Não aceitava Cratesicleia
que as pessoas a vissem chorar e lamentar-se;
e caminhava majestosa e taciturna.
Seu rosto imperturbável nada demonstrava
de sua mágoa e de seu tormento.
Mas, seja como for, por um momento não aguentou;
e antes de embarcar no infortunado navio a fim de ir para Alexandria,
levou seu filho ao templo de Poseidon
e quando se encontram sós, ela o abraçou
e começou a beijá-lo, a ele "dilacerado de dor", diz
Plutarco, "e profundamente perturbado".
Contudo, sua índole forte relutou;
e, reanimada, a admirável mulher
disse a Clêomenes: "Vamos! ó rei
dos lacedemônios, para que, quando sairmos,
ninguém nos possa ver chorar
nem fazer algo indigno
de Esparta. Com efeito, isso apenas depende de nós;
os destinos apresentam-se como a divindade permite".
E embarcou no navio, indo em direção a essa "permissão".
Konstantinos Kaváfis (Tradução: Ísis Borges Fonseca)
quarta-feira, novembro 23, 2011
A Cidade
Disseste: "Irei à outra terra,irei a outro mar.
Uma outra cidade há de achar-se melhor que esta.
Cada esforço meu é uma condenação fatal;
e está meu coração - como morto - enterrado.
Meu espírito até quando ficará neste marasmo?
Para onde volte meu olhar, para qualquer lugar que atente
ruínas negras de minha vida vejo aqui,
onde tantos anos passei, e a destruí e a arruinei".
Novos lugares não encontrarás, não encontrarás outros mares.
A cidade te seguirá. Às mesmas ruas voltarás.
E nos mesmos bairros envelhecerás;
e nestas mesmas casas encanecerás.
Sempre a esta cidade chegarás. Quanto a outros lugares - não tenhas esperança -
não há navio para ti, não há caminho.
Assim como destruíste tua vida aqui
neste pequeno recanto, em toda a terra arruinaste-a.
Konstantinos Kaváfis (Tradução: Ísis Borges da Fonseca)
Uma outra cidade há de achar-se melhor que esta.
Cada esforço meu é uma condenação fatal;
e está meu coração - como morto - enterrado.
Meu espírito até quando ficará neste marasmo?
Para onde volte meu olhar, para qualquer lugar que atente
ruínas negras de minha vida vejo aqui,
onde tantos anos passei, e a destruí e a arruinei".
Novos lugares não encontrarás, não encontrarás outros mares.
A cidade te seguirá. Às mesmas ruas voltarás.
E nos mesmos bairros envelhecerás;
e nestas mesmas casas encanecerás.
Sempre a esta cidade chegarás. Quanto a outros lugares - não tenhas esperança -
não há navio para ti, não há caminho.
Assim como destruíste tua vida aqui
neste pequeno recanto, em toda a terra arruinaste-a.
Konstantinos Kaváfis (Tradução: Ísis Borges da Fonseca)
Eumênides, vv. 1-33
Pítia:
Primeiro dos Deuses nesta prece venero
Terra, primeira adivinha. Dela provém
Têmis, essa após a mãe sentava-se neste
oráculo, como contam. No terceiro sorteio,
porque ela anuiu, e não por violência,
outra Titânida filha da Terra teve assento,
Febe, e essa o doa, natalícia dádiva,
a Febo. Ele tem de Febe o cognome.
Deixou a lagoa e o penhasco délio,
aportou nas costas navegáveis de Palas
e veio a esta terra e sede do Parnaso.
Abrindo caminho os filhos de Hefesto
fazem-lhe escolta, prestam-lhe culto,
sendo amansadores de terra bravia.
Delfo, o rei timoneiro desta região,
e o povo muito honram sua chegada.
Zeus o torna pleno de divina arte
e põe quarto adivinho no trono,
e Lóxias é profeta de Zeus pai.
Por esses Deuses preludio a prece.
Palas Pronaia precede no preito.
Venero as ninfas da côncava pedra
Corícia, grata às aves, morada de Numes.
Brômio tem a área, não deslembro,
daí o Deus conduziu tropa de Bacas
tramando morte de lebre a Penteu.
