domingo, abril 26, 2015

Hino Órfico 57: Hermes Ínfero [Hermes Kthônios]

Ἑρμοῦ Χθονίου;, θυμίαμα στύρακα.

Κωκυτοῦ ναίων ἀνυπόστροφον οἶμον ἀνάγκης,
ὃς ψυχὰς θνητῶν κατάγεις ὑπὸ νέρτερα γαίης,
Ἑρμῆ, βακχεχόροιο Διωνύσοιο γένεθλον
καὶ Παφίης κούρης, ἑλικοβλεφάρου Ἀφροδίτης,
ὃς παρὰ Περσεφόνης ἱερὸν δόμον ἀμφιπολεύεις,
αἰνομόροις ψυχαῖς πομπὸς κατὰ γαῖαν ὑπάρχων,
ἃς κατάγεις, ὁπόταν μοίρης χρόνος εἰσαφίκηται
εὐιέρωι ῥάβδωι θέλγων † ὑπνοδώτειρα πάντα,
καὶ πάλιν ὑπνώοντας ἐγείρεις· σοὶ γὰρ ἔδωκε {τιμὴν}
τιμὴν Φερσεφόνεια θεὰ κατὰ Τάρταρον εὐρὺν
ψυχαῖς ἀενάοις θνητῶν ὁδὸν ἡγεμονεύειν.
ἀλλά, μάκαρ, πέμποις μύσταις τέλος ἐσθλὸν ἐπ' ἔργοις.


Do Hermes Ínfero, fumigação: estoraque

Habitante da senda sem volta, Cocito fatal,
tu que guias sob os ínferos a alma mortal,
Hermes, nascido do delirante dançador Dioniso
e Páfia, a donzela Afrodite de vivazes olhos;
tu, que guardas o sagrado palácio de Perséfone,
de condenadas almas condutor, auxílio sob a terra
que as leva para baixo na hora da morte,
com feitiços de teu sagrado cetro a todos dás o sono,
e os despertas outra vez dos sonhos; honra
deu-te a Deusa Perséfone sob o amplo Tártaro:
guiar o caminho para almas eternas dos mortais.
Vamos, venturoso! Peço,envies nobre fim aos trabalhos dos iniciados!

[Tradução:Rafael Brunhara]

terça-feira, abril 21, 2015

Hino Órfico 56: Adônis

Ἀδώνιδος, θυμίαμα ἀρώματα.

Κλῦθί μου εὐχομένου, πολυώνυμε, δαῖμον ἄριστε,
ἁβροκόμη, φιλέρημε, βρύων ὠιδαῖσι ποθειναῖς,
Εὐβουλεῦ, πολύμορφε, τροφεῦ πάντων ἀρίδηλε,
κούρη καὶ κόρε, † σὺ πᾶσιν † θάλος αἰέν, Ἄδωνι,
σβεννύμενε λάμπων τε καλαῖς ἐν κυκλάσιν ὥραις,
αὐξιθαλής, δίκερως, πολυήρατε, δακρυότιμε,
ἀγλαόμορφε, κυναγεσίοις χαίρων, βαθυχαῖτα,
ἱμερόνους, Κύπριδος γλυκερὸν θάλος, ἔρνος Ἔρωτος,
Φερσεφόνης ἐρασιπλοκάμου λέκτροισι λοχευθείς,
ὃς ποτὲ μὲν ναίεις ὑπὸ Τάρταρον ἠερόεντα,
ἠδὲ πάλιν πρὸς Ὄλυμπον ἄγεις δέμας ὡριόκαρπον·
ἐλθέ, μάκαρ, μύσταισι φέρων καρποὺς ἀπὸ γαίης.

Ouve as minhas preces, supremo nume de muitos nomes
e delicados cabelos, amigo dos ermos, florescente em cantos saudosos,
Eubuleu de muitas formas, magnífico nutridor de tudo,
Menina e menino, tu, entre todos viçoso sempre, Adônis
a se extinguir e a brilhar em belas cíclicas estações,
vicejante, bicórneo, o amor de muitos, honrado no pranto,
grato caçador de esplêndidas formas e longas melenas;
coração ardente, doce broto da Cípris, rebento do Amor,
concebido no leito de Perséfone de lindas tranças,
ora tu habitas o Tártaro nevoento
ora outra vez ao Olimpo levas teu corpo, maduro fruto:
Vem, venturoso, traz aos mistérios os frutos da terra.

