sábado, dezembro 27, 2008

Píndaro - 2º Olímpica

Hinos, que a lira comandais! Que herói, que nume
Ou que varão celebraremos hoje? É Zeus,
Que reina em Pisa, e Hércules, que fez de Olímpia
o berço das competições, e também Térão,
Térão, primeiro na quadriga, de Agrigento,
Bravo, sensato campeão que honrou as almas

Daqueles ancestrais que após esforço ingente
Junto do rio uma cidade santa ergueram, foram
Sêmen da Sicília, e os protegeu destino
Aventurado,e em prol da raça e da virtude
Que tiveram, honra e ouro receberam!
Ó Crônio filho de Réia, alma dos torneios
De Olímpia e rio Alfeu, atento a esses cantares,
A cara pátria tu preserves aos que são
Seus descendentes, e do que já passou,
O fim das coisas, mal ou bem, não pode o Tempo
(É pai de tudo)invalidar, no esquecimento.
Contudo, a boa sina vai nascer pra nós,
E o nobre canto mata a dor que quer se alçar,

Quando a Moira do deus manda o bem, qual se deu
Com Cadmo e suas filhas tão sofridas,
Para quem todo mal veio a acabar-se um dia.
Morreu Semele de cabelos longos sob o divo
Raio, e entre as divinais viveu depois,já bem
Tratada por Atena, Zeus e pelo deus
Da parra, Dioniso,diz-se também
Que entre as Ninfas do oceano Ino tem
Vida piedosa, abençoada! Mal conhecem
Os varões o fim de sua carreira,
E nem se vão viver num dia estrito
O sol de uma ventura inigualável:
Por essas ondas onde a vida gira
No bem ou na tristeza erramos sempre.

Olhai a raça de um tal Térão: com mirífico
Destino a Graça aquinhoou seus ancestrais.
Desde que Laio, entanto, foi morrer às mãos
De um filho seu, virou horror o que era belo,
Apolo o quis assim, e assim bem se cumpriu.
Depois, a lâmina do olhar de Erínia fez
Se engalfinharem os dois filhos do rei Édipo,
Um, Polinice, ao perecer, deixou
O filho seu Tersandro, ilustre em juvenis
Competições, rebento derradeiro que susteve
A casa dos Adrástidas, de onde veio
A plêiade de heróis que nesta hora eu canto.

Do sangue desses todos veio Enesidemo,
A quem ora tributo o preito da poesia
E os sons da lira, após vencer jogos de Olímpia,
Enquanto aos dois irmãos cederam todas Graças
Lindo laurel de Delfos e dos jogos do Istmo,
Pois doze voltas deu em glória a sua quadriga.
E o amor da glória sempre vence a todo medo.
Quando a riqueza se coroa coa virtude,
A tudo enfim se enfrenta pois inspira ardor
Impetuoso e vivo a febre de vencer,
Astro flamante e labareda para os vivos!
Ouro e virtude quem possui sabe o vindouro.
Sabe também que as almas dos culpados são
Punidas, ao findarem esta vida, se hão
A Zeus muito ofendido, e têm seu júri no Hades,
E o duro tribunal enfim se pronuncia.

Os bons enxergam claros sóis em plena noite,
Como se dia fosse, e, livres da labuta,
Não se escalavram mãos e braços no lavrar
Da terra, ou de salgado mar, em rude cata
Aos alimentos, mas - ao revés - o que respeita
Aos mandamentos sempre vive sem chorar,
Por eleição de Zeus, enquanto que os perjuros
A presa vêm a ser de insanas aflições.
E três encarnações, após terem vivido,
Ou seja noutro mundo ou neste, e hajam assim
a força de viverem longe da injustiça,
Então vão percorrer de Zeus a bela estrada
E de Saturno, e à ilha recebidos são
De todos Bem-Aventurados, que das auras
Do mar se toucam, onde raiam flores de ouro,
As terrestres nas árvores, e ao seio de ondas,
Outras, todas se entrelaçando qual grinaldas,
Onde o frontal e os braços não se apartam mais.

