Os poetas cíclicos, que narravam os feitos da saga de Troia adjacentes à Ilíada e à Odisseia, parecem nunca ter gozado de muito prestígio, sendo frequentemente criticados como meros imitadores de Homero ou muito prolixos -- crítica que já se vê desde a Poética de Aristóteles. Não é de se admirar que não tenha sobrado quase nada de seus poemas. Neste aqui, um poeta obscuro de nome Poliano critica os cíclicos e declara sua preferência por outro gênero, a elegia: diferente dos poetas dos ciclos épicos, com sua narrativa prolixa e rente à Homero, na elegia, diz, ele seria não mais do que um homem poeticamente inapto, "uma orelhuda besta" se roubasse versos de seus colegas Calímaco ou Partênio. Mas o curioso é que ele afirma isso...roubando um verso de Calímaco!
Esses cíclicos, que ficam falando “e então, depois...”,
eu odeio, larápios são de verso alheio.
É por isso que prefiro a elegia: pois nada tenho
p’ra roubar de Partênio ou mesmo de Calímaco;
“igual a orelhuda besta” eu seria, se então grafasse:
“pálidas andorinhas que dos mares vêm” .
Mas eles roubam Homero tão descaradamente
que já grafam até “A ira, Deusa, celebra”.
Τοὺς κυκλίους τούτους τοὺς “αὐτὰρ ἔπειτα” λέγοντας
μισῶ, λωποδύτας ἀλλοτρίων ἐπέων.
καὶ διὰ τοῦτ' ἐλέγοις προσέχω πλέον· οὐδὲν ἔχω γὰρ
Παρθενίου κλέπτειν ἢ πάλι Καλλιμάχου.
“θηρὶ μὲν οὐατόεντι” γενοίμην, εἴ ποτε γράψω,
εἴκελος, “ἐκ ποταμῶν χλωρὰ χελιδόνια.”
οἱ δ' οὕτως τὸν Ὅμηρον ἀναιδῶς λωποδυτοῦσιν,
ὥστε γράφειν ἤδη “μῆνιν ἄειδε, θεά.”
[Tradução: Rafael Brunhara]