segunda-feira, fevereiro 26, 2024

A Ilha Lacustre - Ezra Pound (Trad. Dirceu Villa)

 A ILHA LACUSTRE

Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me dêem na hora certa, eu imploro, uma pequena tabacaria
Com as caixinhas brilhantes
empilhadas com capricho nas prateleiras
E o cavendish de suave fragrância
o tabaco picado,
E o brilhante Virginia
avulso nas vitrines brilhantes,
E duas balanças sem muita gordura,
E as putas que chegam pra dois dedos de conversa, de passagem,
Pra jogar conversa fora, e dar um jeito no cabelo.
Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me emprestem uma pequena tabacaria,
ou me ponham em qualquer profissão
Salvo esta maldita de escrever,
onde é preciso ter miolos todo o tempo.

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THE LAKE ISLE
O God, O Venus, O Mercury, patron of thieves,
Give me in due time, I beseech you, a little tobacco-shop,
With the little bright boxes
piled up neatly upon the shelves
And the loose fragrant cavendish
and the shag,
And the bright Virginia
loose under the bright glass cases,
And a pair of scales not too greasy,
And the whores dropping in for a word or two in passing,
For a flip word, and to tidy their hair a bit.
O God, O Venus, o Mercury, patron of thieves,
Lend me a little tobacco-shop,
or install me in any profession
Save this damn’d profession of writing,
where one needs one’s brains all the time.


VILLA, Dirceu. Ezra Pound. Lustra. São Paulo: Demônio Negro/Annablume, 2011. 


domingo, fevereiro 25, 2024

A água-furtada (Ezra Pound, trad. Mário Faustino)

 Vamos, lamentemos os que estão em  melhor

          situação que a nossa. 

Vamos, meu amigo, e lembra-te:

    os ricos têm mordomos e não têm amigos,

E nós temos amigos e não temos mordomos.

Vamos, lamentemos os casados e os solteiros.


A Aurora entra com pés pequenos,

    Pavlova dourada,

E estou perto do meu desejo.

E a vida não tem nada melhor

Que esta hora de claro frescor,

    a hora de acordar juntos. 


(LUSTRA, 1916) 


Fonte:

CAMPOS,A; CAMPOS, H.; FAUSTINO, M.; GRÜNEWALD, J.L. PIGNATARI, D. (org., trad.) Ezra Pound: Poesia. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora da UnB, 1983. 


domingo, fevereiro 04, 2024

Catulo, 37 - Tradução de Rafael Frate

Catulo na casa de Lésbia. Lawrence Alma-Tadema (1865). 


Taberna suja e todos camaradas,

nono pilar dos gêmeos de barrete,

acham que só vocês têm uma pica,

que só vocês podem comer qualquer

menina e achar que os outros são uns bodes?

Ou porque bem sentados, comportados,

cem ou duzentos idiotas, não acreditam

que eu ouse arrombar duzentos machos?

Mas acreditem: pois hei de escrever

na frente da taberna pixos a cada um de vocês.

Pois minha menina, que fugiu de meu regaço,

amada tanto quanto nenhuma há de ser,

por quem lutei tantas tão grandes batalhas,

está sentada aí. Vocês, gente de bem,

todos a amam, certo, o que é indecente,

todos miúdos, metelões de putas pelos becos.

E dentre todos cabeludos, mais que todos, você,

da Celtibéria coelhuda filho,

Egnácio, que a espessa barba torna belo

e tem os dentes esfregados em mijo ibérico.