Tais são as justas regiões de Radamanto,
A quem a honra de um assento cedeu Crono,
Pai dos divinos, cônjuge de Réia, que há
Sua sede acima de imortais, lá onde moram
Peleu e Cadmo e Aquileu, e este por Tétis
Conduzido, cujas preces hão dobrado a Zeus.
Aquiles, que abateu Heitor, bastião de Tróia,
Que não apenas Cicno leva à tumba, mas
Também ao filho etíope da Aurora, Mêmnon.
Tenho na minha espalda a aljava com as setas
Que têm a voz para quem possa compreender,
Se bem que o vulgo exige sempre explicações.
Talento tem o homem que por natureza
Sabe o que sabe, pois quem sabe pelo estudo
É qual voral abutre em vão berrando contra
O divo pássaro de Zeus! Ora, minha'alma,
Pega o teu arco e vai ao ponto. E aonde a Musa
Minha suas setas vai jogar, que rendem glória?
A Agrigento, certamente, e eu o direi
Por jura consumada que nenhuma urbe
Desde há cem anos produziu um tal varão
Que tenha um coração tão terno e devotado,
E a mão mais generosa que Térão, embora
A glória sua seja um alvo dos covardes.

Tradução de Antonio Medina Rodrigues

Fonte:Revista Cultura Vozes, Volume 91- nº2, ano 91. Petrópolis: Vozes. Março/Abril de 1997

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Tibulo II. 2

Dicamus bona uerba: uenit Natalis ad aras:
quisquis ades, lingua, uir mulierque, faue.
urantur pia tura focis, urantur odores
quos tener e terra diuite mittit Arabs.
ipse suos Clenius adsit uisurus honores,
cui decorent sanctas mollia serta comas.
illius puro destillent tempora nardo,
atque satur libo sit madeatque mero,
adnuat et, Cornute, tibi, quodcumque rogabis.
en age (quid cessas? adnuit ille) roga.
auguror, uxoris fidos optabis amores:
iam reor hoc ipsos edidicisse deos.
nec tibi malueris, totum quaecumque per orbem
fortis arat ualido rusticus arua boue,
nec tibi, gemmarum quidquid felicibus Indis
nascitur, Eoi qua maris unda rubet.
uota cadunt: utinam strepitantibus aduolet alis
flauaque coniugio uincula portet Amor,
uincula quae maneant semper dum tarda senectus
inducat rugas inficiatque comas.
haec ueniat, Natalis, auis prolemque ministret,
ludat et ante tuos turba nouella pedes.


Digamos palavras boas: aproxima-se do altar o Deus Natal;
presente, quem quer que sejas, varão ou mulher, fica em silêncio.
Queimem-se na lareira incensos piedosos, queimem-se os perfumes
que o terno árabe envia de sua rica terra.
Compareça ele próprio, o Gênio, a ver as suas honras,
e delicadas grinaldas lhe enfeitem a santa cabeleira;
nardo puro desfile de suas têmporas;
e se farte com o bolo e se embriague de vinho,
e te conceda, Cornuto, o que quer que rogues.
Ora, vamos, por que hesitas? Ele concede: roga.
Adivinho: desejarás o amor fiel da tua esposa
- isto, calculo, já o sabem os próprios Deuses:
não preferirás ter as searas que, por todo o orbe,
ara o forte lavrador com o vigoroso boi,
nem as pérolas todas que, para os felizes hindus,
nascem nas regiões de Aurora, em que a onda do mar é vermelha.
Os teus votos caem bem: oxalá voe até nós, com ruidosas asas,
o Amor, e traga ao teu casamento laços amarelos
- laços que permaneçam para sempre, enquanto a lenta velhice
trouxer as rugas e desbotar os cabelos.
Venha este Deus Natal para os avós e lhes dê filhos e netos,
e brinque aos teus pés um bando de crianças.

Tradução: Maria da Glória Novak in: NOVAK,M.L & NERI,M.L (orgs.)Poesia Lírica Latina. São Paulo: Martins fontes, 2003.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Calímaco - Epigrama 8 P

Pequena, Dionísio, basta uma palavra
ao poeta feliz: "venci" é o máximo
que diz. Mas se ao que tu não inspiraste bem
"que tal?",indagam, "duro é o que me ocorre",
diz. Que isto ocorra a quem injustos versos trama.
a mim, senhor, as tais pequenas sílabas.

Tradução de João Angelo Oliva Neto

A Máquina do Mundo

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e do meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto dos mistérios, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos.

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste...vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo."

As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que tantos
monumentos erguidos à verdade;

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima - esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita ao meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagoroso, de mãos pensas.

O Inferno: Divina Comédia III. 1-9

PER ME SI VA NE LA CITTÀ DOLENTE,
PER ME SI VA NE L'ETTERNO DOLORE,
PER ME SI VA TRA LA PERDUTA GENTE.

GIUSTIZIA MOSSE IL MIO ALTO FATTORE
FECEMI LA DIVINA PODESTATE,
LA SOMMA SAPïENZA E L'PRIMO AMORE

DINANZI A ME NON FUOR COSE CREATE
SE NON ETTERNE, E IO ETTERNA DURO.
LASCIATE OGNE SPERANZA, VOI CH'INTRATE.

