O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso
a elocução horizontal de seu verso
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão de pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar
*
O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
A Educação pela Pedra in: SECCHIN, A.C. (org.) João Cabral de Melo Neto - Poesia Completa, Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário