sábado, outubro 26, 2019

Alceu - Fragmentos 45, 50, 58, 352


Fragmento 45
[Papiro de Oxirrinco 1233, fr.3 8-15, 9.9, 18 +2166 (b) 2]
Ó Hebro, dos rios o mais belo junto ao Eno,
[deságuas no] purpúreo mar
surgindo em terra trá[cia]...
...cav[alos]?
...
e muitas virgens te visitam
...as coxas, com mãos tenras,
]a encantadas por ti, qual bálsamo
tua di[vi]na água

[Escoliasta a Teócrito 7, v.112]
Alceu diz que o Hebro é o mais belo dos rios, que ele se precipita pela Trácia saindo do Monte Ródope e deságua na cidade de Eno.


O poema é um hino ao rio Hebro, atual Maritza. O rio corria pela Trácia e desembocava na cidade de Eno (atual Enez, na Turquia). Era uma colônia de Mitilene no séc. VI a.C. As menções ao rio Hebro e à Trácia sugerem que o poema poderia se desenvolver como uma narração do mito de Orfeu - figura arquetípica e fundadora da poesia - cuja cabeça decepada foi lançada ao rio e foi dar em Lesbos. Cabe registrar o erotismo presente na segunda estrofe, potencializado pela linguagem extremamente gráfica das jovens meninas que se banham e deixam-se acariciar pelo fluir das águas do Hebro - suaves e embelezadoras como um bálsamo. 

Fragmento 50
[Papiro de Oxirrinco 1233, fr.32, 2-7]
Pela tão s[ofrida cabeça verte unguento
e pelo gri[salho peito]...
que eles bebam, os males[ (deuses?)
deram, e com outr[os]
h]om[e]ns, mas aquele que não...
... dizes perec[er]


[Plutarco, Questões Conviviais, 647e, iii..3]
Alceu  testemunha (sc. de que se untava o peito com unguento) ao exortar derramar unguento pela tão sofrida cabeça e pelo grisalho peito.

Fragmento 58* 
Papiro de Berlim 9810, séc. II d.C (publicado por Schubart e Wilamowitz em 1907)
], morrer[
]...nas casas
...
r]eceber
]...nem...
...
]n a concha na enorme ânfora
]esforçado, me entendas nisto...
]...de outro modo
]...ébrio tu cantes[
]poupamos o mar, oh sk...ron[
]...frio da manhã...levantamo-nos(?)[
]...o mais rápido...[
]...em remos[?] pegamos...[
]...às paredes[?]
]...e mais alegres
]...com propício coração[
]o trabalho seria beber de um só trago[
]...as mãos...longe de minhas roupas
...
]...coloca...
]...a canção...
]vamos! Para mim isto[
] ateia(?) enorme fogo
]colocas...

O sentido exato do poema se perdeu. É possível que  fosse uma exortação a deixar o combate e tomar parte de uma navegação ou de um combate naval. Parece exortar a beber "de um só trago", i.é, sem interrupção - prática comum entre os bárbaros trácios. 

Fragmento 352*
Ateneu, Banquete dos Eruditos, I 22 e-f
Bebamos, pois o astro faz sua volta.

* O astro é Sírio, maior estrela da Constelação de Cão Maior.  No verão (geralmente entre meados de julho e de agosto) o sol nascia e se punha simultaneamente com Sírio e  tinha-se a Canícula ("dias de cão") - os dias mais quentes do ano. Para combatê-la, Alceu exorta ao vinho.

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