Invoco águas de Plisto, poder de Posídon,
invoco o perfectivo e supremo Zeus,
depois adivinha me sento no trono.
Dêem-me hoje lograr a melhor entrada
que antes. Se há gregos presentes,
venham, segundo sorteio, como só ser.
Vaticino como Deus vai conduzindo.
Tradução: Jaa Torrano
Primeiro dos Deuses nesta prece venero
Terra, primeira adivinha. Dela provém
Têmis, essa após a mãe sentava-se neste
oráculo, como contam. No terceiro sorteio,
porque ela anuiu, e não por violência,
outra Titânida filha da Terra teve assento,
Febe, e essa o doa, natalícia dádiva,
a Febo. Ele tem de Febe o cognome.
Deixou a lagoa e o penhasco délio,
aportou nas costas navegáveis de Palas
e veio a esta terra e sede do Parnaso.
Abrindo caminho os filhos de Hefesto
fazem-lhe escolta, prestam-lhe culto,
sendo amansadores de terra bravia.
Delfo, o rei timoneiro desta região,
e o povo muito honram sua chegada.
Zeus o torna pleno de divina arte
e põe quarto adivinho no trono,
e Lóxias é profeta de Zeus pai.
Por esses Deuses preludio a prece.
Palas Pronaia precede no preito.
Venero as ninfas da côncava pedra
Corícia, grata às aves, morada de Numes.
Brômio tem a área, não deslembro,
daí o Deus conduziu tropa de Bacas
tramando morte de lebre a Penteu.
Invoco águas de Plisto, poder de Posídon,
invoco o perfectivo e supremo Zeus,
depois adivinha me sento no trono.
Dêem-me hoje lograr a melhor entrada
que antes. Se há gregos presentes,
venham, segundo sorteio, como só ser.
Vaticino como Deus vai conduzindo.
Tradução: Jaa Torrano
segunda-feira, novembro 21, 2011
Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.
Pouco pode o homem contra a externa vida.
Deixa haver a injustiça.
Não odeies nem creias.
Não tem mais reino do que a própria mente.
Essa, em que és dono, grato o Fado e os Deuses,
Governa, até à fronteira,
Onde mora a vontade.
Aí, ao menos, só por inimigos
Os grandes deuses e o Destino ostentas.
Não há dupla derrota
Da derrota e vileza.
Assim penso, e esta mórbida justiça
Com que queremos intervir nas coisas,
Expilo, como um servo
Infiel da ampla mente.
Se nem de mim posso ser dono, como
quero ser dono ou lei do que acontece
Onde me a mente e corpo
Não são mais do que coisas?
Basta-me que me baste, e o resto mova-se.
Na órbita prevista, em que até os deuses
Giram, sóis centros servos
De um movimento imenso.
Pouco pode o homem contra a externa vida.
Deixa haver a injustiça.
Não odeies nem creias.
Não tem mais reino do que a própria mente.
Essa, em que és dono, grato o Fado e os Deuses,
Governa, até à fronteira,
Onde mora a vontade.
Aí, ao menos, só por inimigos
Os grandes deuses e o Destino ostentas.
Não há dupla derrota
Da derrota e vileza.
Assim penso, e esta mórbida justiça
Com que queremos intervir nas coisas,
Expilo, como um servo
Infiel da ampla mente.
Se nem de mim posso ser dono, como
quero ser dono ou lei do que acontece
Onde me a mente e corpo
Não são mais do que coisas?
Basta-me que me baste, e o resto mova-se.
Na órbita prevista, em que até os deuses
Giram, sóis centros servos
De um movimento imenso.
quinta-feira, novembro 17, 2011
Em face dos últimos acontecimentos
Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?
Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.
Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?
Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.
Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?
terça-feira, novembro 15, 2011
quarta-feira, novembro 02, 2011
Convite triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema,
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro profundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou quem sabe? Beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida,
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho,
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
Carlos Drummond de Andrade
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema,
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro profundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou quem sabe? Beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida,
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho,
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
Carlos Drummond de Andrade
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