As Mulheres na Assembleia ou, ainda, As Assembleístas (Ekklesiazusai) é uma das peças mais tardias de Aristófanes, marcando uma transição da comédia antiga para a comédia nova. Na peça, as mulheres tomam a assembleia e instauram uma nova lei: se um homem quisesse fazer amor com sua amante, deveria antes fazer amor com uma velha. No trecho abaixo, vemos uma velha se aproveitando desta nova lei:
[Moça]:
Vem aqui, vem aqui,
meu amado, p'ra mim!
vem e dorme comigo!
Trata de vir à noite,
que uma paixão me agita,
intensa, por teus cachos.
Absurdo o desejo dentro de mim,
estou dilacerada...
Alivia-me, suplico-te, Eros!
Faça-o vir
ao meu leito!
[Moço]:
Vem aqui, vem aqui,
minha amada,também!
Corre, abre essa porta:
ou me jogo no chão e fico lá.
Quero acariciar
o teu seio, tua bunda...
Cípris, por que me deixas louco por ela?
Alivia-me, suplico-te, Eros!
Faça-a vir
ao meu leito!
Mas para o meu anseio, modestas são
tais palavras. Mais amada, suplico,
abre a porta, me abraça!
pois é por ti que eu sofro.
joia de ouro, meu mimo, flor da Cípris,
abelha das Musas,filha das Graças,ó face de volúpias...
abre a porta, me abraça!
pois é por ti que eu sofro.
[Velha]:
Olá! Tu, por que bates? Me procuras?
[Moço]:
Quem, eu?
[Velha]
Sim, tu arrebentavas a porta.
[Moço]:
Preferiria morrer...
[Velha]:
E o que você busca aqui co' uma tocha?
[Moço]
eu busco alguém de Punhetópolis*...
[Velha]
Heim?
[Moço]
Não sou o Tifodias** que tu procuras.
[Velha]
És sim, por Afrodite! Queiras tu ou não...
[Moço]
Não levamos as com mais de sessenta
agora, não. Deixamos p'ra depois.
Vamos antes para aquelas na casa dos vinte.
[Velha]
Isso no governo anterior,docinho.
mas agora, tem de nos levar antes.
[Moço]
Eu levo se quiser! Essa é a regra!
[Velha]
Tu deixas de jantar, se houver regra?
[Moço]
Não sei do que é que tu estás falando.
Tenho que bater nesta porta aqui.
[Velha]
Só depois de bateres na minha porta!
[Moço]
Mas não estou pedindo roupa velha.
[Velha]
Sei que me queres; só estás assustado
porque me achaste à porta. Vem,me beija!
[Moço]
Ei! Não! Teu namorado me apavora!
[Velha]
Quem?
[Moço]
Teu namorado, o melhor dos pintores.
[Velha]
E quem é esse aí?
[Moço]
O pintor de vasos funerários.
[Velha]
sei bem o que tu queres...
[Moço]
Também sei o que tu queres! Por Zeus!
[Velha]
Por Afrodite, de quem sou devota,
nunca vou deixar que vás embora!
[Moço]
Endoidaste, vovó!
[Velha]
Tolinho! Te levarei p'ra minha cama!
*No original, anaflystion; tratava-se de um demo em Atenas, mas também é um jogo de palavras feito por Aristófanes com o verbo anafláo.
** No original, um nome próprio: Sebinos; outro jogo de palavras com sentido obsceno, dessa vez com o verbo binéo, que traduzo por "Tifodias"(agradeço ao Tadeu Andrade pela sugestão, compartilhada de sua tradução ainda inéditas das Rãs).
δεῦρο δή, δεῦρο δή,
φίλον ἐμόν, δεῦρό μοι
πρόσελθε καὶ ξύνευνέ μοι
τὴν εὐφρόνην ὅπως ἔσει.
πάνυ γάρ τις ἔρως με δονεῖ
τῶνδε τῶν σῶν βοστρύχων. (955)
ἄτοπος δ' ἔγκειταί μοί τις πόθος,
ὅς με διακναίσας ἔχει.
μέθες, ἱκνοῦμαί σ', Ἔρως,
καὶ ποίησον τόνδ' ἐς εὐνὴν
τὴν ἐμὴν ἱκέσθαι.
{Νε} δεῦρο δή, δεῦρο δή, (960)
φίλον <ἐμόν>, καὶ σύ μοι
καταδραμοῦσα τὴν θύραν
ἄνοιξον τήνδ'· εἰ δὲ μή, καταπεσὼν κείσομαι.
