Eu vi amantes no irresistível furor
fixarem lábios longamente um no outro,
mas sem saciar o amor severo, anelando,
se fás,poder entrar na alma um do outro:
aplacavam só um pouco o desejo incurável (5)
mútuo envoltos em tenros cobertores.
ele, completo símile de Aquiles quando
na alcova das filhas de Licomedes [1];
ela, moça com cinto à coxa alvinitente
atado, moldada à forma de Febe [2] : (10)
premem de novo os lábios, era infatigável
a fome voraz por insano amor;
Mais fácil romper duas vinhas emaranhadas,
torcidas, por anos crescendo juntas
do que eles, aos beijos, com opostos braços (15)
enlaçando forte os lânguidos membros;
Tão feliz, querida, quem é preso em tais peias;
Tão feliz! Nós, apartados, ardemos.
Εἶδον ἐγὼ ποθέοντας· ὑπ' ἀτλήτοιο δὲ λύσσης
δηρὸν ἐν ἀλλήλοις χείλεα πηξάμενοι,
οὐ κόρον εἶχον ἔρωτος ἀφειδέος· ἱέμενοι δέ,
εἰ θέμις, ἀλλήλων δύμεναι ἐς κραδίην,
ἀμφασίης ὅσον ὅσσον ὑπεπρήυνον ἀνάγκην (5)
ἀλλήλων μαλακοῖς φάρεσιν ἑσσάμενοι.
καί ῥ' ὁ μὲν ἦν Ἀχιλῆι πανείκελος, οἷος ἐκεῖνος
τῶν Λυκομηδείων ἔνδον ἔην θαλάμων·
κούρη δ' ἀργυφέης ἐπιγουνίδος ἄχρι χιτῶνα
ζωσαμένη Φοίβης εἶδος ἀπεπλάσατο. (10)
καὶ πάλιν ἠρήρειστο τὰ χείλεα· γυιοβόρον γὰρ
εἶχον ἀλωφήτου λιμὸν ἐρωμανίης.
ῥεῖά τις ἡμερίδος στελέχη δύο σύμπλοκα λύσει,
στρεπτά, πολυχρονίῳ πλέγματι συμφυέα,
ἢ κείνους φιλέοντας, ὑπ' ἀντιπόροισί τ' ἀγοστοῖς (15)
ὑγρὰ περιπλέγδην ἅψεα δησαμένους.
τρὶς μάκαρ, ὃς τοίοισι, φίλη, δεσμοῖσιν ἑλίχθη,
τρὶς μάκαρ· ἀλλ' ἡμεῖς ἄνδιχα καιόμεθα.
[Tradução: Rafael Brunhara]
[1] Licomedes: rei de Ciros. Quando a Deusa Tétis previu que Aquiles morreria em Troia, convenceu o rei a acolher o filho em sua corte, disfarçado como uma menina. Enquanto esteve lá em disfarce, Aquiles manteve relações com Deidâmia, filha de Licomedes, que então daria luz a Neoptólemo.
[2] Febe é Ártemis; No período em que o poema foi composto, a divindade também passa a ser associada à lua. Comparar jovens meninas, tanto a Ártemis quanto à Lua, era expediente comum na literatura grega. Aqui, refere-se sobretudo à alvura brilhante (ἀργυφέης, argyphées, daí, "alvinitente") da pele da amada. Ver também Od.6.150-152, passagem na qual Odisseu compara Nausícaa a Ártemis, pela "altura, beleza e porte".
* Poema de Paulo Silenciário (575 d.C ou 585 d.C.), poeta grego que atuou em Constantinopla, e compôs, entre outros epigramas, uma écfrase da igreja de Hagia Sofia. Dele restaram-nos aproximadamente oitenta poemas eróticos, publicados no Ciclo de Agatias e conservados pela Antologia Palatina.
Neste poema, o poeta inveja dois amantes apaixonados, aos beijos e com os corpos enlaçados (vv.1-16). Ressalta, contudo, que essa união é imperfeita: tal é o desejo de amor desses amantes que o melhor seria se pudessem não só misturar os seus corpos, mas também as próprias almas (vv. 3-6). Porém o último dístico (vv.17-18) traz uma reviravolta: apesar da união dos amantes não ser perfeita, é melhor situação que a dele, que se encontra distante de sua amada. Notável é a introdução de uma comparação mitológica (Aquiles na corte de Licomedes), que de certa maneira se assemelha aos procedimentos empregados na elegia erótica latina.
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