domingo, junho 30, 2019

Aristóteles: Hino à Virtude (fr. 842 PMG)

ἀρετά, πολύμοχθε γένει βροτείῳ,
   θήραμα κάλλιστον βίῳ,
σᾶς πέρι, παρθένε, μορφᾶς
   καὶ θανεῖν ζαλωτὸς ἐν Ἑλλάδι πότμος
καὶ πόνους τλῆναι μαλεροὺς ἀκάμαντας·
   τοῖον ἐπὶ φρένα βάλλεις
καρπὸν ἰσαθάνατον χρυσοῦ τε κρεῖσσον
καὶ γονέων μαλακαυγήτοιό θ' ὕπνου.
σεῦ δ' ἕνεκεν <καὶ>ὁ Διὸς
   Ἡρακλέης Λήδας τε κοῦροι
 πόλλ' ἀνέτλασαν ἔργοις
   σὰν ἀγρεύοντες δύναμιν·
σοῖς δὲ πόθοις Ἀχιλεὺς Αἴ-
   ας τ' Ἀίδαο δόμους ἦλθον·
σᾶς δ' ἕνεκεν φιλίου μορφᾶς Ἀταρνέος
   ἔντροφος ἀελίου χήρωσεν αὐγάς.
τοιγὰρ ἀοίδιμος ἔργοις,
    ἀθάνατόν τε μιν αὐξήσουσι Μοῦσαι,
Μναμοσύνας θύγατρες, Δι-
   ὸς ξενίου σέβας αὔξου-
   σαι φιλίας τε γέρας βεβαίου.

Virtude, tão custosa à raça humana,
   és o melhor espólio em vida;
   por ti, donzela, por tua beleza,
   até a morte é destino invejável na Grécia
e suportar terríveis incansáveis penas;
no espírito infundes tal
   fruto imortal, melhor que ouro,
que nossos pais, que o lânguido sonhar.
Por tua causa o brilhante
   Héracles e os meninos de Leda
muito em trabalhos padeceram,
   pois caçavam teu poder;
desejando-te, Aquiles e Ájax
   à casa de Hades desceram;
Por tua amada beleza, o filho da terra
   de Atarneu* desolou a luz do sol.
Por isso é celebrado por seus feitos,
   e imortal o exaltarão as Musas,
as filhas de Memória, exaltando
   a grandeza de Zeus Hospitaleiro
   e o firme privilégio da amizade.

Tradução: Rafael Brunhara

*Segundo a fonte deste poema (Ateneu, Banquete dos Eruditos, Livro 15) o poema foi composto para Hérmias, tirano da cidade de Atarneu, na Ásia Menor. Ex-aluno da academia de Platão, quando da morte deste, Hérmias convida Aristóteles para se estabelecer em sua corte e oferece a mão de sua filha adotiva Pítia. Aristóteles lá permanece entre 347 a 345 a.C. e em 342 a.C., já na Macedônia, quando se encarregava da educação de Alexandre, recebe a notícia da morte do amigo nas mãos do rei Persa Artaxerxes III. Quando enfim regressa a Atenas, Aristóteles ergue um monumento no Liceu em homenagem ao amigo e estabelece o costume, nos jantares, de cantar este Hino à Virtude (ou Excelência, ἀρετά) em honra ao falecido amigo.

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