ἀλλ' ἐν τῷ σῷ βούλομαι κόλπῳ
965
πληκτίζεσθαι μετὰ τῆς σῆς πυγῆς.
Κύπρι, τί μ' ἐκμαίνεις ἐπὶ ταύτῃ;
μέθες, ἱκνοῦμαί σ', Ἔρως,
καὶ ποίησον τήνδ' ἐς εὐνὴν
τὴν ἐμὴν ἱκέσθαι.
καὶ ταῦτα μέντοι μετρίως πρὸς τὴν ἐμὴν ἀνάγκην
εἰρημέν' ἐστίν. σὺ δέ μοι, φίλτατον, ὢ ἱκετεύω,
ἄνοιξον, ἀσπάζου με.
διά τοι σὲ πόνους ἔχω.
ὦ χρυσοδαίδαλτον ἐμὸν μέλημα, Κύπριδος ἔρνος,
μέλιττα Μούσης, Χαρίτων θρέμμα, Τρυφῆς πρόσωπον,
ἄνοιξον, ἀσπάζου με.
διά τοι σὲ πόνους ἔχω. (975)
{Γρ.} οὗτος, τί κόπτεις; μῶν ἐμὲ ζητεῖς; {Νεας9.} πόθεν;
{Γρ.} καὶ τὴν θύραν γ' ἤραττες. {Νε.} ἀποθάνοιμ' ἄρα.
{Γρ.} τοῦ δαὶ δεόμενος δᾷδ' ἔχων ἐλήλυθας;
{Νε.} Ἀναφλύστιον ζητῶν τιν' ἄνθρωπον. {Γρ. α9} τίνα;
{Νε.} οὐ τὸν Σεβῖνον, ὃν σὺ προσδοκᾷς ἴσως.
{Γρ.} νὴ τὴν Ἀφροδίτην, ἤν τε βούλῃ γ' ἤν τε μή.
{Νε.} ἀλλ' οὐχὶ νυνὶ τὰς ὑπερεξηκοντέτεις
εἰσάγομεν, ἀλλ' εἰσαῦθις ἀναβεβλήμεθα.
τὰς ἐντὸς εἴκοσιν γὰρ ἐκδικάζομεν.
{Γρ.} ἐπὶ τῆς προτέρας ἀρχῆς γε ταῦτ' ἦν, ὦ γλύκων· (985)
νυνὶ δὲ πρῶτον εἰσάγειν ἡμᾶς δοκεῖ.
{Νε.} τῷ βουλομένῳ γε κατὰ τὸν ἐν πεττοῖς νόμον.
{Γρ.} ἀλλ' οὐδὲ δειπνεῖς κατὰ τὸν ἐν πεττοῖς νόμον.
{Νε.} οὐκ οἶδ' ὅ τι λέγεις· τηνδεδί μοι κρουστέον.
{Γρ.} ὅταν γε κρούσῃς τὴν ἐμὴν πρῶτον θύραν. (990)
{Νε.} ἀλλ' οὐχὶ νυνὶ κρησέραν αἰτούμεθα.
{Γρ.} οἶδ' ὅτι φιλοῦμαι· νῦν δὲ θαυμάζεις ὅτι
θύρασί μ' ηὗρες. ἀλλὰ πρόσαγε τὸ στόμα.
{Νε.} ἀλλ', ὦ μέλ' ὀρρωδῶ τὸν ἐραστήν σου. {Γρ.} τίνα;
{Νε.} τὸν τῶν γραφέων ἄριστον. {Γρ. α9} οὗτος δ' ἐστὶ τίς;
{Νε.} ὃς τοῖς νεκροῖσι ζωγραφεῖ τὰς ληκύθους.
ἀλλ' ἄπιθ', ὅπως μή σ' ἐπὶ θύραισιν ὄψεται.
{Γρ.} οἶδ', οἶδ' ὅ τι βούλει. {Νεας9.} καὶ γὰρ ἐγώ σε, νὴ Δία.
{Γρ.} μὰ τὴν Ἀφροδίτην, ἥ μ' ἔλαχε κληρουμένη,
μὴ 'γώ σ' ἀφήσω. {Νεας9.} παραφρονεῖς, ὦ γρᾴδιον. (1000)
{Γρ.} ληρεῖς· ἐγὼ δ' ἄξω σ' ἐπὶ τἀμὰ στρώματα.
[Tradução: Rafael Brunhara]