segunda-feira, novembro 03, 2008

Hino Homérico a Dioniso (tradução de Jaa Torrano)

Em volta de Dioniso, de Sêmele magnissigne o filho
lembrar-me-ei como luziu na praia do sal infatigável
sobre o quebra-mar na imagem de jovem homem
no primeiro viço e bela circunvolvia a cabeleira
sombria e manto sobre fortes ombros ele tinha
purpúreo e rápido da nau de bons bancos homens
piratas adiantaram-se velozes sobre o víneo mar,
eram tirsenos, levou-os maligno lote, quando o viram,
acenaram entre si, rápido saltaram, de súbito agarraram,
puseram-no em sua nau, jubilosos em seu coração.
parecia-lhes ser filho dos nutridos por Zeus reis
e assim quiseram prendê-lo com cadeias dolorosas
e não o seguravam cadeias, vimes de longe caíam
das mãos e dos pés, ele com doce sorriso contemplava
com olhos sombrios, mas o piloto, quando o notou,
já aos seus companheiros conclamou e assim falou:
- Numinosos, a que Deus aqui agarrastes e prendestes
poderoso? Nem pode o navio vos levar benéfico
pois ou Zeus é este, ou o de argênteo arco Apolo,
ou Poseidáon, porque não aos mortais homens
é símil, mas aos Deuses que têm o palácio Olímpio.
Eia! deixemo-lo sobre a firme terra negra
já e não lanceis mão sobre ele que não por cólera
suscite sobre nós dolorosos ventos e múltiplo tufão.
Assim falou e o chefe disse em hedionda palavra:
- Numinoso, vê o vento e iça as velas do navio,
tomadas todas as armas, isto aliás é para homens,
pretendo partir ou para o Egito ou para Chipre,
ou para os Hiperbóreos, ou para mais longe e por fim
dirá um dia amigos dele e todos os seus bens
e seus irmãos, quando o lançou em nós o Nume.
Assim disse e vela e vela içaram-se do navio,
soprou o vento o meio da vela e em volta as armas
retesaram-se e logo luziram-lhes mirados atos:
vinho primeiro através do veloz navio negro
suavipotável soniflui bem olente e erguia-se odor
imortal e a miração pegou a todos os nautas ao virem
e já no ápice da vela estendeu-se toda
a videira aqui e ali e suspendiam-se muitos
cachos e em volta da vela enrolou-se a negra hera
luxuriosa de flores e gracioso o fruto sobre-ergueu-se
e todas as cavilhas tinham coroas e quando viram
o navio já então doravante mandavam o piloto
levar para a terra e ele leão se lhes fez no navio
terrível sobre a proa e grandibramia e no meio deles
ursa ele fez do pescoço veloso ao luzir os sinais
e ela estacou-se ardente e leão sobre o alto banco
terrível suspicaz olhante e para a popa fugiram
e em volta do piloto que prudente espiríto tinha
estacaram-se aturdidos, ele rápido ergueu-se
e agarrou o chefe e para fora ao evitarem a má parte
todos à uma pularam, quando viram, no sal divino
e golfinhos nasceram, mas do piloto teve piedade
e deteve-se e fê-lo ser todo feliz e disse palavra:
- Coragem!, divino guia, grato ao meu ânimo,
sou eu Dioniso magnifremente que gerou mãe
Cadméia Sêmele de Zeus em amor desposada.
- Saudações, filho de Sêmele formosa, nem há como
de ti esquecido com doçura mundificar-se o cantar.


Fonte:

Palco e Platéia, São Paulo,n.1. Dezembro de 1986. (p.4-5)

Um comentário:

Francisco Marshall disse...

Hino fundamental em belíssima tradução.