se você a estimular com roupas caras,
ou com algum regalo e pedras cintilantes.
é que o afeta um mau rumor nocivo, que declara
que habita um feroz bode sob o seu sobaco.
Todos o temem. Nem é de admirar, pois é um bicho
terrível, com quem moça nenhuma quer estar.
Por isso, acabe logo co’ esta peste atroz para os narizes,
ou o 'por que todas fogem?' não o impressione mais.
Noli
admirari quare tibi femina nulla,
Rufe,
velit tenerum supposuisse femur,
non si
illam rarae labefactes munere vestis
aut
perluciduli deliciis lapidis.
laedit te
quaedam mala fabula, qua tibi fertur
valle sub
alarum trux habitare caper.
hunc
metuunt omnes; neque mirum: nam mala valdest
bestia,
nec quicum bella puella cubet.
quare aut
crudelem nasorum interfice pestem,
aut
admirari desine cur fugiant.
segunda-feira, fevereiro 26, 2024
A Ilha Lacustre - Ezra Pound (Trad. Dirceu Villa)
A ILHA LACUSTRE
Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me dêem na hora certa, eu imploro, uma pequena tabacaria
Com as caixinhas brilhantes
empilhadas com capricho nas prateleiras
E o cavendish de suave fragrância
o tabaco picado,
E o brilhante Virginia
avulso nas vitrines brilhantes,
E duas balanças sem muita gordura,
E as putas que chegam pra dois dedos de conversa, de passagem,
Pra jogar conversa fora, e dar um jeito no cabelo.
Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me emprestem uma pequena tabacaria,
ou me ponham em qualquer profissão
Salvo esta maldita de escrever,
onde é preciso ter miolos todo o tempo.
.
THE LAKE ISLE
O God, O Venus, O Mercury, patron of thieves,
Give me in due time, I beseech you, a little tobacco-shop,
With the little bright boxes
piled up neatly upon the shelves
And the loose fragrant cavendish
and the shag,
And the bright Virginia
loose under the bright glass cases,
And a pair of scales not too greasy,
And the whores dropping in for a word or two in passing,
For a flip word, and to tidy their hair a bit.
O God, O Venus, o Mercury, patron of thieves,
Lend me a little tobacco-shop,
or install me in any profession
Save this damn’d profession of writing,
where one needs one’s brains all the time.
VILLA, Dirceu. Ezra Pound. Lustra. São Paulo: Demônio Negro/Annablume, 2011.
domingo, fevereiro 25, 2024
A água-furtada (Ezra Pound, trad. Mário Faustino)
Vamos, lamentemos os que estão em melhor
situação que a nossa.
Vamos, meu amigo, e lembra-te:
os ricos têm mordomos e não têm amigos,
E nós temos amigos e não temos mordomos.
Vamos, lamentemos os casados e os solteiros.
A Aurora entra com pés pequenos,
Pavlova dourada,
E estou perto do meu desejo.
E a vida não tem nada melhor
Que esta hora de claro frescor,
a hora de acordar juntos.
(LUSTRA, 1916)
Fonte:
CAMPOS,A; CAMPOS, H.; FAUSTINO, M.; GRÜNEWALD, J.L. PIGNATARI, D. (org., trad.) Ezra Pound: Poesia. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora da UnB, 1983.