"Princesa Nukata", 1909 de Kajita Hanko (1870-1917) |
KOI
Entre os irmãos rivais
Imperadores Tenmu e Tenji
a Princesa Nukata
poeta e maga
com seus olhos de outono
nostálgicos da visão do Monte Miwa
brilha indecisa
como um brocado de prata
na seda evasiva ao tacto
TRANSPOSIÇÕES
Man'yoshu 1:16
do casulo do inverno
sai a primavera
aves que não cantavam
cantam agora
flores que não floriam
agora florescem
no flanco da montanha
difícil colher flores
difícil escolhê-las
onde a relva é espessa
no outono: sou eu mesma.
posso vê-las
as folhas vermelhas
vê-las e colhê-las
deixo apenas as verdes
nas árvores com pena
- meu pesar é só este -
no outono: sou eu mesma.
Man'yoshu 1:17
aprazível como sakê
o Monte Miwa
alegria da encosta azul-verde
até que se esvaeça
entre as colinas de Nara
a ondulante:
para além das voltas
sem conta do caminho
vou indo e sem cessar
me volto para vê-lo
uma vez outra vez
volto o olhar distante
nuvens sem coração
que discórdia vos leva
a ocultá-lo de mim?
Man'yoshu 1:18
assim o Monte Miwa
se oculta
de mim:
nuvens de coração cordato
é sensato ocultá-lo?
Man'yoshu 1:20
passeavas pela púrpura
dos campos de violetas
passeavas pelo parque proibido:
os guardas da campina terão visto
que acenavas para mim com tua manga?
FONTE: CAMPOS, Haroldo de. "Nukata no Okimi: a princess poet and magician in the Man'yoshu" in Miner, Earl & Dev, Amiya (orgs.) The renewal of song: renovation in lyric conception and practice. Calcutta: Seagull books, 2000.