******

VAI-SE POR MIM À CIDADE DOLENTE
VAI-SE POR MIM À SEMPITERNA DOR,
VAI-SE POR MIM ENTRE A PERDIDA GENTE.

MOVEU A JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR
FEZ-ME A DIVINA POTESTADE, MAIS
O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR

ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS
NADA SENÃO ETERNO, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS.

Tradução de Italo Eugenio Mauro in: A Divina Comédia: Inferno. São Paulo: Editora 34,2006.

Versos à boca da noite

Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.

Escreverei sonetos de madureza?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? sempre mentiroso?
Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo?

Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.

Mas se eu pudesse recomeçar o dia!
Usar de novo minha adoração,
meu grito,minha fome...Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação da minha vida,
como os objetos perdidos na rua.

As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,

e tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.
Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,

e fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homem se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)

Mas vêm o tempo e a idéia do passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.

E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.

E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.

Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre? na Argentina? em ti?
que palavra escutaste, e onde, quando?
seria indiferente ou solidária?

Um pedaço de ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-riso e em tua ama preta.

Que confusão de coisas ao crepúsculo!
Que riqueza! sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:

uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,

mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscina, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo

comprada em sal, em rugas e cabelo.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, dezembro 16, 2008

Erínias: Divina Comédia, IX.34-49

E altro disse, ma non l'ho mente;
tre furïe infernal di sangue tinte,
che membra feminine avieno e atto,

e con idre verdissime eran cinte;
serpentelli e ceraste avien per crine,
onde le fiere tempie erano avvinte.

E quei, che bem conobbe le meschine
de la regina de l'etterno pianto,
"Guarda", mi disse, "le feroci Erine.

Quest'è Megera del sinistro canto;
quella che piange dal destro è Aletto;
Tesifón è nel mezzo"; e tacque a tanto.

Con l'unghie si fendea ciascuna il petto;
battiensi a palme e gridava sí alto,
ch'i' mi strinsi al poeta por sospetto.



Disse ainda mais, que me escapou da mente
por ter-se desviado o meu apresto
para a alta torre do cimo candente,

para onde juntas vi chegar, bem presto,
três Fúrias infernais, de sangue ungidas,
que tinham de femíneo o peito e o gesto,

e por Hidras verdíssimas cingidas,
traziam, por cabeleira, serpes bravas
envolvendo suas têmporas infidas.

E ele que bem conhecera as escravas
da soberana do perpétuo pranto,
mostrou: "São essas as Erínias pravas:

Megera é aquela lá no esquerdo canto,
Aleto esta que chora, no direito,
Tesífone é a do meio"; e eu, no entanto,

as via co'as unhas fenderem-se o peito
e, em seu flagelo, gritarem tão alto
que assustado, acheguei-me ao meu eleito.

Tradução de Italo Eugenio Mauro

sábado, dezembro 06, 2008

Vênus: Lusíadas, 2. 33-37

Ouviu-lhe estas palavras piedosas
A fermosa Dione, e, comovida
Dentre as ninfas se vai, que saudosas
Ficaram desta súbita partida.
Já penetra as Estrelas luminosas,
Já na terceira Esfera recebida
Avante passa, e lá no Sexto céu,
Para onde estava o Padre, se moveu.

E como ia afrontada do caminho,
Tão fermosa no gesto se mostrava,
Que as Estrelas e o Céu e o Ar vizinho
E tudo quanto a via, namorava;
Dos olhos, onde faz seu filho o ninho,
Uns espíritos vivos inspirava,
Com que os Pólos gelados acendia,
E tornava do fogo a esfera fria.

E, por mais namorar o soberano
Padre, de quem foi sempre amada e cara,
Se lhe apresenta assim como ao Troiano
Na selva idéia já se apresentara.
Se a vira o caçador, que o vulto humano
Perdeu, vendo Diana na água clara,
Nunca os famintos galgos o mataram,
Que primeiro desejos o acabaram.

Os crespos fios de ouro se esparziam
Pelo colo, que a neve escurecia;
Andando, as lácteas tetas lhe tremiam,
Com quem Amor brincava e não se via,
Da alva petrina flamas lhe saíam,
Onde o Menino as almas acendia;
Pelas lisas colunas lhe trepavam
Desejos, que como hera se enrolavam.

C'um delgado cendal as partes cobre
De quem vergonha é natural reparo,
Porém nem tudo esconde nem descobre
O véu, dos roxos lírios pouco avaro;
Mas, para que o desejo acenda e dobre,
Lhe põe diante aquele objeto raro.
Já se sentem no Céu, por toda a parte,
Ciúmes em Vulcano, amor em Marte.