[Tradução: Rafael Brunhara]

sábado, abril 18, 2015

Hino Órfico 55: Afrodite

<Εἰς Ἀφροδίτην.>


Οὐρανία, πολύυμνε, φιλομμειδὴς Ἀφροδίτη,
ποντογενής, γενέτειρα θεά, φιλοπάννυχε, σεμνή,
νυκτερία ζεύκτειρα, δολοπλόκε μῆτερ Ἀνάγκης·
πάντα γὰρ ἐκ σέθεν ἐστίν, ὑπεζεύξω δέ <τε> κόσμον
καὶ κρατέεις τρισσῶν μοιρῶν, γεννᾶις δὲ τὰ πάντα, (5)
ὅσσα τ' ἐν οὐρανῶι ἐστι καὶ ἐν γαίηι πολυκάρπωι
ἐν πόντου τε βυθῶι {τε}, σεμνὴ Βάκχοιο πάρεδρε,
τερπομένη θαλίαισι, γαμοστόλε μῆτερ Ἐρώτων,
Πειθοῖ λεκτροχαρής, κρυφία, χαριδῶτι,
φαινομένη, {τ'} ἀφανής, ἐρατοπλόκαμ', εὐπατέρεια, (10)
νυμφιδία σύνδαιτι θεῶν, σκηπτοῦχε, λύκαινα,
γεννοδότειρα, φίλανδρε, ποθεινοτάτη, βιοδῶτι,
ἡ ζεύξασα βροτοὺς ἀχαλινώτοισιν ἀνάγκαις
καὶ θηρῶν πολὺ φῦλον ἐρωτομανῶν ὑπὸ φίλτρων·
ἔρχεο, Κυπρογενὲς θεῖον γένος, εἴτ' ἐν' Ὀλύμπωι (15)
ἐσσί, θεὰ βασίλεια, καλῶι γήθουσα προσώπωι,
εἴτε καὶ εὐλιβάνου Συρίης ἕδος ἀμφιπολεύεις,
εἴτε σύ γ' † ἐν πεδίοισι † σὺν ἅρμασι χρυσεοτεύκτοις
Αἰγύπτου κατέχεις ἱερῆς γονιμώδεα λουτρά,
ἢ καὶ κυκνείοισιν ὄχοις ἐπὶ πόντιον οἶδμα (20)
ἐρχομένη χαίρεις κητῶν κυκλίαισι χορείαις,
ἢ νύμφαις τέρπηι κυανώπισιν ἐν χθονὶ Δίηι
† θῖνας ἐπ' αἰγιαλοῖς ψαμμώδεσιν ἅλματι κούφωι·
εἴτ' ἐν Κύπρωι, ἄνασσα, τροφῶι σέο, ἔνθα καλαί τε (24)
παρθένοι ἄδμηται νύμφαι τ' ἀνὰ πάντ' ἐνιαυτὸν
ὑμνοῦσιν, σέ, μάκαιρα, καὶ ἄμβροτον ἁγνὸν Ἄδωνιν.
ἐλθέ, μάκαιρα θεά μάλ' ἐπήρατον εἶδος ἔχουσα·
ψυχῆι γάρ σε καλῶ σεμνῆι ἁγίοισι λόγοισιν.

Celestial de muitos hinos, Afrodite que ama os sorrisos,
nascida no mar, Deusa genetriz, insigne e vígil amiga,
unindo na noite os casais, tecelã de enganos, mãe da Necessidade!
Tudo provém de ti, tu pões o cosmo sob teu jugo,
e reinas sobre suas três partes: engendras tudo (5)
que existe no céu, na terra frutífera
e no abismo do mar. Insigne assistente de Baco,
Deusa nupcial feliz em festivais, mãe dos Amores,
Persuasão, alegre no leito de amor, furtiva em tuas graças,
visível e invisível, Deusa de sedutoras tranças, de um bom pai, (10)
nubente comensal dos Deuses, lupina rainha cetrada,
amor dos homens, és a mais desejada, quem dá os filhos e a vida,
aquela que enlaça mortais em necessidades irrefreáveis
e a grei das feras, enlouquecendo-os de amor com teus feitiços.
Vem, prole divina nascida em Chipre, quer no Olimpo (15)
estejas, Deusa rainha, exultante em tua bela face,
quer passeies pela Síria, nação bem olorosa,
ou pelas planícies, com teu aurilavrado carro
ocupando férteis águas do sacro Egito,
ou ainda na tua carruagem de cisnes sobre as vias do mar,
quando vais te alegrar com as danças em roda das feras marinhas,
ou com as Ninfas de olhos escuros ter prazer no sagrado solo,
com lépidos saltos pela arenosa orla da praia,
ou então em Chipre, soberana, tua terra nutriz, onde belas
virgens,indômitas noivas, todos os anos
celebram-te, a ti, venturosa, e ao puro imortal Adônis.
Vem, venturosa Deusa, com tua tão desejável forma:
Na alma insigne evoco-te com piedosas palavras.

