sábado, abril 16, 2011

Quero, Neera, que os teus lábios laves
Na piscina tranquila
Para que contra a tua febre e a triste
Dor que pões em viver,
Sintas a fresca e calma natureza
Da água, e reconheças
Que não têm penas nem desassossegos
As ninfas das nascentes
Nem mais soluços do que o som da água
Alegre e natural.
As nossas dores, não, Neera, vêm
Das causas naturais
Datam da alma e do infeliz fruir
Da vida com os homens.
Aprende pois, ó aprendiza jovem
Das clássicas delícias,
A não pôr mais tristeza que um sorriso
No modo como vives.
Nasceste pálida, deitando a água
Da tua vã beleza
Sobre a estólida fé das nossas mãos
Medrosas de ter gozo
Demasiado preso à desconfiança
Que vem de teu saber,
Não para essa vã mnemónica
Do futuro fatal.
Façamos vívidas grinaldas várias
De sol, flores e risos
Para ocultar o fundo fiel à Noite
Dos nossos pensamentos
Curvado já em vida sob a ideia
Do plutónico jugo
Cônscias já da lívida esperança
Do caos redivivo.

R.Reis

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