sábado, março 24, 2012

Édipo Rei (Tradução, versos 01-57)

ÉDIPO:

Ó filhos, nova prole do prístino Cadmo,
por que ajoelhais aqui, reunidos diante de mim
em ramos súplices c’roados? Enquanto isso
por olor de incensos, por Peãs e lamentos,
 a cidade está atulhada. Não acho justo                                    5
ouvir o relato dos mensageiros, filhos,
saber por terceiros. Então, vim em pessoa:
Édipo, que todos consideram ilustre.
Conta-me, ancião. Cabe a ti, por natureza,
falar pelos demais. Por que estais assim?                                 10
É medo? É um pedido? Pois eu gostaria
de ajudar em tudo. Insensível seria
se eu não me apiedasse de uma reunião tal.

SACERDOTE:

                                           
Sim, Édipo, soberano de minha terra;  
aos altares teus acudimos, nossa idade                                   15
vê: uns, ainda sem força para alçar voo;
outros, dobrados pela velhice, como eu,  
são sacerdotes de Zeus; e há estes, os moços                        
distintos. O resto do povo, coroado,
nas praças se prostra, defronte aos templos duplos               20
de Palas, com as cinzas áugures de Ismeno.
Pois a cidade - e até mesmo tu podes ver -
Há muito soçobra, já não pode mais erguer                            
a cabeça do fundo da voragem sangrenta.
Fenece o cálice frutífero do solo,                                             25
fenece o gado no pasto, os filhos na dor
do parto. O Ignífero Deus golpeia a pólis,      
provocando a infesta peste. Esvazia-se                                              
a casa de Cadmo, e se enriquece o negro 
Hades com lamúrias e lamentações.                                        30
Não por te igualar aos Deuses que eu e os meninos
nos sentamos em súplica, mas porque és                                                                               
o príncipe dos homens nas questões da vida                                       
e na relação com o divino. Ao chegar,                                               
livraste a cidade de Cadmo do tributo                                     35
 que pagávamos à inexorável cantora,                                     
sem noção exata dos fatos e sem nossas
instruções. Eis o dito, eis a crença de todos:                                       
ao lado de um Deus, aprumaste nossa vida.
Agora, ó potente Édipo, por todos                                          40
Imploramos, todos somos teus suplicantes:
Encontra uma cura, seja ouvindo a voz
dos Deuses, ou por tê-la visto em algum homem.        
De quem muito viveu, vejo, a suprema ciência
é saber salvar-nos das tragédias da vida.                               45
Eia, melhor dos mortais, reergue a pólis!
Cuida-te, melhor dos mortais! Ora esta terra
proclama-te salvador, por pendor antigo:
não queremos nos lembrar de teu poderio
como o que nos ergueu e depois derrubou.                            50
Vamos! Com pulso firme, restaura a pólis!                             
Com alvissareiro auspício outrora a Sorte
Concedeste a nós. Torna a fazê-lo, hoje!
Se terás o governo – e de fato és nosso rei –
melhor será reger com súditos do que só.                              55
Pois nada são as torres e as embarcações, 
se ermas de varões a habitar seu interior.

[Tradução: Rafael Brunhara]