Ao fim de vinte anos de trabalhos e de estranha aventura, Ulisses filho de Laertes retorna a sua Ítaca. Com a espada de ferro e o arco executa a devida vingança. Atônita até o medo, Penélope não se atreve a reconhecê-lo e alude, para testá-lo, a um segredo que os dois compartilham, e apenas os dois: o de seu tálamo comum, que nenhum dos mortais pode mover, porque a oliveira com que foi lavrado o ata à terra. Esta é a história que se lê no livro vigésimo terceiro da Odisséia.
Homero não ignorava que as coisas devem ser ditas de maneira indireta. Tampouco o ignoravam seus gregos, cuja linguagem natural era o mito. A fábula do tálamo que é uma árvore é uma espécie de metáfora. A rainha soube que o desconhecido era o rei quando se viu em seus olhos, quando sentiu em seu amor que a encontrava o amor de Ulisses.
Jorge Luís Borges
Tradução: Josely Vianna Baptista
Fonte: BORGES, J.L. História da Noite in: Obra completa Volume 3 São Paulo: Globo, 1996.
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