O poeta romano Bábrio (séc. I ou II a.C) é conhecido por ter versificado diversas fábulas esópicas. Certas fábulas que retratam personagens divinos poderiam sinalizar para uma atitude religiosa mais popular acerca dos deuses e de questões míticas, uma vez que seus textos estariam mais próximos dos contos tradicionais do que, por exemplo, de Homero ou dos grandes tragediógrafos (Ver Trzakoma, S.M.; Scott Smith, R.; Brunet, S. Anthology of Classical Myth. Hackett: 2004).
Fábula 68: Zeus Contra Apolo
Θεοῖς Ἀπόλλων ἔλεγε μακρὰ τοξεύων,
“οὐκ ἂν βάλοι τις πλεῖον οὐδὲ Ζεὺς ἥμων.”
ὁ Ζεὺς δὲ παίζων ἠρίδαινε τῷ Φοίβῳ·
Ἑρμῆς δ' ἔσειεν Ἄρεος ἐν κυνῇ κλήρους.
λαχὼν δ' ὁ Φοῖβος χρυσέην τε κυκλώσας
τόξοιο νευρήν, ὀξέως ἀφεὶς πρῶτος
τὸ βέλος ἔπηξεν ἐντὸς Ἑσπέρου κήπων.
ὁ Ζεὺς δὲ διαβὰς ταὐτὸ μέτρον εἱστήκει,
καὶ “ποῦ βάλω, παῖ;” φησίν, “οὐκ ἔχω χώρην.”
τόξου δὲ νίκην ἔλαβε μηδὲ τοξεύσας.
Apolo dizia aos Deuses, quando disparava longe as suas flechas:
"Ninguém conseguiria atirar mais longe do que eu - nem Zeus!"Mas, Zeus, brincando, pôs-se em disputa com Febo.
Hermes agitava as sortes no elmo de Ares.
Febo venceu, dobrou a corda dourada
do arco, e atirou primeiro o pontiagudo
míssil: acertou o interior dos jardins de Héspero.
Mas, em um passo, Zeus caminhou esta mesma distância.
Parou e disse: "Como vou atirar, filho? Não tenho espaço!"
E recebeu a vitória do arco, sem ter disparado uma flecha.
Fábula 70: O Casamento da Guerra e da Desmesura
Θεῶν γαμούντων, ὡς ἕκαστος ἐζεύχθη,
ἐφ' ἅπασι Πόλεμος ἐσχάτῳ παρῆν κλήρῳ.
Ὕβριν δὲ γήμας, ἣν μόνην κατειλήφει,
ταύτης περισσῶς, ὡς λέγουσιν, ἠράσθη,
ἕπεται δ' ἔτ' αὐτῇ πανταχοῦ βαδιζούσῃ.
Μήτ' οὖν ποτ' ἔθνη, μὴ πόληας ἀνθρώπων
Ὕβρις <γ> ἐπέλθοι, προσγελῶσα τοῖς δήμοις,
ἐπεὶ μετ' αὐτὴν Πόλεμος εὐθέως ἥξει.
Quando os Deuses estavam se casando, unindo-se um por um,
Guerra foi o último de todos no sorteio.
e casou-se com a Desmesura, a única que restara.
Ele amou-a excessivamente (é o que dizem),
e ainda a segue por onde quer que ela vá.
Então, que a Desmesura nunca advenha a nenhuma
nação ou cidade de homens, sorrindo para o povo:
porque, atrás dela, Guerra virá imediatamente.
Fábula 117: Deuses e homens, homens e formigas
Νεώς ποτ' αὐτοῖς ἀνδράσιν βυθισθείσης,
ἰδών τις ἔλεγεν ἄδικα τοὺς θεοὺς κρίνειν·
ἑνὸς γὰρ ἀσεβοῦς ἐμβεβηκότος πλοίῳ,
πολλοὺς σὺν αὐτῷ μηδὲν αἰτίους θνῄσκειν.
καὶ ταῦθ' ὁμοῦ λέγοντος, οἷα συμβαίνει,
πολλῶν ἐπ' αὐτὸν ἑσμὸς ἦλθε μυρμήκων,
σπεύδοντες ἄχνας πυρίνας ἀποτρώγειν·
ὑφ' ἑνὸς δὲ δηχθεὶς συνεπάτησε τοὺς πλείους.
Ἑρμῆς δ' ἐπιστὰς τῷ τε ῥαβδίῳ παίων
“εἶτ' οὐκ ἀνέξῃ” φησί “τοὺς θεοὺς εἶναι
ὑμῶν δικαστὰς οἷος εἶ σὺ μυρμήκων;”
Quando uma vez um navio afundou com a tripulação,
Alguém viu aquilo e disse que os Deuses tinham um julgamento injusto;
porque apenas um homem ímpio havia entrado na embarcação,
e que muitos sem culpa nenhuma morriam com ele.
E enquanto ele dizia isso, - como acontece - ,
avançou sobre ele um grande formigueiro,
apressado para mordiscar as palhas em chamas:
mordido por uma só, ele pisoteou a maioria.
Hermes postou-se diante dele, e golpeou-lhe com seu cajado.
"E então?" - Disse - " Não suportas que os Deuses
vos julguem tal qual tu julgas as formigas?"
(Traduções: Rafael Brunhara)