Agora o solo se depura, as mãos todas, os cálices;
alguém eleva à fronte a trança da coroa;
um outro infunde bálsamo no púcaro;
a cratera, plena, rejubila-se;
ultimam um vinho diverso - sua falta é inadmissível! - ,
docimel, arômata floral nos jarros;
espira sacra incensa o meio;
água pura, água-dulçor, frescor de água;
pronto o louro pão; fartura de queijo e mel
à mesa engalanada;
pétalas antológicas enchem o altar central;
vozes musicais ocupam a morada em festa.
Iniciar hinos ao deus é prerrogativa de homens felizes,
com seus mitos de augúrio, linguagens de catarse.
Finda a libação e o clamor pelo justo proceder
- eis o que a tudo precede! -
beber já não agride, quando permita o torna-lar
sem amparo no escravo, se idade não pesa...
Digno de nota é quem, pós-beberagem, revela temas de nobreza,
o tônus da memória no que é meritório,
não em episódios de refregas titânicas, gigânteas,
centáureas, invencionices do passado,
ou nas revoltas sanguinárias. Que vantagem nos trazem?
Dádiva é manter a mente nas deidades.
Trajano Vieira.
Fonte: VIEIRA, T. Xenofanias: releituras de Xenófanes. Editora da Unicamp, São Paulo, SP: Imprensa oficial do estado de São paulo, 2006.
Um comentário:
Bela! Muito bela.
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