[Tradução: Rafael Brunhara]



domingo, abril 05, 2015

Lucílio - Antologia Grega 11.211

Γραπτὴν ἐν τοίχῳ Καλπούρνιος ὁ στρατιώτης,
ὡς ἔθος ἐστίν, ἰδὼν τὴν ἐπὶ ναυσὶ μάχην,
ἄσφυκτος καὶ χλωρὸς ὁ θούριος ἐξετανύσθη
“Ζωγρεῖτε,” κράξας, “Τρῶες ἀρηίφιλοι.”
καὶ μὴ τέτρωται, κατεμάνθανε καὶ μόλις ἔγνω
ζῆν, ὅτε τοῖς τοίχοις ὡμολόγησε λύτρα.


O soldado Calpúrnio viu na parede o quadro
de uma batalha naval, e como de praxe,
pálido e sem ar, estatelado no chão o valente gritou:
"Tomai-me vivo, Troianos diletos de Ares!"
Averiguou se não fora ferido e a custo reconheceu
estar vivo, quando concordou em pagar resgate à parede.

[Tradução: Rafael Brunhara]

Hino Homérico 7 - A Dioniso (Tradução de Jair Gramacho)

De Dionísio o glorioso rebento da augusta Sêmele,
Lembrarei, como à ourela do mar infecundo surgiu,
Sobre um cabo saliente, na forma de um jovem varão
Inda imberbe, os seus belos e negros cabelos flutuando,
E,portando nos ombros robustos um pálio de cor (5)
Purpurina.Eis que logo num bem cobertado navio
Salteadores tirrenos surgiram do mar dor de vinho,
Por madrasta fortuna impelidos, e, ao verem-no,pronto
Entre si consentiram, e logo a prendê-lo avançaram,
E em seguida ao navio levaram-no, as mentes alegres.(10)
Confiavam-no filho de reis procedentes de Zeus,
E em cadeias possantes atá-lo quiseram por força.
Todavia as cadeias o não seguravam, e os elos
De seus pés e das mãos se soltavam, enquanto,sentado
Com seus olhos noturnos se ria. O piloto, entendendo,(15)
Conclamou logo os seus companheiros e disse o seguinte:
“Infelizes, que deus poderoso domar e prender
Pretendeis?” Mesmo o nosso navio o não pode levar,
Pois sem dúvida é Zeus, ou Apolo das flechas de prata,
Ou talvez Posêidon, já que aos homens mortais não parece,(20)
Mas aos deuses que habitam as amplas moradas do Olimpo.
Apressai-vos! Deixêmo-lo em terra, na praia sombria,
Desde já nem co´as mãos o toqueis, para que não,irritado,
Fortes ventos excite e abundantes terríveis borrascas.”
Assim disse, e o cruel capitão retrucou-lhe o seguinte: (25)
“Infeliz, olha o vento e o velame da nave desferra,
Tendo as armas colhido, que deste os demais cuidarão.
Pois espero que chegue ao Egito, ou que a Chipre ele chegue,
Ou país hiperbóreo, ou além; e que ao fim da jornada
Seus amigos nos diga e nos conte seus todos haveres,(30)
Seus irmãos — pois é certo que um deus aqui no-lo entregou.”
Disse, e o mastro fincou e o velame largou do navio,
E no bojo da vela sopraram os ventos. Em torno,
Dispuseram as armas.Mas logo surgiram prodígios…
Vinho doce o odorante, primeiro, jorrava da nave (35)
E fluía flagrante e sonoro exalando um perfume
Imortal! Grande horror assaltou os marujos ao verem.
De repente, no topo do mastro alastrou-se uma vinha
Carregada de cachos, crescendo por todos os lados,
E do mastro ao redor enroscou-se uma hera noturna (40)
Toda em flores virente onde frutos ridentes pendiam;
As cavilhas cingiam coroas. Tal vendo, os marujos
Ao piloto premiam que a nau para a terra ligeiro
Dirigisse. Mas, dentro, em leão se tornou Dionísio
Que terrível por sobre o convés grandes urros lançava. (45)
Já uma ursa felpuda no meio criou, prodigioso,
Que se alçou furibunda. O leão, no mais alto da ponte,
Fulgurantes olhares lançava. Pra popa fugiram
E ao redor do piloto, que espírito calmo mantinha,
Se agruparam turbados. Mas súbito o leão atacou (50)
O cabeça. Os demais, vendo aquilo, ao mau fado escapando,
Todos juntos se às águas do mar atiraram divino
E viraram golfinhos. Doeu-se porém do piloto
E o reteve e, fazendo-o feliz, o seguinte lhe disse:
“Nada temas, Hecátor, que ao meu coração és querido.(55)
Sou Dionísio multíssono, aquele que foi concebido
Por Sêmele cadméia depois de por Zeus ser amada.”
Salve filho da de olhos formosos, Sêmele. É impossível,
Esquecendo de ti, se compor um cantar harmonioso.

Tradução: Jair Gramacho