Esse tem um plano, e já se aplaude.
Esse arde em memória, lembra e sopra.
Esse quer ter saudade, abre e morde.
Esse tem mistério, solta e fecha.
Esse faz humor, diz que desdiz.
Esse tem traçados, pesos, balanças.
Esse faz versinhos, chuleia em casa.
Esse faz história, borda pra fora.
Esse é rapsodo, come de tudo.
Esse é noctívago, retoca olheiras.
Esse é sonâmbulo, vive em sacadas.
Esse é pintor, usa dedos de água.
Esse é diabético, requer penínsulas.
Esse é ingênuo, dá o braço a virgílio.
Esse é irônico, quase não confessa.
Esse é dramático, cospe a própria máscara.
Esse é profundo, nunca vem à tona.
Esse é tão casto, toca luvas na harpa.
Esse é sem norte, sem sul, sem sorte.
Esse é tão seco, ninguém tem saco.
Esse é tão sutil, dedilha anagramas.
Esse é tão ambíguo, versos tão bimembres.
Esse é tão puro, tão puro, tão puro.
Alcides Villaça in: Ondas Curtas. São Paulo: Cosac&Naify, 2014.
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